Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Reflexões sobre a oração.


 
Uma das frequentes dúvidas e, com isso,  também dificuldades dos homens e mulheres do nosso tempo, principalmente dos adolescentes e jovens, refere-se à questão de oração. Sabemos que a oração para o ser humano é o meio de se comunicar com Deus, de conversar com Ele, portanto deveria fazer parte da vida de cada cristão e, também, de todo ser humano que se sente peregrino neste mundo.

Mas, na prática, isso não  é tão fácil para muitos de nós. Hoje em dia, a vida agitada, cheia de atividades e compromissos não deixa espaço para a oração, nem sobra tempo – dizem as pessoas. Outras, cultivam a oração, mas gostariam de saber mais sobre ela. E o que pensar sobre as formas de “oração à mostra”, que algumas pessoas praticam ostensivamente, contribuindo para afastamento e indignação de outros, gerando para eles mais dificuldades?  O que, na sua essência, é a oração? Como ela deveria ser para ser verdadeira?

Sobre este tema serão as próximas reflexões que trago para o blog Indagações. São os textos de autoria de Ferdinand Krenzer¹. 
Começamos com o texto que fala do “por que rezar?” e sobre o que é fundamental na oração. A leitura é fácil.  Não deixe de ler.
WCejnog


“O silêncio não está
nos topos dos montes;
o barulho não está
nos mercados das cidades;
tanto um como outro está no coração da pessoa”
(Sabedoria Oriental)
(1)

Por que rezar?

Para muitas pessoas a oração e participação dos ritos litúrgicos significam a perda de tempo. Até mesmo os homens de fé facilmente caem  na tentação de dar maior valor às outras coisas,  a custo da oração. Justificam isso com falta de tempo, falta de “clima” interior, mas também que não conseguem unir os acontecimentos e a correria do dia a dia com Deus.
Porém, atrás de todas essas dificuldades esconde-se também a diminuição da consciência da fé. Para o ser humano contemporâneo, comparando com as gerações passadas, fica mais difícil entrar na conversa com Deus. Hoje, podemos já explicar o mundo e fazê-lo dependente do homem. Por isso, na vida cotidiana, pedir a Deus alguma coisa parece desnecessário. Precisa acrescentar ainda aqui o fato que muita gente não  gosta, ou até fica escandalizada, quando se depara com o modo muito formal e superficial de oração de  muitos cristãos, e com isso, às vezes, bloqueia  mais ainda o caminho para a fé e para a  oração verdadeira e intensiva.
Mas, mesmo assim, a  oração é algo próprio do ser humano, porque todos nós somos criaturas de Deus. Quem não reza, aos poucos deixa de se voltar na direção de Deus e torna-se por isso internamente cada vez menos autêntico. Porém, a oração liberta a pessoa de si mesma – até mesmo, quando ela é uma súplica – e não lhe permite perder da vista o sentido certo da sua vida.
Também  nas religiões não cristãs a  oração frequentemente está no mais alto nível. Sobretudo o povos orientais rezam em grande recolhimento e concentração, o que  pode ser exemplo para os cristãos. Para eles, rezar é o mais importante ato de cada pessoa adulta, e é mais importante entre todas as outras atividades diárias.

Cristo nos ensina a rezar

Jesus era o mestre da oração.  Em que espírito nós deveríamos rezar, mostra-nos a sua oração no Monte das Oliveiras, na véspera da sua paixão e morte. Chegando ao  local, Jesus dirigiu-se aos seus discípulos: “Orais, para que não caírdes na tentação”. Em seguida afastou-se deles, caiu aos joelhos e rezou: “....  que se  cumpra a vossa vontade”(Lc 22, 39nn).  

Deste jeito  também nós deveríamos rezar. Rezando corretamente,  o ser humano não quer  impor a sua vontade e obrigar Deus a ceder. O homem não espera que em sua  necessidade Deus realizará o milagre, mas submete-se à vontade d’Ele: quando e como Ele quiser nos atender. Rezar com entrega total a Deus  é justamente isso. Deus ouve-nos sempre, no entanto, realiza os nossos pedidos, frequentemente,  de forma  diferente que nós esperamos, porque sabe melhor que nós o que  é bom para nós. Por isso a nossa oração deveria ser repleta de confiança. Muitas vezes somente depois de muitos anos vemos que estava certa a maneira com que Deus atendeu a nossa prece, não do jeito que nós esperávamos.

Porém, a maioria das pessoas que começam a rezar, principalmente quando encontram-se numa  necessidade ou apuros, esquece de algo absolutamente decisivo: é o fato que ao começar a rezar entra-se num mundo, onde as leis são diferentes das leis que temos aqui na terra. Porque as pessoas, ao rezar, entram no processo, do qual resultado é incerto. Comunicam-se com Deus sem saber que obrigatoriamente devem apresentar também a sua parte, isto é, a fé. Suplicam e pedem, mas não têm fé. Discretamente querem impor a Deus a sua vontade e com isso justamente demonstram que não têm fé.
O que, então, acontece quando uma pessoa reza com a fé?  Ela vê Deus, a sua realidade, o seu mais profundo conhecimento de tudo, a sua  sabedoria, o seu amor. Quem reza com fé se submete, e o seu destino, a Deus. Dirige a Deus também as preces, porém, nunca perde Deus de vista (E. Kirchgassner). (...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, pp. 299-300)²
Continua
__________________________________________
¹  Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.

²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

******************



Nenhum comentário:

Postar um comentário