Quem realmente é Jesus Cristo? – esta pergunta constituía o fundo das reflexões anteriores postadas neste Blog. É importante não ter “pressa” para podermos construir e dar a nós mesmos uma resposta autêntica e condizente com a verdade. Precisamos “arranjar” um pouco mais de tempo da nossa vida para efetuar a interiorização deste assunto tão importante. Afinal, trata se de Jesus Cristo.
Não há dúvida que Ele é alguém único e incomum, que reivindica o direito exclusivo de ser o único mediador entre o Pai e a humanidade. Ele dá a sua vida por todos. Morto na cruz, ressuscita ao terceiro dia. Continua vivo e promete a vida eterna a todos que crerem n’Ele. Diz que vai estar sempre conosco.
Cristo ressuscitado sai ao encontro de cada ser humano que O procura com sinceridade. Neste encontro, frente a frente com Jesus, o homem precisa tomar importante decisão: ou O aceita com convicção, a Ele entrega a sua vida e se compromete com o seu Reino, ou não. Porém, se não optar pessoalmente por Ele o ser humano ficará só.
Voltamos à pergunta: Quem é realmente Jesus Cristo? Na verdade, estamos diante de um grande mistério. Se, por um lado, Jesus permite que o homem possa O conhecer e encontrar, por outro – Ele continua Deus: junto ao Pai, o Sagrado, o Infinito, o Mistério...! Como participante da nossa humanidade, Jesus revela-nos o próprio Deus e explica o convite que Deus faz ao ser humano. Porém, o mistério de Jesus Cristo nunca poderá ser esgotado ou esclarecido totalmente. Aqui, a fé em Jesus é a fé em Deus.
Talvez agora possamos perceber a importância da fé. E não se trata de qualquer fé, mas da fé verdadeira em Cristo verdadeiro. É exclusivamente através dessa fé que o ser humano pode corretamente entender quem realmente é Jesus. E cada um de nós deve dar a resposta.
Faço o convite para fazermos uma leitura atenciosa do texto abaixo. O autor, Ferdinand Krenzer, fornece-nos uma reflexão muito enriquecedora em relação a pergunta: Quem é Jesus Cristo? É imperdível.
WCejnog
(11)
O mistério da fé
Exclusivamente através da fé temos condição para saber quem realmente é Jesus, e só assim podemos corretamente entendê-lo. A pessoa em que Jesus Cristo suscita a fé começa agora crer junto com Ele, sentindo a sua presença. Deste modo Jesus que prega torna-se o Cristo em que se acredita.
A primeira, a mais simples e ao mesmo tempo a mais profunda profissão de fé é colocada dentro da fórmula: “Jesus Cristo (Messias) e Kyrios (Senhor)”. Assim, o mistério de Jesus de Nazaré, deste Jesus que reivindica o direito para ser o último e pleno operador de salvação, que após sua morte aparece vivo e continua agindo, permanecendo nas suas testemunhas, de quem a chegada se espera – foi apenas sinalizado e descrito, mas não esgotado nem esclarecido totalmente.
É a teologia que se ocupa com os estudos que permitem melhor entender, apurar as descrições e pronunciamentos para serem eles mais corretos possíveis, explicar e interpretar Aquele, que ultrapassa todas as nossas possibilidades intelectuais. A teologia sabe que Jesus não só merece ser investigado, mas também merece uma reflexão. Refletindo e meditando, a teologia tenta aproximar um pouco mais para nós o mistério de Deus. E faz isso muito cautelosamente, de vez enquanto tropeçando e travando, tentando expressar esse Mistério com as palavras e deixando também espaço para que o próprio Jesus fale.
O conhecimento deste tipo, aperfeiçoado e aprofundado, mostra-nos uma visão momentânea dentro da teologia dogmática, que deve ser constantemente corrigida e complementada. E quando esse conhecimento, fruto da investigação teológica, se confronta com os desentendimentos e com as doutrinas errôneas, fica cada vez mais claro quem foi, quem é e quem será Jesus.
