Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 31 de março de 2012

Reflexão sobre Paixão de Cristo

Domingo de Ramos.  Começa a Semana Santa. É uma boa oportunidade para refletir com mais calma e, talvez, com mais profundidade sobre a Paixão de Jesus Cristo, que relembramos neste dia.

Trago aqui um texto  muito especial,  em forma de comentário, de M. Asun Gutiérrez,  sobre  A Paixão de Jesus Cristo  ( Mt 26,14 - 27,66). O texto é do ano passado, mas  continua de grande valor também hoje.

Quem estiver interessado, pode  abrir este texto em PPS, acessando o link http: //webnucleoverbita.cesjf.br/node/15424
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Reflexão para a Semana Santa

Começa a Semana  Santa, a semana da dor e do amor da morte e da vida. A primeira semana do novo mundo.
Jesus caminha decidido para a sua Páscoa, para a Páscoa completa, que é morte e ressurreição.
Como é possível conhecer Jesus de bem perto e vendê-l’O?  Essa atitude totalmente  incompreenssível, é única e exclusiva de Judas?

Os evangelhos sublinham a responsabilidade histórica de Judas, não a sua “culpa jurídica”, menos ainda a sua “condenação eterna”.

O grão de trigo está a cair na terra e vai morrer.
O fermento está a esconder-se na massa.
Para isso veio, para que todos possam comer, para que toda a massa se faça pão.
É uma ceia de despedida, a última das frequentes refeições que Jesus celebrou (Mc 2, 19; Lc 13,28-29; 14, 15-24), figura e anúncio do alegre banquete que nos há-de reunir a todos no reino de Deus.

Pedro demonstra demasiada segurança em si mesmo:  ainda que todos, eu não; eu sou melhor, a minha fé é mais forte…  como vou duvidar da minha fé?

Seguiremos com  Jesus mais além do entusiasmo inicial, quando os problemas se apresentarem e não sejamos de compreender Deus?

Jesus sempre, e mais ainda nas situações difíceis, refugia-se na oração.

Impressiona a solidão de Jesus. Em vão volta a procurar consolo nos seus amigos.
Jesus sabe assumir o inevitável com liberdade interior, pois crê profundamente
que em todo o momento, inclusive no mais duro, está nos braços amorosos  do Pai.
Jesus não vem pregar verdades gerais, religiosas ou morais, mas proclamar a chegada do Reino, a Boa Notícia do Evangelho.
É plenamente rejeitado: é escândalo para os dirigentes religiosos, perigo para o poder político, decepção para a maior parte do povo e desconcerto para os discípulos.

Jesus podia ter dado respostas eloquentes  e convincentes, podia ter pronunciado um grande discurso, podia ter posto em ridículo os seus acusadores.
A sua opção não é o triunfalismo.
Não pronuncia uma palavra contra ninguém.  O silêncio de Jesus é paciente, obediente, misericordioso.

Chave para entender o aparente silêncio de Deus.

O duplo julgamento, político e religioso, que Jesus padeceu foi a expressão da injustiça. Matavam-n’O  simplesmente porque punha em risco a credibilidade do sistema religioso, político e econômico. Não organizando revoltas populares, mas apresentando um projeto de vida alternativo onde as pessoas valiam por si mesmas e todas tinham os mesmos direitos.

Jesus dá-nos a sua própria tarefa: fazer valer  o direito das pessoas excluídas e pobres. Baixar da cruz as pessoas crucificadas.

Pedro entra em pânico quando o descobrem. Pronuncia as palavras mais tristes que pode dizer quem segue Jesus:  “não conheço esse homem”.

Podemos identificar-nos com Pedro.  Julgava-se com forças e falha.  Ao chorar amargamente começa a conhecer-se a si mesmo, a fundamentar-se mais na fidelidade e no amor de Jesus que na sua própria segurança. Jesus perdoa sempre, confia e dá uma nova oportunidade.

Nós, os crentes, afirmamos que a história de Judas e de Pedro – traidores , a dos discípulos – covardes , a de todos nós  (julgamo-nos melhores que eles?) - está nas mãos de Deus e Deus  a vai  fazendo, apesar de tudo, história de salvação.
Jesus crucificado leva-nos a esperar que também para os que crucificam, a última palavra será o perdão. “Pai, perdoa-lhes... (Lc23,34).

E, ao final de tudo, tão pouco existirá a separação que hoje se dá – e se deve dar - entre os que são crucificados e os que crucificam.
Esperamos que Deus encaminhará tudo para o seu Reino ainda que não saibamos quando nem como, mas que conta conosco para o alcançar.
Jesus apresenta-se sempre como alternativa de alguém ou de algo.

Quando não se tem o valor de optar só por Ele, fazendo calar outros ruídos, outros interesses, atua-se da mesma maneira que a multidão e Pilatos.  Abandonamo-l’O. Condenamo-l'O.
É fácil manipular a multidão.  Num momento pode gritar “hosana”, e noutro momento “crucifica-O”...
Será que é a minha postura? Quando me convém, aclamo e acolho Jesus, quando não me convém, rejeito-O...?

Jesus foi polêmico contra as normas de pureza,  perante toda a espécie de doutrinas e normas (Mc 7,1-23). Foi polêmico frente ao mais sagrado do sistema religioso: o templo.  Detivieram Jesus, julgaram-n’O, condenaram-n’O e O executaram pela sua vida, os seus ensinamentos e a sua conduta.

O seu exemplo nos convida  a termos uma maior coerência do Evangelho na nossa vida. A escolhê-l’O  a  Ele e não a Barrabás;a sermos pessoas solidárias como Simão, valentes e obstinadas como as mulheres de Jerusalém.

É um grito de verdadeira angústia, mas ao mesmo tempo expressa o desejo  de se agarrar a Deus contra toda a esperança, de reivindicar a Deus como meu Deus, ainda que, às vezes, O sinta ausente.  Dor e esperança.

Comunhão com os sofrimentos humanos e esperança no Deus da vida.
O “abandonado” abandona-se nas mãos do Pai.
“Jesus padece o inferno da ausência de Deus, para que assim não haja inferno
para mais ninguém”  (Von Balthasar).

“A morte de Jesus na cruz é a consequência duma vida no serviço radical à justiça e ao amor;  é seqüela da sua opção pelos pobres e os deserdados; da opção pelo seu povo, que sofria exploração e extorsão.   Neste mundo, toda a opção em favor da justiça e do amor é arriscar a vida”.   (E. Schillebeeckx) 
Para José de Arimatéia é tempo de falar, de pedir, de arriscar. Para as mulheres tempo de permanecer quietas como testemunhos silenciosos do crucificado. Breve chegará para elas o tempo de tomar a palavra e de ser as primeiras a anunciar a Ressurreição.

Jesus falava de Reino-Reinado e essa palavra provocava medo e punha alerta as autoridades. Quanto mais poder, mais medo.

Jesus torna-nos capazes de permanecermos junto aos túmulos do nosso mundo, para os abrir e anunciar que a morte não tem a última palavra. Anunciar que estamos destinados, não à cruz, mas à vida. Não ao sofrimento, mas à alegria perfeita.  O definitivo não são as “semanas santas” que vivenciamos, mas a Páscoa, a Ressurreição, a Vida.

UM DIA OLHASTE-ME

Um dia olhaste-me
como olhaste a Pedro.
Não te viram meus olhos,
mas senti que o céu
baixava até às minhas mãos.
Que luta de silêncios
travaram na noite
o teu amor e o meu desejo!


Um dia olhaste-me
e ainda sinto
a marca desse pranto
que me abrasou por dentro.
Ainda vou pelos caminhos
sonhando aquele encontro.
Um dia olhaste-me
como olhaste a Pedro.

(Ernestina de Champourcín)

Fonte:  o site das Monjas Benedictinas do Monteserrat - www.benedictinescat.com/montserrat

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BBB – é polêmico e constrangedor.


