Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Várias maneiras de fazer a oração. Quais são?


Continuamos o tema da oração.  Todos sabemos que existem  muitas maneiras de rezar. A maioria das pessoas, que se considera religiosa, cultiva alguma ou algumas formas de oração. Cada pessoa tem, certamente, o seu jeito de sentir, interpretar e realizar a  sua necessidade ou o seu desejo de conversar com Deus. Para alguns, talvez, isso é simples e traz muita satisfação e paz.  Mas, para outros, talvez, não seja tão simples assim. 

O tema da  oração parece  fácil e “esgotado” para  muita gente.  Entretanto,  para outros falta de formação, experiência e informação, e por isso sentem insegurança, confusão e, às vezes, até ignorância  quando o  assunto (ou a necessidade) é a oração.

Mas, talvez seja possível entender um pouco melhor esse processo de fazer uma boa oração. Talvez existam detalhes, que nos já escaparam da nossa memória, ou, outras maneiras, das quais ainda não tivemos conhecimento. Quais são as outras formas de oração que poderíamos experienciar?

É sobre isso trata agora o texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹.  A leitura é muito agradável e fácil.
Não deixe de ler.
WCejnog

[Para aproveitar melhor a abordagem deste tema, é aconselhável  ler desde o início todas as postagens que se referem a este assunto (começo no dia 6 de julho de 2012: Reflexões sobre a oração)].
(5)

A oração do momento

Depois de tudo o que foi dito até  agora (os textos das postagens anteriores), alguém pode dizer que tem situações em que não  é possível livrar-se dos assuntos ou das coisas, que nos prendem fortemente e, talvez nesses casos, seria melhor esquecer a  oração, ou deixar para depois...

Não, porque um estado assim, às vezes, pode durar muito tempo. Mas, por outro lado,  seria difícil alguém, por exemplo, muito agitado e  irado, querer passar logo em  seguida para louvar a Deus. Isso seria uma contradição e afetaria até o seu organismo. Neste caso é melhor optar por outro tipo de oração. Começamos nos dirigir a Deus, falando justamente do que está acontecendo com a gente: “Senhor Deus, olhe para mim. Estas  coisas envolveram-me com toda a força. Não consigo me livrar delas. O que eu faço? Sou assim, meu Deus. Vós, porém, vês  quanto ainda me falta...”

E quando não tem nada o que poderia animar alguém a fazer uma  oração? - uma pessoa com raiva  de  alguém, ou algum encontro, experiência, alguma coisa – tudo isso pode nos mostrar a verdade de Deus.  Jesus também, na base de tudo o que via, formulava as parábolas que faziam os ouvintes dirigirem o olhar para Deus. Por isso também este  tipo de oração não exige praticamente nenhuma preparação. Esta é uma oração de cada situação de vida,  e pode-se fazê-la várias vezes ao dia, dirigindo-se brevemente a Deus. É a oração do momento: uma  oração do homem que vive correndo,  envolvido com as coisas, estressado. Talvez por isso ela possa ser considerada a oração dos dias atuais.

A oração cotidiana

O que muito afasta as pessoas descrentes é a fé, que separa a vida diária da oração, o trabalho da devoção. Algo tipo “duplo sistema”, onde um com o outro não tem nada em comum. Um simples dia de vida significa um negócio rentável, ou a luta pela sobrevivência e, somente à margem disso faz-se de manhã, à noite e no domingo as orações consideradas obrigatórias.  Só que isso nada contribui para a vida normal ficar diferente. A fé deste tipo é impotente e sem nenhuma influência; é uma co-existência da fé com a falta de fé. Cristo disse uma vez que precisa rezar em todo tempo: “Vigiai sempre e orai para escapardes a tudo que há de vir e comparecerdes diante do Filho do homem”.  (Lc 21, 36)

Certamente isso não significa que por causa da oração devemos largar o nosso trabalho. As palavras de Cristo só podem significar uma coisa: que a  oração e o trabalho deveriam se penetrar de tal jeito, que nenhum deles deveria ser  prejudicado. Quando assim entendermos essas palavras, a oração, praticamente, significará “viver da fé”. Mas, como isso sucede?

Na verdade, aqui, isso quer dizer que Jesus Cristo precisa ser o ponto de referência em todas as nossas ações decisivas e que  a Ele devemos perguntar com  frequência: “O que queres que eu faça?” (compare At 9,6), Com Ele, então, precisamos entrar na nossa vida, ao nosso trabalho profissional, na nossa casa.