Jesus Cristo sobrevive todas as investigações falsas, todas as provas com as quais se tenta eliminá-lo, acabar com Ele. Jesus não combina com nenhuma concepção pronta. Ele é e permanecerá Único, Não-inventado, Incomparável, Sem-início, Diferente, Estranho, que não é possível encaixá-lo em nenhuma pronta moldura, o Grande Desconhecido, porém Próximo, Confiável, que permite para ser visto, e o qual podemos ver quando nos aproximamos d’Ele.
Jesus Cristo sobrevive todas as investigações falsas, todas as provas com as quais se tenta eliminá-lo, acabar com Ele. Jesus não combina com nenhuma concepção pronta. Ele é e permanecerá Único, Não-inventado, Incomparável, Sem-início, Diferente, Estranho, que não é possível encaixá-lo em nenhuma pronta moldura, o Grande Desconhecido, porém Próximo, Confiável, que permite para ser visto, e o qual podemos ver quando nos aproximamos d’Ele.
Logo no Novo Testamento tem início uma reflexão deste tipo e a descrição do mistério de Jesus. Existiam já prontos conceitos e também os nomes relacionados a Ele, que depois, em parte, novamente foram deixados de lado ou pelo menos corrigidos. De um lado ou do outro as pessoas tentavam aproximar-se d’Ele. Partindo de um acontecimento muito particular, o qual foi a ressurreição, começaram a surgir as perguntas direcionadas ao passado, de onde Ele era; começou a tentativa de reconstruir a pré-história de Jesus e estacionou-se no fato de que a sua precedência é mistério de Deus. Partindo do mesmo fato perguntava-se também aonde Ele foi, e de onde, finalmente, Ele voltará de novo, depois do fim dos tempos. Perguntava-se também onde Ele se encontra agora, o que pretende fazer, como está a sua “causa”, que direção a existência de Jesus imprimiu no trajeto da história. O conceito cada vez mais pleno que temos de Jesus teve vários degraus de formação e isso pode ser explicado do jeito que já existe no Novo Testamento.
O mistério de Jesus foi esclarecido, mas apesar disso, continua encoberto. A sua figura têm vários significados e permite várias e diversas interpretações, mas constitui somente o esquema. Jesus tem pelo menos dois significados: homem / Deus. O que aconteceu é que a partir desse fato nunca deixou de existir a abordagem de dois diversos, mutuamente se excluindo, significados: “Jesus segundo carne - Jesus segundo espírito” (2Cor 5,16).
Para enfrentar esta situação precisamos novamente repetir aqui a pergunta: “Será que Cristo é dividido?” (1Cor 1,13). Aqui trata-se de Jesus Cristo inteiro e não apenas pela metade, mal entendido, erradamente interpretado, diminuído. “Eu me admiro que passastes tão depressa daquele que vos chamou à graça de Cristo, para um outro evangelho. De fato, não há dois evangelhos. O que há, são pessoas que semeiam a confusão entre vós e pretendem deturpar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo descido do céu vos anuncie um evangelho diferente do que vos anunciamos, que seja anátema (excomungado). Eu já vo-lo disse antes, e agora repito: Se alguém vos pregar outro evangelho diferente do que recebestes, seja anátema” (Gal 1, 6-9).
Como também não existe nenhum outro Jesus. “Por isso, faço-vos saber que ninguém, falando no Espírito de Deus, pode dizer “maldito seja Jesus” e ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor!’ senão no Espírito Santo” (1Cor 12,3).
O prólogo do Evangelho segundo São João volta bem mais para trás – para o início de tudo: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. (...) E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (Jo 1,1-14). O texto do Apocalipse de São João fecha o quadro, onde Jesus é chamado o Primeiro e o Último (Ap 1,18). Esta é a informação completa sobre Jesus Cristo. Precisaria aqui, apenas, adicionar ainda alguns detalhes.
E assim o estudo sobre Jesus Cristo (cristologia) tenta sempre de novo
atualizar as informações sobre Ele, clareando as questões através das perguntas e esclarecimentos, cada vez mais detalhadas e profundas. Todavia, a pergunta dirigida a Jesus: “Quem és Tu?” – permanece atual.