Diariamente nos defrontamos com as “notícias” e “atualidades” vinculadas pela mídia sobre o andamento do programa Big Brother Brasil (BBB), ao longo das semanas em que esse programa está acontecendo. Haja paciência! Parece até, que é “obrigação” de cada cidadão saber do tal programa e o que “rola” nele durante as 24 horas, o que é – na minha opinião - um absurdo!  Em nome da “liberdade”, “democracia”, “o estado laico” – tenta-se obrigar a todos a “consumir” ou “engolir” o que nada tem de bom e de valor. Em embalagem sofisticada e moderna - vende se “bombom” que não presta. A verdade é que o motor que impulsiona toda essa “máquina” é  dinheiro, lucro, negócio...  Vale só isso e não importa mais nada.

Demorou muito, mas ultimamente levantaram-se algumas vozes mais fortes para  questionar e  protestar contra esses programas.  Enfim!  Alguns Bispos e Pastores, como também a nota da CNBB sobre isso; falam abertamente e com muita propriedade sobre esses abusos (abusos, sim!) da parte dos que tem poder econômico e para os quais a ética, a moral, os bons costumes – não significam nada.

Eu, particularmente, e a minha família, nunca assistimos nem acompanhamos programas desse tipo. Mas é lamentável a quantidade de tempo que esses programas ocupam na TV, sem falar das novelas. Argumentam que quem não quer assistir – pode escolher outra coisa. Não é verdade. A grande maioria do povo não tem “outras” coisas para escolher, não tem alternativa.  A TV  paga ainda é privilégio de uma minoria, e o resto do povo – tem somente alguns canais de TV e ainda de péssima qualidade. Restaria desligar o aparelho, só que os tempos mudaram e hoje em dia é muito complicado viver sem TV ligada. 

Os textos e artigos abaixo podem ser muito úteis  para quem procura entender toda essa questão, a fim de elaborar  e,  depois, assumir uma posição consciente. Mas é necessário ler com atenção todas as opiniões e confrontá-las com a sua consciência.

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Bispo da Igreja se manifesta sobre programa.

http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/28414-o-lixo-big-brother-bispo-da-igreja-se-manifesta-sobre-programa

Por Dom Henrique Soares, Bispo Auxilias da Arquidiocese de Aracajú-SE
A situação é extremamente preocupante: no Brasil, há uma televisão de altíssimo nível técnico e baixíssimo nível de programação. Sem nenhum controle ético por parte da sociedade, os chamados canais abertos (aqueles que se podem assistir gratuitamente) fazem a cabeça dos brasileiros e, com precisão satânica, vão destruindo tudo que encontram pela frente: a sacralidade da família, a fidelidade conjugal, o respeito e veneração dos filhos para com os pais, o sentido de tradição (isto é, saber valorizar e acolher os valores e as experiências das gerações passadas), as virtudes, a castidade, a indissolubilidade do matrimônio, o respeito pela religião, o temor amoroso para com Deus.

Na telinha, tudo é permitido, tudo é bonitinho, tudo é novidade, tudo é relativo! Na telinha, a vida é pra gente bonita, sarada, corpo legal… A vida é sucesso, é romance com final feliz, é amor livre, aberto desimpedido, é vida que cada um faz e constrói como bem quer e entende! Na telinha tem a Xuxa, a Xuxinha, inocente, com rostinho de anjo, que ensina às jovens o amor liberado e o sexo sem amor, somente pra fabricar um filho… Na telinha tem o Gugu, que aprendeu com a Xuxa e também fabricou um bebê… Na telinha tem os debates frívolos do Fantástico, show da vida ilusória… Na telinha tem ainda as novelas que ensinam a trair, a mentir, a explorar e a desvalorizar a família… Na telinha tem o show de baixaria do Ratinho e do programa vespertino da Bandeirantes, o cinismo cafona da Hebe, a ilusão da Fama… Enquanto na realidade que ela, a satânica telinha ajuda a criar, temos adolescentes grávidas deixando os pais loucos e a o futuro comprometido, jovens com uma visão fútil e superficial da vida, a violência urbana, em grande parte fruto da demolição das famílias e da ausência de Deus na vida das pessoas, os entorpecentes, um culto ridículo do corpo, a pobreza e a injustiça social… E a telinha destruindo valores e criando ilusão…

E quando se questiona a qualidade da programação e se pede alguma forma de controle sobre os meios de comunicação, as respostas são prontinhas: (1) assiste quem quer e quem gosta, (2) a programação é espelho da vida real, (3) controlar e informação é antidemocrático e ditatorial… Assim, com tais desculpas esfarrapadas, a bênção covarde e omissa de nossos dirigentes dos três poderes e a omissão medrosa das várias organizações da sociedade civil – incluindo a Igreja, infelizmente – vai a televisão envenenando, destruindo, invertendo valores, fazendo da futilidade e do paganismo a marca registrada da comunicação brasileira…

Um triste e último exemplo de tudo isso é o atual programa da Globo, o Big Brother (e também aquela outra porcaria, do SBT, chamada Casa dos Artistas…). Observe-se como o Pedro Bial, apresentador global, chama os personagens do programa: “Meus heróis! Meus guerreiros!” – Pobre Brasil! Que tipo de heróis, que guerreiros! E, no entanto, são essas pessoas absolutamente medíocres e vulgares que são indicadas como modelos para os nossos jovens!

Como o programa é feito por pessoas reais, como são na vida, é ainda mais triste e preocupante, porque se pode ver o nível humano tão baixo a que chegamos! Uma semana de convivência e a orgia corria solta… Os palavrões são abundantes, o prato nosso de cada dia… A grande preocupação de todos – assunto de debates, colóquios e até crises – é a forma física e, pra completar a chanchada, esse pessoal, tranqüilamente dá-se as mãos para invocar Jesus… Um jesusinho bem tolinho, invertebrado e inofensivo, que não exige nada, não tem nenhuma influência no comportamento público e privado das pessoas… Um jesusinho de encomenda, a gosto do freguês… que não tem nada a ver com o Jesus vivo e verdadeiro do Evangelho, que é todo carinho, misericórdia e compaixão, mas odeia o fingimento, a hipocrisia, a vulgaridade e a falta de compromisso com ele na vida e exige de nós conversão contínua! Um jesusinho tão bonzinho quanto falsificado… Quanta gente deve ter ficado emocionada com os “heróis” do Pedro Bial cantando “Jesus Cristo, eu estou aqui!”

Até quando a televisão vai assim? Até quando os brasileiros ficaremos calados? Pior ainda: até quando os pais deixarão correr solta a programação televisiva em suas casas sem conversarem sobre o problema com seus filhos e sem exercerem uma sábia e equilibrada censura? Isso mesmo: censura! Os pais devem ter a responsabilidade de saber a que programas de TV seus filhos assistem, que sites da internet seus filhos visitam e, assim, orientar, conversar, analisar com eles o conteúdo de toda essa parafernália de comunicação e, se preciso, censurar este ou aquele programa. Censura com amor, censura com explicação dos motivos, não é mal; é bem! Ninguém é feliz na vida fazendo tudo que quer, ninguém amadurece se não conhece limites; ninguém é verdadeiramente humano se não edifica a vida sobre valores sólidos… E ninguém terá valores sólidos se não aprende desde cedo a escolher, selecionar, buscar o que é belo e bom, evitando o que polui o coração, mancha a consciência e deturpa a razão!

Aqui não se trata de ser moralista, mas de chamar atenção para uma realidade muito grave que tem provocado danos seriíssimos na sociedade. Quem dera que de um modo ou de outro, estas linha de editorial servissem para fazer pensar e discutir e modificar o comportamento e as atitudes de algumas pessoas diante dos meios de comunicação.

Mais um Bispo se manifesta sobre o “Big Brother”.

http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/28577-mais-um-bispo-se-manifesta-sobre-o-big-brother

Por Dom Eduardo Benes, arcebispo de Sorocaba

 
Aristóteles (384 a, C. – 422 a. C) havia proposto que a felicidade é o bem sempre desejado pelo ser humano e que a prática das virtudes, capitaneadas pelas virtudes cardiais – Prudência, Temperança, Fortaleza e Justiça – , é o único meio de construir uma sociedade onde seja possível a felicidade. E ensinou também que as virtudes deviam ser a primeira preocupação da sociedade na educação das crianças.


