O tema da fé é muito interessante e vasto. Faz parte da vida de cada ser humano. Mesmo quando alguém não quer falar sobre isso ou, então, faz “pose” de que isso não o interessa, o assunto não deixa de ser importante, porque sempre pode “voltar” ou “aparecer” nos momentos que menos se espera.
Quanto à fé cristã, ela é, na sua essência, Graça, isto é, obra de Deus. Em nada resultarão os esforços humanos se Deus não derramar a sua graça. A realização, a certeza e finalização do ato da fé dependem exclusivamente da Graça. Porém, precisamos sempre lembrar de uma coisa: Deus sempre sai primeiro ao encontro do ser humano. Resta ao homem reconhecer a sua verdadeira condição de existência, abrir os braços e levantá-los a Deus num gesto de louvor, entrega e compromisso. Deus espera pacientemente, respeitando a liberdade do ser humano, oferecendo-lhe o seu Amor.
O homem que crê sente que toda a sua vida está “nas mãos” de Deus. Da sua fé em Deus flui a confiança, que lhe possibilita dirigir-se incondicionalmente a Jesus, em que vê o próprio Deus. Mesmo quando a sua vida continua carregada de muitos problemas e sofrimento, a pessoa que crê pode contar com Deus ao seu lado. Precisa mais?
Pessoalmente, considero esta oportunidade de pensar, refletir e de aprender (por que não?) sobre o processo que leva à fé, e sobre o próprio ato de fé, como muito útil para todas as pessoas que buscam fortalecer a sua fé cristã. O processo da fé é dinâmico, portanto é necessário o zelo para estar sempre alimentando a fé, caso contrário, ela enfraquece, permitindo a infiltração de superstições, afastando o homem de Deus. Revisar esse processo, verificar os pontos fracos, efetuar mudanças, pedir a Deus que “fortaleça a nossa fé” – é uma necessidade de todo cristão.
Quando se fala da fé, surgem também outras questões e perguntas, por exemplo: Como entender que nem todos os homens acreditam? Por quê? O que está em jogo? Sabemos que alguns não querem, e são livres para fazê-lo. Outros tentam, mas não conseguem. Outros ainda, no fundo sentem a necessidade da fé verdadeira, mas não tem coragem para dar os primeiros passos, sobretudo quando rejeitam os, não poucos, exemplos de fé superficial, ou falsa, ou descompromissada e ostensivamente estéril. Estas são as dificuldades que marcam a vida de muita gente. O que, então, é necessário para uma pessoa chegar à fé? Como é esse caminho?
Sobre esta questão fala o texto abaixo, de Ferdinand Krenzer. É muito enriquecedor.
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Em busca da fé
Como então uma pessoa descrente (descrente ou ainda descrente, ou já ateu) pode chegar a esse encontro com Jesus, e com isso – à fé?
1. Precisará assumir postura certa. Tem que se empenhar para de fato procurar, fazer as perguntas adequadas e ser um ansioso “ouvinte da palavra’ (Rahner). Um indivíduo assim precisa estar pronto para escutar, obedecer, ser humilde e ultrapassar os limites da sua razão e vontade. Precisa reconhecer que ele é um ser criado, limitado, um ser corporal e espiritual, sujeito a mudanças.
É necessário ele se libertar dos preconceitos, dos quais o pior é ficar convencido estar livre das superstições. Se não cumprir essas condições prévias, a conversa sobre o tema da fé ficará infrutífera e sem sentido. O homem contemporâneo aparentemente é “insensível a Deus” (A. Delp), permanece “em contradição” (E. Brunner), e tudo isso por perder o “Encontro” decisivo (F. Sagan), que precisa-lhe ser novamente possibilitado.
O homem, na verdade, não deveria fazer mais, a não ser fechar com a mão a sua boca e silenciar diante de Deus. Deste jeito a pessoa que está em busca, chegará a afirmar que gostaria de crer.