Talvez no início demos uma demasiada atenção ao problema da existência divina de Jesus, que antecedia o seu nascimento da carne, e, também deixamos de analisar a dinâmica histórica do homem Jesus, que vivia e atuava entre nós, seres humanos. Talvez faltou-nos olhar para frente, com devida coragem, para ver o Cristo que há de vir.
A pergunta sobre Jesus continua muito atual, penetra cada vez mais, e chega cada vez mais até Ele. Encontrando-O, avança ainda mais para frente, não se satisfazendo com a fé pequena e insuficiente.
Analisando a questão de Jesus e da sua pessoa, a fé não verdadeira rapidamente desce para o abismo da análise unilateral, que despreza os outros aspectos. Jesus somente homem e nada mais. Jesus somente Deus e nada mais além disso. A história da fé e da fé falsa oscila entre essas duas posições drásticas.
Era necessário muito tempo dedicado às discussões e diálogo, até que foi determinada a fórmula aceita pelo Sínodo de Chalcedônia:
“Acreditamos num único e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que possui duas naturezas (Divina e humana) entre si não misturadas, não trocadas, não divididas, não separadas”.
Ou , então, a frase da carta do papa Léo I (séc. V):
“Recebendo autêntica e plena natureza de um homem verdadeiro nasceu o verdadeiro Deus, que tem em plenitude tudo isso que é dele e que é nosso”.
Em relação a Jesus Cristos somente esta fé é correta, somente ela considera um Jesus verdadeiro. Somente deste jeito abrange-se Jesus Cristo inteiro, verdadeiro; somente assim preserva Ele o seu pleno significado. Alguém que fosse somente Deus não estaria nos interessando – não poderia nos ajudar. Ou Alguém que fosse somente homem, não teria para nós nenhum sentido – não poderia fazer nada demais.
Somente quando Jesus Cristo é Duo-Úno, “que das duas partes fez uma só” (Ef 2,14), Ele é este Único que simultaneamente fica totalmente do lado de Deus e do lado do ser humano. Torna-se único mediador (1Tim 2,5), que permanece em plena relação com Deus e com os homens, e que une em si o que é humano e sagrado. Ele reina simultaneamente “no céu e na terra” (Bergengruen), e desta maneira torna Deus acessível aos homens, e os homens abre para Deus. Somente assim esse Deus Duo-Uno, Jesus Cristo, aparece também como pleno e verdadeiro homem. O seu mistério torna-se mais compreensível e possível de alcançar para o ser humano.
Somente quando Jesus Cristo é Duo-Úno, “que das duas partes fez uma só” (Ef 2,14), Ele é este Único que simultaneamente fica totalmente do lado de Deus e do lado do ser humano. Torna-se único mediador (1Tim 2,5), que permanece em plena relação com Deus e com os homens, e que une em si o que é humano e sagrado. Ele reina simultaneamente “no céu e na terra” (Bergengruen), e desta maneira torna Deus acessível aos homens, e os homens abre para Deus. Somente assim esse Deus Duo-Uno, Jesus Cristo, aparece também como pleno e verdadeiro homem. O seu mistério torna-se mais compreensível e possível de alcançar para o ser humano.
Esta Duo-Unidade também é assegurada pela expressão, que muitas vezes foi a causa de desentendimentos: Jesus Cristo Deus-Homem.
Quantas tentativas, dificuldades e tropeços quando desejamos falar corretamente sobre Jesus. Na verdade, não se consegue sair, ultrapassando a fórmula primitiva que mostra Jesus de Nazaré e diz que Ele é o Senhor, é o próprio Deus, que mostra-se como Cristo, Messias, Salvador. (...)
Deus é em Jesus Cristo, neste homem, “como se fosse um de nós”, e ao mesmo tempo totalmente diferente, exatamente “como Deus”. Talvez por esta razão invés de mostrar muitas fórmulas errôneas, que levam ao erro e destroem o mistério de Jesus (porque tentam desvendá-lo), aceitamos a descrição possível e contida da pessoa que foi e que é Jesus, sem violar o seu mistério: “Deus – no meio da nossa vida, apesar de – ao mesmo tempo – muito distante" (Bonhoefer). (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 75-78)*
Continua...__________________________
*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me do livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben” e, usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.
********************
Nenhum comentário:
Postar um comentário