 
A Tradição cristã-católica, especialmente através de Tomás de Aquino, assumiu preciosos elementos da ética Aristotélica, percebendo que a proposta de Aristóteles oferecia uma visão antropológica que ajudava a entender, por via racional, a revelação cristã como oferta de um caminho de verdade para o desejo mais profundo do ser humano: ser feliz. 


 
Tendo como horizonte de vida as virtudes cardiais, a tradição cristã procurou sistematizar também a compreensão do mal moral, propondo que os pecados todos têm como raiz, os chamados vícios(pecados) capitais: Soberba ( orgulho desejo de poder, vaidade, sucesso…), Inveja, Cólera (ira, raiva…), Preguiça, Avareza (cobiça…), Gula e Luxúria. 


 
Não vejo nunca o Big Brother, mas ouço sua propaganda e leio as notícias e as opiniões de muitas pessoas sobre. Depois da suspeita de estupro no BB Brasil, em cena de sexo regado a cerveja, entrei no Google e li que na Inglaterra, “depois de umas grades de cerveja e de umas caixas de vinhos, os 14 concorrentes ficaram tão desinibidos que resolveram promover uma festa pelados na piscina.” 


 
Mais: “Os produtores do Big Brother não acreditaram quando viram que triângulos amorosos começaram a surgir em cada quarto da casa, segundo o jornal Daily Star”.
Eis aí, prezado(a) leitor(a),como o que há de pior em nossa sociedade (a droga do álcool e a luxúria juntos, pecados contra a virtude da temperança) se torna meio de ganhar dinheiro (avareza).


 
A Soberba se encarrega de transformar em coisa linda a degradação do que há de mais nobre no ser humano: o amor. É o amor que dá sentido a todas as relações que estabelecemos com os outros. A Soberba, na reflexão cristã, está presente toda a vez que o ser humano mente para si mesmo, fazendo soar como verdadeira a negação da verdade. Assume-se o lugar de Deus, o Supremo Legislador, que nos deu os mandamentos para apontar-nos o caminho que conduz a pessoa e a sociedade ao verdadeiro bem (a Paz). 


 
Santo Tomás, ao falar dos pecados capitais, afirma que estes “são sumamente atraentes, tanto que por eles o ser humano comete muitos outros pecados”. São desvios do grande desejo do Bem, colocado por Deus nas profundezas do ser humano. Santo Agostinho experimentou esta verdade até à exaustão: “…mas eu caminhava em meio às trevas, por um caminho escorregadio, procurando a Ti fora de mim, e não achava, pois tu és o Deus do coração. E então cheguei ao fundo, desprovido de esperança, já perdida em mim a fé de ver a verdade face a face”(As Confissões,Liv. 6). 


 
A Soberba está presente na luxúria e na gula (a voracidade do prazer da comida, da bebida e do sexo) quando se promove à dignidade de bem o que vilipendia o ser humano e ofende a divina sabedoria e o verdadeiro amor. Toda tentativa de justificar o pecado é violência à verdade e ao testemunho da própria consciência. É assim que a miséria moral, apelidada de amor, se torna linda, conforme soube que afirmou Pedro Bial comentando cena recente (estupro?) do BB brasileiro. Ora, uma afirmação como esta no contexto do BB – “o amor é lindo” - traduz exatamente o esforço em transformar em beleza o mau gosto e o vazio de valores de uma cultura que corre atrás do sucesso e do dinheiro fácil. Big Brother é um escárnio – uma espécie de vômito – contra tudo o que ainda existe de eticamente saudável na sociedade. É atentado violento ao pudor colocado na vitrine midiática, ao alcance de todos. Usa-se a justificativa de que o Big Brother retrata a sociedade. Aqui é necessária uma correção: “retrata o que de pior há em nossa sociedade” para satisfazer a gula doentia que, estimulada, salta para fora e passa a fazer parte da normalidade cultural. 


 
O(a) leitor(a) que quiser ter uma amostra do que está acontecendo em nossa sociedade, pesquise no GOOGLE “bebida e sexo entre adolescentes” e encontrará farto material sobre o assunto. Assim: “Jovens fazem festa com sexo e bebida na Quinta da Boa Vista ” e, em seguida: “A Dcav (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima) está dando uma olhada em imagens onde aparecem jovens de uniforme, ou seja, matando aula, consumindo bebidas alcoólicas, além de casais se ‘embolando’ e camisinhas jogadas pelo gramado do parque”. 


 
O BBB estimula esse tipo de comportamento ao conseguir empolgar telespectadores e envolvê-los nesse jogo sujo. Uma coisa é retratar a realidade doentia na cultura de modo a produzir rejeição e outra, oposta, é retratá-la travestida de beleza.

NOTA DA CNBB SOBRE ÉTICA E PROGRAMAS DE TV

http://www.cnbb.org.br/site/imprensa/sala-de-imprensa/notas-e-declaracoes/5854-cnbb-divulga-nota-sobre-etica-e-programas-de-tv


Têm chegado à CNBB diversos pedidos de uma manifestação a respeito do baixo nível moral que se verifica em alguns programas das emissoras de televisão, particularmente naqueles denominados Reality Shows, que têm o lucro como seu principal objetivo. 


 
Nós, bispos do Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP), reunidos em Brasília, de 15 a 17 de fevereiro de 2011, compreendendo a gravidade do problema e em atenção a esses pedidos, acolhendo o clamor de pessoas, famílias e organizações, vimos nos manifestar a respeito. 


 
Destacamos primeiramente o papel desempenhado pela TV em nosso País e os importantes serviços por ela prestados à Sociedade. Nesse sentido, muitos programas têm sido objeto de reconhecimento explícito por parte da Igreja com a concessão do Prêmio Clara de Assis para a Televisão, atribuído anualmente. 


 
Lamentamos, entretanto, que esses serviços, prestados com apurada qualidade técnica e inegável valor cultural e moral, sejam ofuscados por alguns programas, entre os quais os chamados reality shows, que atentam contra a dignidade de pessoa humana, tanto de seus participantes, fascinados por um prêmio em dinheiro ou por fugaz celebridade, quanto do público receptor que é a família brasileira. 


 
Cônscios de nossa missão e responsabilidade evangelizadoras, exortamos a todos no sentido de se buscar um esforço comum pela superação desse mal na sociedade, sempre no respeito à legítima liberdade de expressão, que não assegura a ninguém o direito de agressão impune aos valores morais que sustentam a Sociedade. 


 
Dirigimo-nos, antes de tudo, às emissoras de televisão, sugerindo-lhes uma reflexão mais profunda sobre seu papel e seus limites, na vida social, tendo por parâmetro o sentido da concessão que lhes é dada pelo Estado. 


 
Ao Ministério Público pedimos uma atenção mais acurada no acompanhamento e adequadas providências em relação à programação televisiva, identificando os evidentes malefícios que ela traz em desrespeito aos princípios basilares da Constituição Federal (Art. 1º, II e III). 


 
Aos pais, mães e educadores, atentos a sua responsabilidade na formação moral dos filhos e alunos, sugerimos que busquem através do diálogo formar neles o senso crítico indispensável e capaz de protegê-los contra essa exploração abusiva e imoral. 


 
Por fim, dirigimo-nos também aos anunciantes e agentes publicitários, alertando-os sobre o significado da associação de suas marcas a esse processo de degradação dos valores da sociedade. 


