Uma das frequentes dúvidas e, com isso, também dificuldades dos homens e mulheres do
nosso tempo, principalmente dos adolescentes e jovens, refere-se à questão de
oração. Sabemos que a oração para o ser humano é o meio de se comunicar com
Deus, de conversar com Ele, portanto deveria fazer parte da vida de cada
cristão e, também, de todo ser humano que se sente peregrino neste mundo.
Mas, na prática, isso não é tão fácil para muitos de nós. Hoje em dia,
a vida agitada, cheia de atividades e compromissos não deixa espaço para a oração, nem sobra tempo – dizem as pessoas. Outras, cultivam
a oração, mas gostariam de saber mais sobre ela. E o que pensar sobre as formas
de “oração à mostra”, que algumas pessoas praticam ostensivamente, contribuindo
para afastamento e indignação de outros, gerando para eles mais dificuldades? O que, na sua essência, é a oração? Como ela
deveria ser para ser verdadeira?
Sobre este tema serão as próximas
reflexões que trago para o blog Indagações. São os textos de autoria de
Ferdinand Krenzer¹.
Começamos com o texto que fala do “por
que rezar?” e sobre o que é fundamental na oração. A leitura é fácil. Não deixe de ler.
WCejnog
“O silêncio não está
nos topos dos montes;
o barulho não está
nos mercados das cidades;
tanto um como outro está no coração da pessoa”
(Sabedoria Oriental)
(1)
Por que rezar?
Por que rezar?
Para muitas
pessoas a oração e participação dos ritos litúrgicos significam a perda de
tempo. Até mesmo os homens de fé facilmente caem na tentação de dar maior valor às outras
coisas, a custo da oração. Justificam
isso com falta de tempo, falta de “clima” interior, mas também que não
conseguem unir os acontecimentos e a correria do dia a dia com Deus.
Porém, atrás
de todas essas dificuldades esconde-se também a diminuição da consciência da
fé. Para o ser humano contemporâneo, comparando com as gerações passadas, fica
mais difícil entrar na conversa com Deus. Hoje, podemos já explicar o mundo e
fazê-lo dependente do homem. Por isso, na vida cotidiana, pedir a Deus alguma
coisa parece desnecessário. Precisa acrescentar ainda aqui o fato que muita
gente não gosta, ou até fica
escandalizada, quando se depara com o modo muito formal e superficial de oração
de muitos cristãos, e com isso, às
vezes, bloqueia mais ainda o caminho
para a fé e para a oração verdadeira e
intensiva.
Mas, mesmo
assim, a oração é algo próprio do ser
humano, porque todos nós somos criaturas de Deus. Quem não reza, aos poucos
deixa de se voltar na direção de Deus e torna-se por isso internamente cada vez
menos autêntico. Porém, a oração liberta a pessoa de si mesma – até mesmo,
quando ela é uma súplica – e não lhe permite perder da vista o sentido certo da
sua vida.
Também nas religiões não cristãs a oração frequentemente está no mais alto
nível. Sobretudo o povos orientais rezam em grande recolhimento e concentração,
o que pode ser exemplo para os cristãos.
Para eles, rezar é o mais importante ato de cada pessoa adulta, e é mais
importante entre todas as outras atividades diárias.
Cristo nos ensina
a rezar
Jesus era o
mestre da oração. Em que espírito nós
deveríamos rezar, mostra-nos a sua oração no Monte das Oliveiras, na véspera da
sua paixão e morte. Chegando ao local,
Jesus dirigiu-se aos seus discípulos: “Orais, para que não caírdes na
tentação”. Em seguida afastou-se deles, caiu aos joelhos e rezou: “.... que se
cumpra a vossa vontade”(Lc 22, 39nn).
Deste jeito também nós deveríamos rezar. Rezando corretamente, o ser humano não quer impor a sua vontade e obrigar Deus a ceder. O homem não espera que em sua necessidade Deus realizará o milagre, mas submete-se à vontade d’Ele: quando e como Ele quiser nos atender. Rezar com entrega total a Deus é justamente isso. Deus ouve-nos sempre, no entanto, realiza os nossos pedidos, frequentemente, de forma diferente que nós esperamos, porque sabe melhor que nós o que é bom para nós. Por isso a nossa oração deveria ser repleta de confiança. Muitas vezes somente depois de muitos anos vemos que estava certa a maneira com que Deus atendeu a nossa prece, não do jeito que nós esperávamos.
Deste jeito também nós deveríamos rezar. Rezando corretamente, o ser humano não quer impor a sua vontade e obrigar Deus a ceder. O homem não espera que em sua necessidade Deus realizará o milagre, mas submete-se à vontade d’Ele: quando e como Ele quiser nos atender. Rezar com entrega total a Deus é justamente isso. Deus ouve-nos sempre, no entanto, realiza os nossos pedidos, frequentemente, de forma diferente que nós esperamos, porque sabe melhor que nós o que é bom para nós. Por isso a nossa oração deveria ser repleta de confiança. Muitas vezes somente depois de muitos anos vemos que estava certa a maneira com que Deus atendeu a nossa prece, não do jeito que nós esperávamos.
Porém, a
maioria das pessoas que começam a rezar, principalmente quando encontram-se
numa necessidade ou apuros, esquece de
algo absolutamente decisivo: é o fato que ao começar a rezar entra-se num mundo,
onde as leis são diferentes das leis que temos aqui na terra.
Porque as pessoas, ao rezar, entram no processo, do qual resultado é incerto.
Comunicam-se com Deus sem saber que obrigatoriamente devem apresentar também a
sua parte, isto é, a fé. Suplicam e pedem, mas não têm fé. Discretamente querem
impor a Deus a sua vontade e com isso justamente demonstram que não têm fé.
O que, então,
acontece quando uma pessoa reza com a fé?
Ela vê Deus, a sua realidade, o seu mais profundo conhecimento de tudo,
a sua sabedoria, o seu amor. Quem reza
com fé se submete, e o seu destino, a Deus. Dirige a Deus também as preces,
porém, nunca perde Deus de vista (E. Kirchgassner). (...)
(KRENZER, F. Taka
jest nasza wiara, Paris, Éditions Du
Dialogue, 1981, pp. 299-300)²
Continua
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¹
Ferdinand Krenzer é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado
e escritor.
²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer
fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a
entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis
desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são
tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma
polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”.
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