2. É necessário entrar fundo para trabalhar os problemas. Não vai fugir das respostas para nenhuma das perguntas e será crítico diante de cada resposta. O homem que busca a fé deve sempre de novo ler o Evangelho, para entendê-lo gradativamente. E nele encontrará Jesus, a sua palavra, a sua incomum figura. Vai ficar perguntando: Quem é ele? O que propriamente ele quer de mim?
Nesse nada fácil processo de aproximação e de esclarecimento de problemas, ficará claro para ele que em Jesus encontrará não só um grande homem, mas ao mesmo tempo o próprio Deus, e que tudo, na realidade, depende d’Ele.
Em seguida, a pessoa que está em busca da fé vai esbarrar na Igreja viva. Agora vai querer, da sua parte, repetir a experiência da fé, a mesma dos primeiros cristãos, que eram testemunhas de Jesus. Encontrará as pessoas que acreditam e por isso estão com Cristo e com Deus.
Para uma pessoa descrente um encontro assim torna-se uma ponte, que leva à fé. “Quem vos escuta, escuta a Mim” (Lc 10, 16). Nem mesmo o fato de que nem todos aqueles que se consideram cristãos ou pertencem à Igreja representam dignamente o Cristo, pois deformam e escurecem a imagem dele com as suas atitudes negativas e culpas – não mais abala essa pessoa. Ao contrário, o exemplo da autêntica vida cristã dos que fielmente imitam o Cristo tem a força de convencer e conquistá-la.
Em todo caso, o cristão autêntico mostra com a sua vida o Cristo, cujo nome carrega. Ele externa Jesus, mesmo sendo apenas “segundo Cristo”. Tudo isso, para um homem descrente, significa a possibilidade: que ele também poderia crer.
3. Enfim, tudo depende da decisão certa. O homem em busca da fé não foge do encontro, que está sendo lhe proposto. No entanto, esse encontro só poderá acontecer se contar com o apoio da graça – que não depende do homem, mas de Deus. Deus concede ao homem o dom da fé não porque este está se esforçando, mas enquanto ele faz esse esforço e demonstra o desejo de crer. A graça externa, que existe na pregação, na Bíblia, na Igreja ou no encontro com os homens que acreditam, ajuda a nivelar os preconceitos da pessoa que busca a fé. A graça interna tenta conquistar essa pessoa, livrá-la de si mesma, curar, aliviar, esclarecer, ajudar – sem obstruir a sua própria livre decisão.
Também o homem descrente está cercado por graça, porque Deus quer que todos os homens se salvem. Tudo isso, porém, não viola a liberdade humana e significa para ele: realmente eu deveria acreditar. Pode consentir que a fé lhe seja dada, e, da sua parte, deve abrir-se para ela.
As etapas de aproximação do homem da fé em Deus, a Bíblia apresenta com a ajuda de diversos quadros: “Quando estou angustiado, busco o Senhor”(Sl 77, 3). “Piedade de mim, amigos, que me feriu a mão de Deus!” (Jó 19, 21). “Sinto-me pequeno, que poderei responder-te? Porei minha mão sobre a boca” (Jó 40, 4). “Com a ajuda de meu Deus escalo muralhas” (Sl 18, 30).
Na vida do homem que encontrou Jesus Cristo existem várias etapas. Vê Jesus que se aproxima. Pergunta: Quem é esse? Jesus deixa-se ver e ouvir, permite ser entendido e compreendido, deixa-se a conhecer: Sou eu. De repente os olhos de pessoas se abrem, entende o significado das palavras que até agora não entendia, e agora já sabe: É o Senhor! Pronuncia isto com toda clareza e começa a perguntar a si mesmo: Quem sou eu em relação a Ele? O que Ele significa para mim? O que Ele quer que eu faça?
A partir deste momento o homem sabe “em quem acreditou” (mesmo que ainda insuficiente), e agora tentará acreditar plenamente: ”É este também o motivo por que estou sofrendo a presente provação. Mas não me queixo. Sei em quem pus minha confiança e estou certo de que é bastante poderoso para guardar meu depósito até aquele dia” (2 Tim 1, 12). (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 87-89)*
Continua..._________________
*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me do livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben” e, usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.
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