 
Rogamos a Deus, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, luz e proteção a todos os profissionais e empresários da comunicação, para que, usando esses maravilhosos meios, possamos juntos construir uma sociedade mais justa e humana.
Brasília, 17 de fevereiro de 2011

Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB    

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Secretário Geral da CNBB

BBB: Globo responde a crítica da CNBB contra a reality shows

http://noticias.gospelprime.com.br/globo-responde-a-critica-da-cnbb-contra-reality-shows/

Não é de hoje que programas como o Big Brother Brasil (BBB) que já está na 11ª edição recebe críticas do gênero, mesmo assim a Globo respondeu dizendo “é uma emissora laica, com uma visão de cultura e mesmo de comportamento social e moral que não segue preceitos religiosos”.
O BBB é o programa de maior audiência na TV brasileira,  a emissora que o transmite disse que cabe aos pais decidirem o que os filhos devem ver na TV, “como tudo o que pode influenciar na formação dos jovens, disse a nota da Rede Globo.


 
A crítica da CNBB também foi enviada à TV Record e pela primeira vez ficou do lado da sua arqui-inimiga Globo.


 
Em resposta, a emissora do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, comunicou que “A Fazenda”, seu reality show de maior audiência, é educativo porque “convida os participantes a atividades relacionadas ao campo e à natureza”.


 
Defendendo outro reality show do seu quadro de programas, o “Troca de Família”, a Record afirmou que ele mostra como se dá a convivência de diferentes estilos de vida.
A CNBB pediu ao Ministério Público mais empenho na fiscalização da programação das TVs.
 

Fonte: Gospel Prime

BBB 10 é líder em baixaria, segundo a Comissão de Direitos Humanos.

http://televisao.uol.com.br/ultimas-noticias/2010/05/06/bbb-10-e-lider-em-baixaria-segundo-a-comissao-de-direitos-humanos.jhtm

A campanha Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania nasceu em 2002 fruto de deliberação da VII Conferência Nacional de Direitos Humanos, maior evento anual do setor no país. O espírito da decisão foi criar um instrumento que promovesse o respeito aos princípios éticos e os direitos humanos na televisão brasileira. Participaram da Conferência cerca de 1.500 pessoas, a grande maioria lideranças e militantes em direitos humanos. Muitos lutaram contra a censura no regime militar, e agora estão engajados na campanha para resgatar o significado contemporâneo da liberdade de expressão e de formação de uma opinião pública crítica baseada nos valores humanistas.

 
A campanha é uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, em parceria com entidades da sociedade civil, destinada a promover o respeito aos direitos humanos e à dignidade do cidadão nos programas de televisão.


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quarta-feira, 28 de março de 2012

Falando da ressurreição. Como entender?


Tempo de Quaresma. Tempo adequado para refletir, pensar, remexer nos assuntos “adormecidos”,  verificar se está certa  a direção do “caminho” pelo qual andamos...  É tempo de preparação para a maior festa do cristianismo – a Páscoa. 

A Páscoa cristã é a festa de Jesus Cristo Ressuscitado, da sua ressurreição.  O fato de Jesus Cristo ser morto e, após três dias, ter ressuscitado dos mortos significou (e significa!) uma reviravolta absoluta na vida e na história do ser humano. É a vitória da vida sobre a morte; é  a porta aberta para a vida eterna para homem que crê. “... Creio na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna.  Amém.” –  faz parte do “CREDO” de cada cristão.

No entanto, existem muitas questões e perguntas a respeito da fé na ressurreição para as quais não temos respostas prontas. O assunto adentra o Mistério de Deus, fonte e sustento de toda vida. O que é a ressurreição? Qual é a relação entre a ressurreição de Jesus Cristo e a ressurreição prometida aos homens? Como será a ressurreição? Em que consiste? Podemos ter alguma ideia mais concreta sobre isso?

Existem muitas opiniões e doutrinas, que tentam  responder essas perguntas. Nem sempre da mesma forma e com as mesmas palavras. Tem gente que “briga”, defendendo a aceitação incondicional dos dogmas, sem precisar entendê-los... Outros querem entender o mais possível, para poder “crer”.  Na verdade,  o ser humano tem a necessidade e a aptidão de buscar as respostas, dentro do possível. E nunca deixará de fazê-lo.  A meu ver, essa busca nunca será  “inútil” ou “negativa”, desde que o homem faça isso com a plena consciência da presença de Deus ao seu lado e confiando n’Ele.

Hoje, trago aqui os textos baseados nas palestras do Pe. Oscar Quevedo*, que falam da ressurreição, da alma, da essência do ser humano. E falam de maneira corajosa, direta e provocativa. Há muita gente que gosta e entende o jeito e o conteúdo das palestras e dos encontros do Pe. Quevedo. Há outros, que não gostam, não concordam e até condenam. Nisso consiste a polêmica: discutir sobre o mistério, sobre o que não se sabe muita coisa... 

Às vezes,  para alguns, talvez seja mais vantagem  não “arriscar”, não querer  procurar as explicações, não precisar saber mais. Para outros, é um grande desafio e necessidade encontrar as explicações para as coisas que se ainda não entende, com os recursos que Deus conferiu ao homem. É claro que nem tudo será possível conhecer e entender. Mas, muitas coisas sobre a sua vida e o seu destino o homem tem obrigação a investigar, entender e conhecer.

Espero, que a leitura dos textos abaixo  seja útil e possa contribuir positivamente  para todos  aqueles, que procuram aprofundar o seu entendimento dos assuntos da fé, considerados  difíceis.
WCejnog


Fonte:  http://pt.scribd.com/doc/57602739/Parapsicologia-livrao

A  ressurreição

Só um ser infinito pode criar e aniquilar. A alma só não seria eterna se Deus a aniquilar, (não adianta queimar o corpo, destruir)...  mas Deus NÃO PODE aniquilar a alma, (Mas Padre! Deus não é onipotente?) Exatamente por isso! Deus pode fazer tudo que seja bom para todos. Ele não pode fazer uma circunferência quadrada, porque quadrada não é circunferência. Deus não pode deixar de ser Deus, não pode! Portanto, Deus nãopode aniquilar a alma, NÃO PODE!  Porque isso é contraditório! Mas por quê? Muito fácil, prestem atenção: se Deus é infinito, tem que ser perfeito! Porque se lhe falta alguma coisa já não é perfeito, é limitado. Se é perfeito, não pode cometer imperfeições intrínsecas. E se aniquilasse a alma estaria cometendo uma imperfeição enorme, um pecado contra a natureza.

A alma é espiritual, "indesgastável", indestrutível, "indesgenerada", inevoluível. E agora vem o Autor, o Idealizador e a aniquila? Isso é uma violação à mais profunda natureza da alma! A natureza não faz nada em vão! Quem disser que após a morte acaba tudo, tem que ganhar o Prêmio Nobel da Burrice!  Isso é contraditório. Então, o que faz a alma eternamente? Fica, como dizem os espíritas, "desencarnada"?  esperando um corpo para se encarnar? 

Sem o corpo a alma não pensa, não sente, não existe!  A alma, por sua natureza, exige não separar-se de seu corpo. E isto não tem nada a ver com reencarnação! Reencarnação é a mesma alma em diversos corpos, não seria a mesma pessoa! Onde está a base, os argumentos da reencarnação? Um coelho gera um coelhinho, da mesma natureza. De uma roseira é tirada uma roseirinha,  da mesma natureza. Um ser humano só vai gerar um ser HUMANO!  Não existe isso de a alma vir de um corpo e ir para o corpo de outro! O que é que é isso?  Nós somos como uma vela acesa. A vela, vamos chamar corpo e a chama, alma. De um pouquinho dos pais, unem-se espermatozóide e óvulo. Junte os corpos que a alma se funde! Aí está formada a pessoa. E multiplica o corpo e a chama vai se multiplicando. Vocês geraram um ser humano. Dizer que o ser humano gera o corpo  e a alma é gerada em outro lugar não tem base. (E tanta gente acredita nisto só porque ouviu falar ou acha bonito). A alma está exigindo não reencarnação, mas RESSURREIÇÃO! A mesma alma com a mesma pessoa,  isso é o que se chama ressurreição. 

