Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 23 de março de 2012

O cristianismo é para todos e a todos oferece tudo.


As reflexões sobre a fé e, de modo especial, sobre a fé cristã, tornam muito clara a conclusão, de que “crer” de verdade  significa,  na vida cotidiana, ter um compromisso muito sério com Deus e com o seu projeto do Reino.  Quer dizer,  quem  “crê” – deve demonstrar  isso na sua vida, ter uma “ vida de fé”.

Acredito que esta verificação, comparando a “fé” e a vida de uma pessoa, pode ser considerada  como  um “teste” da fé. Na verdade, é um teste, e serve como “trampolim” para constatações muito sérias e tristes, ao olharmos  a realidade do mundo em que vivemos.

Hoje, dois mil anos depois de Cristo, as estatísticas são claras:  a população do nosso planeta ultrapassou 6 bilhões de pessoas, e 1/3 desse total são cristãos.  Católicos – são mais de 1 bilhão (17,4%). Mas como é este nosso mundo? Como ele vai?  Talvez haja quem dirá:              “o mundo vai bem, não tem nada de errado”. Tem direito de achar assim. Mas não é assim!

Não podemos negar que os fatos gritam e as vozes de “alerta” soam cada vez mais frequentes e fortes. O nosso mundo “anda” nos caminhos tortos de desigualdade, de injustiça, preconceito, egoísmo e prepotência de uns, e a miséria e morte de outros seres humanos, tanto indivíduos, quanto de nações inteiras e  continentes.  A degradação da natureza, a poluição do Meio Ambiente, o  risco de contaminar os oceanos com a exploração do petróleo descoberto nas suas profundezas, a ameaça de extinção de várias espécies de animais.  Parece até que o “caminho da morte’  está sendo construído com mais premeditação e empenho.  Por que será?

Por outro lado, o caminho do Reino, indicado por Deus, em Jesus Cristo, não raras vezes fica “desacreditado” e “deixado prá lá” por muitos (não quer dizer todos!),  até mesmo esses,  que professam a fé em Jesus Cristo, ou que assumiram a evangelização como o objetivo e vocação da sua vida.  São  numerosos os exemplos, sem exagero.

As perguntas, neste contexto, voltam à tona com toda a força: Onde está hoje a força dos cristãos? Por que eles não trabalham com o máximo de  empenho para ajudar ao “mundo” voltar ao caminho  certo?  Por que o discurso e as palavras não ressoam  devidamente na vida concreta da sociedade e não atingem a política,  educação, universidades,  saúde,  costumes, a ética?   Por que existe muita omissão e falta de convicção nos cristãos de hoje?

Ou, será, porque a fé cristã não é  verdadeira e autêntica nos corações dos que se consideram cristãos?   Talvez ela esteja  estagnada, formalista e acomodada demais?  E a nossa fé? ...

O “eco” dessas perguntas precisa-se repetir muitas e muitas vezes em cada um de nós, cristãos, para percebermos, talvez, a necessidade de votarmos à verdadeira fonte da nossa fé, e novamente dizer ao Jesus Cristo; “Senhor, o que queres que eu faça?”

Precisamos ser justos e reconhecer que existem muitos exemplos de pessoas e comunidades comprometidas com o Evangelho de Jesus Cristo, lutando com fervor pelo Reino de Deus e a sua justiça. São os frutos da fé madura.  No entanto, para  imprimir na sociedade e no mundo contemporâneo  a marca do Amor verdadeiro, revelado pelo próprio  Filho de Deus – Jesus Cristo, que é o único caminho da salvação para a humanidade, é necessário o testemunho, a coragem, o engajamento e a fé de todos os cristãos.  E a fé tem que ser viva e autêntica!
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O texto  abaixo, de Ferdinand Krenzer,  traz ponderações finais sobre a questão da fé.


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O conteúdo da fé

Quando se fala sobre a fé que abraçamos, sobre a postura de fé e sobre o processo do ato de fé, torna-se necessário falar também do propósito e do conteúdo da fé. Não basta que alguém creia;  deve existir também algo “em que se crê”. Vamos agora, então, considerar o assunto do conteúdo da fé, sobretudo quando se trata de Jesus, porque n’Ele se resume todo o problema da fé.

