Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Perguntando sobre a Fé.


É interessante debruçar-se um pouco sobre o tema da fé, que à primeira vista parece tão óbvio e claro para todos nós.

Por quê? Porque num certo sentido a vida do ser humano numa sociedade basicamente baseia-se na fé. É claro que se trata aqui da fé no sentido  de confiar, dar crédito, acreditar.  Já imaginou se ninguém não  acreditasse na palavra dos outros, na palavra do médico, do engenheiro, do professor, do farmacêutico...? E se as informações das pesquisas, estudos, publicações, jornais, bulas de remédios, etiquetas de mercadorias, etc. não merecessem a nossa fé? Como seria? Será que nós temos como verificar e provar que tudo isso é verdade? – É óbvio que não.  Mas, mesmo assim acreditamos que esses dados são verdadeiros, que as palavras dos outros dizem a verdade. Obviamente, temos consciência de que  podemos ser “usados” e  manipulados por parte de alguns, às  vezes simplesmente enganados por aqueles que se aproveitam da nossa “boa fé”, mas – de modo geral – acreditamos.

Pois é, talvez poucos dão-se conta que todos nós, homens e mulheres, mesmo os mais céticos e descrentes, precisamos  acreditar nos outros e nas coisas para a nossa vida ser viável.

Existe também a fé religiosa, que possibilita ao ser humano a comunicação e o encontro com Deus.

Temos, portanto, muitas formas de fé, de expressar no que se acredita e confia. Frequentemente o sentido da palavra “fé” assume diferentes formas dependendo do contexto e  do seu objeto. E por isso também, muitas vezes, as pessoas podem ter dificuldade de entender a fé religiosa, julgando-a com os mesmos critérios aplicados  à todas as outras formas de fé.  Não poucas vezes existe uma “confusão” de conceitos e opiniões sobre o tema da fé.

As reflexões sobre este tema, que a partir de agora serão postadas neste blog, podem nos ajudar a clarear algumas  dúvidas e ajudar a entendermos  melhor o  valor da fé, quando ela é autêntica.

Como  base para estas reflexões usarei as explanações sobre esse assunto de autoria do Ferdinand Krenzer*.  Para começar, o texto  abaixo fala  dos conceitos errados de fé,  que só fica completa quando envolve o homem todo. Não deixe de ler.

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(1)
O “por quê?” de uma reflexão sobre a fé.

“Inacreditável”

Esta é a palavra que reflete a situação do homem contemporâneo.  Ele considera  a Fé como difícil demais,  na verdade – quase impossível;  ou faz oposição às consequências, com as quais ele deveria arcar caso fosse crente; ou, enfim,  despreza a fé como algo indigno do ser humano, algo infantil e inaceitável. Descrença, portanto, significa  rejeição, ou indiferença , ou também arrogância.

Descrença como falta de fé pode significar a necessidade de fé no homem dos dias atuais  e pode sinalizar na sua (possível) incapacidade para crer.
Seja como for, a fé se tornou neste duplo sentido, algo digno de reflexão. Precisa, então, começar  desde o início e, inicialmente perguntar pela fé.
Talvez possamos chegar a um novo entendimento da fé -  como um encontro pessoal com Deus vivo.  A fé constitui a raiz e o início da salvação (Concílio de Trento), e é a principal decisão e a atitude básica da vida cristã. É preciso falar do problema da fé, antes mesmo de analisar o objeto dessa fé.

Conceitos errados da fé.

Na linguagem popular a fé é considerada como ignorância. Quando não se sabe de alguma coisa com toda a certeza  mas,  ao contrário, apenas se suspeita, acredita e supõe, então se usa  erradamente a palavra: fé.  É por esta razão, que o homem contemporâneo, que cultua a ciência, sem investigar o caso simplesmente declara: “acreditar significa não saber”. Esta afirmação, apesar de tudo,  contêm uma partícula de verdade, porque o homem  nunca  consegue saber de tudo em absoluto.  Mas não é só isso. O homem de hoje tem dificuldade para aceitar a possibilidade de chegar pela fé a um tal conhecimento, que ultrapassa as possibilidades da razão.  Ele não se dá conta de que está  conquistando uma forma  superior e mais perfeita de entendimento e da compreensão da realidade, o que nunca conseguiria somente pelo uso da razão.
 
Acreditar não significa somente: saber.  Significa, melhor dizendo, saber melhor. Também, acreditar não significa somente: sentir. Quem entende a fé como um sentimento cego, esse comete um erro nada menor do que o anterior, porque nem no momento de  acreditar e nem no processo de desenvolvimento da fé a razão fica excluída, ao contrário, a razão permanece altamente ativa, porém sozinha não é suficiente. Acreditar também não significa somente: querer.  Não se consegue chegar à fé, forçosamente, apenas com a vontade. 

Torna-se indispensável a ajuda e a  colaboração tanto da razão, da vontade, como também  dos sentimentos da pessoa, para que tudo isso se torne único ato vivo, envolvendo totalmente o ser humano.  Definitivamente, a fé significa a experiência do dom, de uma nova aptidão.

A fé incompleta murcha e se transforma em crendices. Quando  não  plena, fica como se fosse não realizada, e, então, procura “saída” nas superstições.  Até mesmo  a descrença pode ser a mais discreta ânsia pela fé.  Pode ser “uma fé anônima” (Rahner). A desconfiança, na verdade,  quer confiar e conquistar a confiança. O ser humano necessita de alguém em quem poderia  confiar. Quem pergunta pela  fé e a procura, esse não fica muito longe dela.(...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 81-82)**
Continua...
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* Krenzer Ferdinand -  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.
**Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me  do  livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben”  e,  usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando  alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.


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