Mas alguém diz: AH, Não! Agora é que não dá. Eu morro, me enterram, os vermes comem meu corpo, os vermes apodrecem; libera-se fósforo, carbono, nitrogênio, e isto é reciclado constantemente pela natureza; cadê meu corpo? 

Eu admiro a fé dos cristãos, mas no Brasil, quando os padres rezam o Creio, se diz: "... creio na ressurreição da carne...", me dá uma vontade de levantar os olhos e dizer: Eu não... E continuar rezando.

Em grego, a palavra que está na oração não significa carne, significa ser humano, ..."creio na ressurreição do homem...", não da carne.  Mas e a ressurreição de Cristo?, pois Ele ressuscitou exatamente seu corpo que havia sido sepultado... Com Cristo, havia um motivo especial para que ressuscitasse precisamente aquela energia corporal (corpo), com a mesma idade, características, chagas, etc.,  de quando Ele foi crucificado (e não ressuscitou criança ou mais velho ou diferente): para que todos entendessem a ressurreição, Cristo venceu a morte. Senão os apóstolos não iam entender nada!
Para ensinar o Dogma da Ressurreição do homem, e não da carne, Cristo fez o milagre de ressuscitar precisamente igual àquele corpo da cruz. Cristo ressuscitou aqui, no plano material (e com isso ensinou e provou aos homens, sua Divindade, a Ressurreição e a Vida Eterna), e depois "subiu aos céus", foi para o Pai (plano sobrenatural); mas, quanto a nós, ressuscitaremos não aqui, mas na eternidade, no plano sobrenatural. 

Nós estamos continuamente renovando nossa energia corporal; a matéria é uma só, todos os físicos sabem que a matéria é uma só, nós estamos continuamente morrendo, renovando, estamos perdendo energia somática e estamos recuperando-a pela respiração e pela alimentação; desprendemos energia motora e a recuperamos, continuamente vamos renovando, desprendendo energia e renovando. Os ossos demoram, em média, 06 a 07 anos para renovarem-se completamente; dos ossos que eu tenho aqui, nenhum pedacinho existia 08 anos atrás. E todo o resto do corpo, uns mais outros menos. (...) Mas, em 07 anos, renovamos completamente toda a nossa energia corporal; hoje não há aqui nada, absolutamente nada, do que formava meu corpo 07 anos atrás, (com exceção dos neuronios). Mas a herança genética é a mesma. E porque tem que ressuscitar exatamente aquela energia material que terá meu corpo quando eu morrer? Aquela que vai ser enterrada? Que direito tem ela sobre todas as energias corporais que formaram o meu corpo ao longo da minha vida (desde bebê até a velhice)?

Então, quando o médico diz:  morreu, morte clínica. O cérebro apaga até no máximo em 05 minutos, mas até que morra todo o organismo, crescem as unhas, crescem os cabelos, as células vão se transformando... 21 dias, alguns um pouco mais, outros um pouco menos. 21 dias em média, até que morra tudo. Pergunto: As 11.000.000 de células que ainda estão vivas num corpo clinicamente morto, estão animadas por quem? Resposta: Pela alma espiritual! E por quem mais seria?  "À medida que vamos morrendo, vamos ressuscitando".

Só agora, a Teologia pode entender dezenas de textos do Antigo e do Novo Testamento da Revelação sobre a ressurreição eterna. Não podia entender porque não tinha Ciência, agora se entende muito bem! E agora se pode traduzir muito bem, porque sabemos do que se trata.  Diz, por exemplo, São Paulo: "Nós não morremos, nos transformamos à medida que vamos morrendo, num corpo corrompido, vamos ressuscitando num, corpo incorruptível, vamos morrendo, num corpo de trevas, e vamos ressuscitando, num corpo de luz..." (...)

Deixamos um corpo lento e vamos ressuscitando num corpo ágil, deixamos um corpo pesado, físico, e vamos ressuscitando num corpo sublime, espiritualizado, vamos deixando um corpo passível e, na mesma proporção, vamos ressuscitando num corpo impassível, até que, morreu tudo, se consumou a ressurreição.  Agora começa a eternidade, com um corpo espiritualizado, mas, porém, nem por uma fração de segundo, há corpo humano sem alma ou alma humana sem corpo.

Vocês são pais e mães de um ser humano, corpo-alma, ele nasce um ser humano inteiro, está um ser humano inteiro e, à medida que morre, ressuscita um ser humano inteiro e por toda a eternidade! Morte e Ressurreição. A humanidade sempre acreditou na sobrevivência do ser humano. Todos os povos, todas as raças, em todas as épocas. Sempre se acreditou na sobrevivência, na purificação, no prêmio e castigo cada qual segundo seus méritos.  Esse miolo que se chama consenso universal de todas as épocas, de todos os povos e de todas as raças, não pode ser falso. Esse é um argumento.

Há outros argumentos que tenho apresentado aos padres, como o da ressurreição, já comprovado cientificamente, filosoficamente, experimentalmente. Pela análise do lençol de Turim, que envolveu Jesus Cristo descido da cruz, por exemplo, a NASA demonstra que aquele corpo ressuscitou. Se transformou num instante numa luz, num corpo glorioso. A ressurreição está anunciada religiosamente e demonstrada pelos milagres. E só no catolicismo, e antes o judaísmo, tem Milagres. Toda essa doutrina da ressurreição está documentada com muitíssimos milagres. O consenso universal não pode ser falso.

Assim, podemos dizer que existem pelo menos três argumentos: filosófico, científico e teológico para afirmar a sobrevivência e a ressurreição do homem. Nem por uma fração de segundo existe alma sem corpo.  À medida que vamos morrendo, vamos ressuscitando. A mesma alma, com o mesmo corpo, embora em outra situação: um corpo "espiritual". Nem por um instante a alma é separada do corpo. Todos os que morreram já ressuscitaram. Isto é sobrevivência na ressurreição, não na reencarnação. E os que livremente escolheram a Deus, estão no céu (presença de Deus). Os que livremente rejeitaram a Deus, estão no que se chama inferno, ou seja afastados de Deus. 

Há todo um processo para a ressurreição. Nós não morremos num instante. Entre a morte clínica e a morte real (morte de todas as células) há alguns dias, em que vamos morrendo e ao mesmo tempo ressuscitando. Ou seja, vamos abandonando um corpo corruptível e ressuscitando num corpo incorruptível. Vamos deixando um corpo físico e ressuscitando num corpo espiritualizado. Nos primeiros dias a pessoa fica apagada. O cérebro se corrompe. Ela não vê, não sente, não ouve. Mas tem células vivas. A pessoa ainda está sendo animada para o corpo espiritual. A energia corporal vai sendo substituída por uma energia espiritualizada. Isto é um Milagre, mas apenas em termos, porque a natureza já foi feita assim por Deus (A natureza do homem exige a ressurreição).

Oscar G. Quevedo S.J.

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Sobrevivência da Alma

É uma verdade quase geralmente aceita em Filosofia, assim como incontestada e incontestável em Parapsicologia, que o homem tem uma faculdade espiritual (alma) -a famosa faculdade Psi-Gamma ou Percepção Extra-Sensorial. A partir deste dado, o tema central e que deu origem à Parapsicologia, o estudo da sobrevivência recebe uma confirmação lógica: Uma potência espiritual (alma) não pode destruir-se, corromper-se, deteriorar-se, dividir-se, desgastar-se...
A alma espiritual só deixaria de ser eterna se fosse aniquilada. Mas para aniquilar, é preciso o mesmo poder como para criar. Criar é fazer algo do nada, e aniquilar é fazer de algo, nada.  A mesma potência em sentido inverso.

Um poder finito pode modificar, transformar, dividir, desagregar, analisar, etc.,  mas não criar nem aniquilar.
Só um poder infinito pode criar e só um poder infinito poderia aniquilar, e esse poder é DEUS.

Ora, se Deus pretendesse aniquilar a alma, naturalmente eterna por ser espiritual, estaria desrespeitando a essência espiritual dela. Implicaria uma desordem, uma imperfeição, um "pecado" contra a natureza ou essência da alma.
Deus não seria perfeito. Se imperfeito, não seria infinito. Se não infinito, não teria poder para aniquilar nem para criar. Portanto a aniquilação da alma é impossível, implica contradição.