De  manhã podemos rezar: “Olhe, Senhor,  eís-me aqui,  venho para fazer a tua vontade”. (Hbr 10,7). Tentamos conhecer essa vontade de Deus no dia que começou, tentamos olhar para as pessoas, as coisas, o trabalho, para as coisas alegres e desagradáveis; que eram previstas,  mas também tentamos dizer “sim” em relação às imprevistas. Isso vai  mudar o dia para nós. Normalmente só podem nos  derrubar as coisas, que caem em cima de nós de repente, e nós reagimos sem pensar. Quando, porém, a oração passa a fazer parte  sólida em nossa vida, tentamos agir do jeito como Jesus Cristo agiria.  O que Ele faria nessa situação? Qual é o melhor caminho?

Exemplo: Antes de entrar para o quarto de um enfermo, a enfermeira pensa um pouco sobre o paciente. Talvez ontem  encontrou-se com os parentes dele? Isso  já basta para ela perceber o por que o paciente não demonstra grande vontade de viver. A partir deste momento ela não olha para ele apenas como “apendicite do Nr 7”, mas para o homem com todas as suas questões e angustias. Será que o paciente não sentirá logo esse jeito diferente, quando a enfermeira entrar agora o seu  quarto?

Durante dia é importante para termos essa atitude viva de sempre direcionar tudo a Deus, ao Cristo. Podem nos ajudar aqui as pequenas frases de oração, tipo: “Senhor, ajudai-me que eu faça o que é reto”; - “Senhor, o que queres que eu faça?”.   Trata-se, de modo  geral, do amor que deveríamos sempre cultivar. Tentamos imaginar como conversaria e agiria o próprio Cristo. Frequentemente isso não será fácil. Algumas vezes precisaremos dizer: “Senhor, perdoai-me”; outras – precisaremos ser duros: “Afaste-te de mim, satanás!”. Alguém precisará, assim como Jesus, aguentar dias  no deserto ou horas em Getsêmani (Monte das Oliveiras). Serão  dias de solidão, abandonados por Deus,experiência de sofrimento e medo.  Outra pessoa poderá sentir a alegria, como Jesus na festa em Caná, e, sentindo-se motivada, tentará levar ajuda aos outros.

De noite, como fazia Jesus, podemos ir ao “monte da oração”, onde analisamos o dia  que passou, olhamos, à distância, para  nós mesmos – o que foi bom, onde decepcionamos... Mas, também as misérias e pobreza dos outros, dos quais tomamos o conhecimento, e também esse sofrimento anônimo, cuja existência apenas podemos imaginar.

Na oração, tudo o que diz respeito a nós, entregamos nas mãos de Deus e deixamos que as coisas passem, ou, então, procuramos uma saída melhor para o dia de amanhã. Tudo isso ajuda a cultivar uma oração e a evitar que  a nossa oração seja simples esquema, puramente formal.

Rezar com a ajuda da Bíblia.

Para podermos adquirir a facilidade em fazer uma boa oração, precisamos constantemente ler a Bíblia e nela procurar a  iluminação. Não se trata, aqui, de ler no sentido intelectual, como por exemplo, quando lemos e pesquisamos a Bíblia para depois elaborar algum artigo sobre um determinado tema. Mas, trata-se de ler para ouvir e orar. Já que a oração é  uma “conversa com Deus”, então também Ele deve ter espaço para falar. Aliás, Ele já falou para nós, e a Bíblia é uma das fontes, onde encontramos a sua palavra.

A oração torna-se, neste  caso, a nossa resposta. Lemos algumas palavras de Cristo e perguntamos: “Senhor, o que dizes fala também a meu respeito e não só às pessoas daquela época. O que queres, pois, dizer para mim com essas palavras?”

No caso de fatos bíblicos, curas e  ações de Jesus: queremos conhecer o relato, tentamos entender e vivenciar esses fatos de modo espiritual, ao mesmo tempo que nós nos misturamos na multidão e novamente meditamos: “O que isso  significa para mim? Essas palavras se dirigem também para mim. Será que não sou eu esse surdo – mudo, paralítico, enfermo? Daqui,  é um só passo para eu chamar: “Senhor, faça para que eu veja, ouça...”. A  oração deste tipo chama-se a reflexão mental sobre as palavras, acontecimentos. Refletimos sobre isso tudo e chegamos a dialogar  com Deus.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 303-306)²
Continua...
_____________________________________
¹  Ferdinand Krenzer  foi um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

²  Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

 
******************


Nenhum comentário:

Postar um comentário