Quando o ser humano toma conhecimento, e não tem mais dúvida, que na  história da humanidade, ou na vida de  pessoas concretas, o próprio Deus chama-o  e convida ao  encontro, ele não pode ficar “em cima do muro” (neutro), ou colocar-se contra Ele.

A quem Jesus encontrou, verdadeiramente, uma vez, esse não pode passar adiante, fingindo que não O viu. Terá que parar em frente dele e decidir. E por quê?  Porque encontrando  Jesus, o homem vai ouvir uma reivindicação absoluta, acima da qual não existe nada maior, nem mais importante. Aqui, encontra-se a plenitude da verdade, aqui foi  pronunciada a decisiva palavra de Deus e definitivamente anunciado o seu direito exclusivo e o seu reinado. Ademais, aqui também ao homem foi oferecida a salvação e o amor abrangente de Deus. Por isso, cada um que procura e pergunta, encontra-se no caminho que leva ao encontro com Deus, em Jesus Cristo. (...)

A fé cristã é inimitável e insubstituível por qualquer outra religião; sim, ela ultrapassa, abrange e complementa plenamente cada religião que existe no mundo. O cristianismo  é para todos e oferece a todos - tudo.

Para extrair, apresentar e cada vez melhor entender esta verdade, existe a ciência da fé e a ciência sobre a fé.

A Teologia faz uma cuidadosa ponderação (reflexão) de tudo, o que foi nos dado para crer, e não é intrometida e infrutífera especulação. Ela fala de modo contido e com muita cautela sobre Deus e sobre tudo aquilo, o que Ele nos revelou.   

Os dogmas (frases que expressam as verdades da fé) não são nada mais, do que sempre novo e melhor entendimento pela Igreja das verdades reveladas por Deus.

“Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos trará à memória quanto vos disse.” (Jo 14, 26).

A meditação – é o aprofundamento da fé através da própria experiência. Ela leva a pessoa à aplicar na própria vida o entendimento e conhecimento da fé. Uma pessoa  quanto mais aprofunda o seu entendimento da fé, passa a pronunciar a  profissão da fé com a própria voz, e a cada vez – com as novas palavras.

Viver com a fé

A fé, no entanto, não é apenas um assunto interno da pessoa, a sua coisa particular, mas, ao contrário, ela transparece  no seu comportamento diante dos outros. Ela precisa ser  consequente, penetrando  todo o ser do homem e tornando-se visível nos seus atos. (...)

“Porque quem observar  toda a Lei mas infringir um só preceito, vem a ser réu de todos.” (Tg 2, 10). Ela precisa passar de teste na vida cotidiana. Por isso o “sim” que está no ato de fé de uma pessoa não pode ficar só formal ou simbólico, mas deve marcar todas as ações e atividades que fazem parte da vida. Crer não significa apenas reconhecer algo como verdade, não é o “sim” teórico em relação à missão de Jesus Cristo, mas é a forma da vida toda. Nela a teoria e a prática se unem. A fé é a diretriz (Buber) e o caminho ( Brox). Precisa constantemente, durante toda a vida, “estar” experimentando a fé (Hermann). Assim sendo, os cristãos divididos unem consigo duas frases muito discutidas, que na verdade se complementam:

“Pois a justiça nele se revela de fé a fé, conforme está escrito: O justo vive da fé” (Rm 1, 17) e também “Queres saber, homem insensato,  como a fé sem as obras é estéril? (Tg 2, 20). Acreditável é apenas o amor (Balthasar).

Resumindo

O homem (também de hoje) pode crer, e isto é algo mais sensato que tudo o que ele pode fazer (Chesterton). Se olhar bem para as “saudades” do coração do homem, ele quer crer (ser homem crente). Ele deveria crer.  Ele deve ser o homem de fé, se não quiser perder o sentido da sua vida. O cristão verdadeiro tem que “crer”  seriamente, para que vendo a credibilidade da sua existência – o homem descrente e ateu pudesse chegar à fé.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 90-91)*
Continua...
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me  do  livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben”  e,  usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando  alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.

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