Ressurreição

É uma verdade incontestada e incontestável que no homem, do ponto de vista de vista da ciência, "não há função sem órgão";  do ponto de vista filosófico,
"a alma é substância incompleta que precisa do corpo que é outra substância incompleta, para ambas formarem uma perfeita unidade no homem; só esta unidade pode agir";  do ponto de vista teológico-religioso, a mesma verdade, que a alma precisa do corpo, foi definida nos Concílios Ecumênicos Vienense e Lateranense V.

É uma verdade científica, filosófica e teológica, incontestada e incontestável que "nada há sem razão suficiente", que "a natureza não faz nada em vão". ("Natura nihil facit frustra").

A alma é eterna. Sem corpo não poderia agir (Não levando em consideração a ordem sobrenatural: A Graça santificante com a que a alma pode conhecer a Deus) e naturalmente ficará eternamente em vão sobrevivendo sem atuação nenhuma, eternamente frustrada?... Impossível. Contraditório.

Portanto a essência da alma está reclamando seu corpo, para poder agir. A mesma alma e o mesmo corpo. O mesmo ser humano. A mesma pessoa. A "Ressurreição da carne". Essa exigência essencial também não pode ser frustrada.

Do ponto de vista do corpo, a ressurreição da carne é preter-natural, gratuita. Devendo acompanhar eternamente a alma,  o corpo gratuitamente deve receber também a impassibilidade, sutileza, etc.,"Corpo espiritualizado" (Corpo Glorioso).

Ora, morrendo, saímos do tempo para entrar na eternidade. Na eternidade não há tempo. Portanto, a ressurreição da carne tem que ser imediata à morte. Saída do tempo. Todos os que já morreram já ressuscitaram. E, não pode ser de outra maneira, sem implicar em contradição.

A verdade nunca se opõe à verdade. Entre verdadeira ciência e verdadeira religião nunca há verdadeira oposição. A verdade ajuda a verdade. A ciência ajuda a religião. E vice-versa. Concretamente, entre os parapsicólogos, são muitos os que hoje se dedicam ao estudo do relacionamento entre  Parapsicologia e Religião.

Oscar G. Quevedo S.J

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*Óscar González-Quevedo, conhecido como Padre Quevedo, (Madri, 15 de dezembro de 1930) é um padre jesuíta espanhol radicado no Brasil desde a década de 1950. Professor universitário de parapsicologia na UNISAL e no Centro Latino-Americano de Parapsicologia (CLAP), é formado na Faculdade de Comillas, na Espanha, doutor em Teologia formado na Faculdade de Nossa Senhora de Assunção, em São Paulo, e autor de diversos livros entre os mais famosos A Face Oculta da Mente e Antes que os Demônios Voltem.[1] Sempre polêmico,[2] defende a base cientifica dos fenômenos paranormais, renegando qualquer hipótese de intervenção do além.

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segunda-feira, 26 de março de 2012

Sobre uma conversa muito interessante


É muito conhecido o texto do Evangelho segundo São João (Jo 3, 14-21), que fala do encontro entre Jesus e o Nicodemos.  São muitas reflexões e interpretações que já ouvimos sobre esse episódio.  Parce  até, que não  há mais nada o que falar.  Mas, mesmo assim, quero trazer aqui um comentário muito interessante, da M.Asun Gutiérrez. 
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Os interessados pedem ler esse texto em PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: 
http://www.benedictinescat.com/montserrat/indexceramport.html



Deus não vem como juiz irado, mas como pai de amor transbordante.
Vem para manifestar a sua bondade e torná-la efetiva.
Vem para introduzir na vida a sua misericórdia
e encher a criação inteira com a sua compaixão.
Jesus comunica a sua própria experiência de Deus,
não o que se vinha a repetir em todo o lado de maneira convencional.
Deus não reserva o seu amor só para os judeus
 nem abençoa só os que vivem obedecendo à lei.
Também tem compaixão dos gentios e pecadores.
Esta atuação de Deus,
que tanto escandalizava os setores mais fanáticos,
 comove Jesus.
Não é que Deus seja injusto ou que reaja com indiferença perante o mal.
O que acontece é que não quer ver ninguém a sofrer.
Por isso a sua bondade não tem limites, nem sequer com os maus.
Este é o Deus que está a chegar.
José Antonio Pagola.

O texto, exclusivo do quarto evangelho - (Jo 3, 14-21), é um fragmento da conversa noturna com Nicodemos. O primeiro intelectual convertido à fé cristã.  Vai até Jesus “de noite“. Pode referir-se tanto à noite física porque não quer que se saiba da sua simpatia por Jesus, como à escuridão interior porque não entende, está perplexo perante os sinais de Jesus.
Jesus  vai falando, a Nicodemos e também a nós, do sentido da vida, de Deus e do seu grande amor pelo mundo, da salvação para todos, da luz e das trevas, de viver na verdade...
Nicodemos não fez a viagem em vão, não saiu defraudado daquele encontro com Jesus.

Falar com Jesus  proporciona sempre luz e paz.

Para explicar a Nicodemos as suas dúvidas depois de lhe dizer que o Filho do homem ia morrer na cruz, Jesus recorre à antiga lembrança de uma serpente de bronze,  elevada sobre um mastro, que surpreendentemente salvou da morte a muitos israelitas (Nm 21, 6-7). Não foram salvos por esse objeto, como por arte de magia, mas “por ti, Salvador universal” (Sb 16, 7).

“Tem que ser levantado” significa, ao mesmo tempo, que Jesus será levantado na cruz e exaltado na ressurreição e glorificação. O amor de Jesus, a sua vida, a sua entrega, são a norma e o exemplo para que o ser humano alcance a sua plenitude. O que cura e dá vida é o amor. O que salva é a vida impulsionada pelo amor aos outros.

Crer é a resposta ao imenso amor de Deus.  A reciprocidade do amor.
Cada gesto, cada palavra de Jesus manifesta como Deus é.
A fá supõe acolher esse amor que nos salva, que nos dá – desde já - a vida eterna.

O amor de Deus é universal, alcança toda a humanidade. O propósito do seu amor é que o mundo, e cada ser humano, tenha vida autêntica. Deus não é quem castiga os nossos erros, mas quem nos salva deles. Não deixa de ser Salvador para se converter em juiz, ao estilo da nossa mentalidade jurídica.

O centro da nossa fé é que Deus, em Jesus e por Jesus, cria, liberta e salva a toda a humanidade;  não o castigo e a condenação.

Não deveríamos repetir isto e escutá-lo mais vezes e com mais claridade?

Jesus não condena ninguém.  Quem não crê “condena-se” a não desfrutar da sorte e da alegria que é acreditar.

A fé e a não-crença é um tema recorrente no quarto evangelho. Crer em Jesus é o maior estímulo e a melhor orientação para viver em plenitude. É sentir-se amado, descobrir novas possibilidades, novas forças, novos horizontes, novo sentido para a vida de cada dia. É ter vida eterna, começar a viver desde agora algo novo e definitivo. É sentir Deus amoroso e próximo que anima e sustenta a nossa vida, tornando-a mais plena, mais feliz e mais livre.
É sentir que agora mesmo nos está a libertar.

As nossas obras revelam o nosso amor pela Luz, a nossa fé em Jesus. Não há luz mais poderosa que a do ser humano que contagia, com as suas palavras e com a sua vida, bondade, alegria e humanidade. Como Jesus.

Esta explicação teológica do evangelista conduz-nos a uma mensagem feliz e definitiva: olhando Jesus sabemos como Deus é.  Jesus revela um Deus que é Pai/Mãe, a melhor Notícia, a resposta ao que mais desejamos: luz, vida, libertação, ternura, acolhimento, compaixão, amor gratuito e incondicional...

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domingo, 25 de março de 2012

32 anos de martírio de Dom Oscar Romero


Nas postagens anteriores foi abordado o tema da fé. Para completar essas reflexões, é muito oportuno lembrarmos hoje, no dia do seu martírio, do pastor  e bispo Oscar Romero, cujo testemunho e ensinamento tocam com força, ainda hoje, todos os cristãos.  E não é possível não tocar! É o sangue de um mártir. É um exemplo de fé madura, comprometida com a vida e a justiça. 
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Embaixo, um artigo do frei Gilvander Luís Moreira, publicado ontem:

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Mensagem libertadora de Dom Oscar Romero

Gilvander Luís Moreira[1]
FONTE: www.gilvander.org.br/.../172-mensagem-libertadora-de-dom-oscar-romero


Dia 24 de março de 2012 celebramos 32 anos de martírio de dom Oscar Romero, arcebispo da arquidiocese de San Salvador, capital de El Salvador. Nomeado bispo por ser considerado conservador, passou por um processo de profunda conversão e assumiu a causa dos pobres. Sentiu profundamente o assassinato do padre Rutílio Grande, seu secretário, e de milhares de lideranças camponesas, de Comunidades Eclesiais de Base, que se levantavam contra a ditadura militar imposta sobre El Salvador.

Eis, abaixo, 17 anúncios e denúncias que ecoaram a partir da boca de Romero nas suas homilias. Através da Rádio a mensagem de Romero encontrou acolhida nos corações de tanta gente que segue vivendo se inspirando no ensinamento e testemunho libertador de Romero.

1. “Irmãos, eu gostaria de gravar no coração de cada um esta ideia: o cristianismo não é um conjunto de verdades nas quais devemos acreditar, de leis que devem ser cumpridas, de proibições! Assim se torna muito repugnante. O cristianismo é uma pessoa, que me nos amou tanto, que pede nosso amor. O cristianismo é Jesus Cristo e o evangelho.” (06/11/ 1977)

2. “Que maravilha será o dia que cada batizado compreender que sua profissão, seu trabalho, é um trabalho sacerdotal; que, assim como eu celebro a missa no altar, cada carpinteiro celebra sua missa na sua carpintaria, cada profissional, cada médico com seu bisturi, a mulher na feira, no seu lugar de trabalho… estão fazendo um ofício sacerdotal. Quantos motoristas que escutam esta mensagem no seu táxi. Tu, querido motorista, junto ao volante do seu táxi és um sacerdote se trabalhas com honradez, consagrando a Deus seu táxi, levando uma mensagem de paz e de amor a teus clientes que vão no seu automóvel.” (20/11/1977)

3. “Uma religião de missa dominical, mas de semanas injustas não agrada ao Deus da Vida. Uma religião de muita reza, mas de hipocrisias no coração não é cristã. Uma Igreja que instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, porém que não ouve os clamores das injustiças não é a verdadeira igreja de nosso Divino Redentor.” (04/12/1977)

4. “Ainda quando nos chamem de loucos, ainda quando nos chamem de subversivos, comunistas e todos os adjetivos que se dirigem a nós, sabemos que não fazemos nada mais do que anunciar o testemunho subversivo das bem-aventuranças,  que proclamam bem-aventurados os pobres, os sedentos de justiça, os que sofrem.” (11/05/1978)

5. “Muitos querem que o pobre sempre diga que é “vontade de Deus” que assim sobreviva. Não é vontade de Deus que uns tenham tudo e outros não tenham nada. Não pode ser de Deus. A vontade de Deus é que todos os seus filhos e filhas sejam felizes.” (10/09/1978)

6. “É ridículo dizer que a Igreja se tornou marxista. Porém há um "ateísmo" mais próximo e mais perigoso para nossa igreja: o ateísmo do capitalismo, quando os bens materiais se tornam ídolos e substituem Deus.” (15/09/1978)

7. “Uma igreja que não sofre perseguição, mas que desfruta privilégios e o apoio de coisas da terra – Tenham Medo! – não é a verdadeira igreja de Jesus Cristo.” (11/03/1979)

8. “Quantos existem que não dizem ser cristãos, porque não têm fé…! Têm mais fé no seu dinheiro e em suas coisas do que no Deus que criou tudo.” (03/06/1979)

9. “Para que servem belas estradas e aeroportos, belos edifícios e grandes palácios, se foram construídos com o sangue de pobres que jamais vão desfrutá-los?” (15/07/1979)

10. “Não nos cansemos de denunciar a idolatria da riqueza, que faz consistir a grandeza da pessoa humana no ter e esquece que a verdadeira grandeza é ser. A pessoa humana não vale pelo que tem, mas pelo que é e faz.” (04/11/1979)

11. “Devemos buscar o menino Jesus, não nas imagens bonitas de nossos presépios. Devemos buscá-lo entre as crianças desnutridas que foram dormir esta noite sem ter o que comer, entre os pobres vendedores de jornal que dormiram muito mal.” (24/12/1979)

12. “Que maravilha será o dia em que uma sociedade nova, em vez de armazenar e guardar egoisticamente, se partilhe, se reparta e se alegrem todos, porque todos nos sentimos filhos do mesmo Deus! Que outra coisa quer a palavra de Deus neste ambiente salvadorinho senão a conversão de todos para que nos sintamos irmãos?!!!” (27/01/1980)

13. “Não é um prestígio para a Igreja estar bem com os poderosos. Prestígio para a igreja é sentir que os pobres a sentem como sendo sua, sentir que a igreja vive uma dimensão na terra, chamando todos, também os ricos, à conversão e à salvação a partir do mundo dos pobres, porque eles são unicamente os bem-aventurados.” (17/02/1980)

14. "Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado... O Evangelho me impulsiona a defender meu povo e em seu nome estou disposto a ir aos tribunais, ao cárcere e à morte.”

15. “Tenho estado ameaçado de morte frequentemente. Tenho que dizer-lhes que como cristão não acredito na morte, mas na ressurreição: se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo isso sem nenhuma vanglória, mas com grande humildade. Como pastor, estou obrigado, por mandato divino, a dar minha vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, inclusive por aqueles que vão assassinar-me. Se chegarem a cumprir as ameaças, desde já ofereço a Deus meu sangue pela redenção e pela ressurreição de El Salvador. O martírio é uma graça de Deus, que não creio merecer. Porém se Deus aceita o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal que a esperança se torna realidade. Minha morte, se aceita por deus, seja para a libertação do meu povo e como testemunho de esperança no futuro. Vocês podem dizer, se chegarem a me matar, que perdôo e bendigo aqueles que me matarem. Desta maneira se convencerão que perdem seu tempo. Um arcebispo morrerá, porém a igreja de Deus, que é o povo, nunca perecerá.” (março de 1980)

16. “O Reino já está misteriosamente presente na nossa terra. Quando vier o Senhor, se consumará sua perfeição. Esta é a esperança que alenta a nós os cristãos. Sabemos que todo esforço para melhorar a sociedade, sobretudo quando está tão metida na injustiça e no pecado, é um esforço que Deus bendiz, que Deus quer, que Deus exige de nós.” (24/03/1980)

17. Dom Oscar Romero bradou aos militares que estavam assassinando o povo: “Nenhum soldado está obrigado a obedecer uma ordem contrária à lei de Deus  que diz: “Não Matar.” Uma lei imoral não deve ser cumprida por ninguém. Soldados, em nome de Deus e no nome deste povo sofrido, cujos clamores sobem até ao céu cada dia mais tumultuosos, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno em nome de Deus: cessem a repressão.”

Dom Oscar Romero vive em todas as lutas libertárias!

Belo Horizonte, MG, Brasil, 23 de março de 2012.
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[1] Frei e padre carmelita; mestre em Exegese Bíblica ; professor de Teologia Bíblica, assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: gilvander.moreira

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sexta-feira, 23 de março de 2012

O cristianismo é para todos e a todos oferece tudo.


As reflexões sobre a fé e, de modo especial, sobre a fé cristã, tornam muito clara a conclusão, de que “crer” de verdade  significa,  na vida cotidiana, ter um compromisso muito sério com Deus e com o seu projeto do Reino.  Quer dizer,  quem  “crê” – deve demonstrar  isso na sua vida, ter uma “ vida de fé”.

Acredito que esta verificação, comparando a “fé” e a vida de uma pessoa, pode ser considerada  como  um “teste” da fé. Na verdade, é um teste, e serve como “trampolim” para constatações muito sérias e tristes, ao olharmos  a realidade do mundo em que vivemos.

Hoje, dois mil anos depois de Cristo, as estatísticas são claras:  a população do nosso planeta ultrapassou 6 bilhões de pessoas, e 1/3 desse total são cristãos.  Católicos – são mais de 1 bilhão (17,4%). Mas como é este nosso mundo? Como ele vai?  Talvez haja quem dirá:              “o mundo vai bem, não tem nada de errado”. Tem direito de achar assim. Mas não é assim!

Não podemos negar que os fatos gritam e as vozes de “alerta” soam cada vez mais frequentes e fortes. O nosso mundo “anda” nos caminhos tortos de desigualdade, de injustiça, preconceito, egoísmo e prepotência de uns, e a miséria e morte de outros seres humanos, tanto indivíduos, quanto de nações inteiras e  continentes.  A degradação da natureza, a poluição do Meio Ambiente, o  risco de contaminar os oceanos com a exploração do petróleo descoberto nas suas profundezas, a ameaça de extinção de várias espécies de animais.  Parece até que o “caminho da morte’  está sendo construído com mais premeditação e empenho.  Por que será?

Por outro lado, o caminho do Reino, indicado por Deus, em Jesus Cristo, não raras vezes fica “desacreditado” e “deixado prá lá” por muitos (não quer dizer todos!),  até mesmo esses,  que professam a fé em Jesus Cristo, ou que assumiram a evangelização como o objetivo e vocação da sua vida.  São  numerosos os exemplos, sem exagero.

As perguntas, neste contexto, voltam à tona com toda a força: Onde está hoje a força dos cristãos? Por que eles não trabalham com o máximo de  empenho para ajudar ao “mundo” voltar ao caminho  certo?  Por que o discurso e as palavras não ressoam  devidamente na vida concreta da sociedade e não atingem a política,  educação, universidades,  saúde,  costumes, a ética?   Por que existe muita omissão e falta de convicção nos cristãos de hoje?

Ou, será, porque a fé cristã não é  verdadeira e autêntica nos corações dos que se consideram cristãos?   Talvez ela esteja  estagnada, formalista e acomodada demais?  E a nossa fé? ...

O “eco” dessas perguntas precisa-se repetir muitas e muitas vezes em cada um de nós, cristãos, para percebermos, talvez, a necessidade de votarmos à verdadeira fonte da nossa fé, e novamente dizer ao Jesus Cristo; “Senhor, o que queres que eu faça?”

Precisamos ser justos e reconhecer que existem muitos exemplos de pessoas e comunidades comprometidas com o Evangelho de Jesus Cristo, lutando com fervor pelo Reino de Deus e a sua justiça. São os frutos da fé madura.  No entanto, para  imprimir na sociedade e no mundo contemporâneo  a marca do Amor verdadeiro, revelado pelo próprio  Filho de Deus – Jesus Cristo, que é o único caminho da salvação para a humanidade, é necessário o testemunho, a coragem, o engajamento e a fé de todos os cristãos.  E a fé tem que ser viva e autêntica!
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O texto  abaixo, de Ferdinand Krenzer,  traz ponderações finais sobre a questão da fé.


(6) 
O conteúdo da fé

Quando se fala sobre a fé que abraçamos, sobre a postura de fé e sobre o processo do ato de fé, torna-se necessário falar também do propósito e do conteúdo da fé. Não basta que alguém creia;  deve existir também algo “em que se crê”. Vamos agora, então, considerar o assunto do conteúdo da fé, sobretudo quando se trata de Jesus, porque n’Ele se resume todo o problema da fé.

Quando o ser humano toma conhecimento, e não tem mais dúvida, que na  história da humanidade, ou na vida de  pessoas concretas, o próprio Deus chama-o  e convida ao  encontro, ele não pode ficar “em cima do muro” (neutro), ou colocar-se contra Ele.

A quem Jesus encontrou, verdadeiramente, uma vez, esse não pode passar adiante, fingindo que não O viu. Terá que parar em frente dele e decidir. E por quê?  Porque encontrando  Jesus, o homem vai ouvir uma reivindicação absoluta, acima da qual não existe nada maior, nem mais importante. Aqui, encontra-se a plenitude da verdade, aqui foi  pronunciada a decisiva palavra de Deus e definitivamente anunciado o seu direito exclusivo e o seu reinado. Ademais, aqui também ao homem foi oferecida a salvação e o amor abrangente de Deus. Por isso, cada um que procura e pergunta, encontra-se no caminho que leva ao encontro com Deus, em Jesus Cristo. (...)

A fé cristã é inimitável e insubstituível por qualquer outra religião; sim, ela ultrapassa, abrange e complementa plenamente cada religião que existe no mundo. O cristianismo  é para todos e oferece a todos - tudo.

Para extrair, apresentar e cada vez melhor entender esta verdade, existe a ciência da fé e a ciência sobre a fé.

A Teologia faz uma cuidadosa ponderação (reflexão) de tudo, o que foi nos dado para crer, e não é intrometida e infrutífera especulação. Ela fala de modo contido e com muita cautela sobre Deus e sobre tudo aquilo, o que Ele nos revelou.   

Os dogmas (frases que expressam as verdades da fé) não são nada mais, do que sempre novo e melhor entendimento pela Igreja das verdades reveladas por Deus.

“Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos trará à memória quanto vos disse.” (Jo 14, 26).

A meditação – é o aprofundamento da fé através da própria experiência. Ela leva a pessoa à aplicar na própria vida o entendimento e conhecimento da fé. Uma pessoa  quanto mais aprofunda o seu entendimento da fé, passa a pronunciar a  profissão da fé com a própria voz, e a cada vez – com as novas palavras.

Viver com a fé

A fé, no entanto, não é apenas um assunto interno da pessoa, a sua coisa particular, mas, ao contrário, ela transparece  no seu comportamento diante dos outros. Ela precisa ser  consequente, penetrando  todo o ser do homem e tornando-se visível nos seus atos. (...)

“Porque quem observar  toda a Lei mas infringir um só preceito, vem a ser réu de todos.” (Tg 2, 10). Ela precisa passar de teste na vida cotidiana. Por isso o “sim” que está no ato de fé de uma pessoa não pode ficar só formal ou simbólico, mas deve marcar todas as ações e atividades que fazem parte da vida. Crer não significa apenas reconhecer algo como verdade, não é o “sim” teórico em relação à missão de Jesus Cristo, mas é a forma da vida toda. Nela a teoria e a prática se unem. A fé é a diretriz (Buber) e o caminho ( Brox). Precisa constantemente, durante toda a vida, “estar” experimentando a fé (Hermann). Assim sendo, os cristãos divididos unem consigo duas frases muito discutidas, que na verdade se complementam:

“Pois a justiça nele se revela de fé a fé, conforme está escrito: O justo vive da fé” (Rm 1, 17) e também “Queres saber, homem insensato,  como a fé sem as obras é estéril? (Tg 2, 20). Acreditável é apenas o amor (Balthasar).

Resumindo

O homem (também de hoje) pode crer, e isto é algo mais sensato que tudo o que ele pode fazer (Chesterton). Se olhar bem para as “saudades” do coração do homem, ele quer crer (ser homem crente). Ele deveria crer.  Ele deve ser o homem de fé, se não quiser perder o sentido da sua vida. O cristão verdadeiro tem que “crer”  seriamente, para que vendo a credibilidade da sua existência – o homem descrente e ateu pudesse chegar à fé.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 90-91)*
Continua...
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me  do  livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben”  e,  usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando  alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.

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