Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 31 de março de 2012

Reflexão sobre Paixão de Cristo

Domingo de Ramos.  Começa a Semana Santa. É uma boa oportunidade para refletir com mais calma e, talvez, com mais profundidade sobre a Paixão de Jesus Cristo, que relembramos neste dia.

Trago aqui um texto  muito especial,  em forma de comentário, de M. Asun Gutiérrez,  sobre  A Paixão de Jesus Cristo  ( Mt 26,14 - 27,66). O texto é do ano passado, mas  continua de grande valor também hoje.

Quem estiver interessado, pode  abrir este texto em PPS, acessando o link http: //webnucleoverbita.cesjf.br/node/15424
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Reflexão para a Semana Santa

Começa a Semana  Santa, a semana da dor e do amor da morte e da vida. A primeira semana do novo mundo.
Jesus caminha decidido para a sua Páscoa, para a Páscoa completa, que é morte e ressurreição.
Como é possível conhecer Jesus de bem perto e vendê-l’O?  Essa atitude totalmente  incompreenssível, é única e exclusiva de Judas?

Os evangelhos sublinham a responsabilidade histórica de Judas, não a sua “culpa jurídica”, menos ainda a sua “condenação eterna”.

O grão de trigo está a cair na terra e vai morrer.
O fermento está a esconder-se na massa.
Para isso veio, para que todos possam comer, para que toda a massa se faça pão.
É uma ceia de despedida, a última das frequentes refeições que Jesus celebrou (Mc 2, 19; Lc 13,28-29; 14, 15-24), figura e anúncio do alegre banquete que nos há-de reunir a todos no reino de Deus.

Pedro demonstra demasiada segurança em si mesmo:  ainda que todos, eu não; eu sou melhor, a minha fé é mais forte…  como vou duvidar da minha fé?

Seguiremos com  Jesus mais além do entusiasmo inicial, quando os problemas se apresentarem e não sejamos de compreender Deus?

Jesus sempre, e mais ainda nas situações difíceis, refugia-se na oração.

Impressiona a solidão de Jesus. Em vão volta a procurar consolo nos seus amigos.
Jesus sabe assumir o inevitável com liberdade interior, pois crê profundamente
que em todo o momento, inclusive no mais duro, está nos braços amorosos  do Pai.
Jesus não vem pregar verdades gerais, religiosas ou morais, mas proclamar a chegada do Reino, a Boa Notícia do Evangelho.
É plenamente rejeitado: é escândalo para os dirigentes religiosos, perigo para o poder político, decepção para a maior parte do povo e desconcerto para os discípulos.

Jesus podia ter dado respostas eloquentes  e convincentes, podia ter pronunciado um grande discurso, podia ter posto em ridículo os seus acusadores.
A sua opção não é o triunfalismo.
Não pronuncia uma palavra contra ninguém.  O silêncio de Jesus é paciente, obediente, misericordioso.

Chave para entender o aparente silêncio de Deus.

O duplo julgamento, político e religioso, que Jesus padeceu foi a expressão da injustiça. Matavam-n’O  simplesmente porque punha em risco a credibilidade do sistema religioso, político e econômico. Não organizando revoltas populares, mas apresentando um projeto de vida alternativo onde as pessoas valiam por si mesmas e todas tinham os mesmos direitos.

Jesus dá-nos a sua própria tarefa: fazer valer  o direito das pessoas excluídas e pobres. Baixar da cruz as pessoas crucificadas.

Pedro entra em pânico quando o descobrem. Pronuncia as palavras mais tristes que pode dizer quem segue Jesus:  “não conheço esse homem”.

Podemos identificar-nos com Pedro.  Julgava-se com forças e falha.  Ao chorar amargamente começa a conhecer-se a si mesmo, a fundamentar-se mais na fidelidade e no amor de Jesus que na sua própria segurança. Jesus perdoa sempre, confia e dá uma nova oportunidade.

Nós, os crentes, afirmamos que a história de Judas e de Pedro – traidores , a dos discípulos – covardes , a de todos nós  (julgamo-nos melhores que eles?) - está nas mãos de Deus e Deus  a vai  fazendo, apesar de tudo, história de salvação.
Jesus crucificado leva-nos a esperar que também para os que crucificam, a última palavra será o perdão. “Pai, perdoa-lhes... (Lc23,34).

E, ao final de tudo, tão pouco existirá a separação que hoje se dá – e se deve dar - entre os que são crucificados e os que crucificam.
Esperamos que Deus encaminhará tudo para o seu Reino ainda que não saibamos quando nem como, mas que conta conosco para o alcançar.
Jesus apresenta-se sempre como alternativa de alguém ou de algo.

Quando não se tem o valor de optar só por Ele, fazendo calar outros ruídos, outros interesses, atua-se da mesma maneira que a multidão e Pilatos.  Abandonamo-l’O. Condenamo-l'O.
É fácil manipular a multidão.  Num momento pode gritar “hosana”, e noutro momento “crucifica-O”...
Será que é a minha postura? Quando me convém, aclamo e acolho Jesus, quando não me convém, rejeito-O...?

Jesus foi polêmico contra as normas de pureza,  perante toda a espécie de doutrinas e normas (Mc 7,1-23). Foi polêmico frente ao mais sagrado do sistema religioso: o templo.  Detivieram Jesus, julgaram-n’O, condenaram-n’O e O executaram pela sua vida, os seus ensinamentos e a sua conduta.

O seu exemplo nos convida  a termos uma maior coerência do Evangelho na nossa vida. A escolhê-l’O  a  Ele e não a Barrabás;a sermos pessoas solidárias como Simão, valentes e obstinadas como as mulheres de Jerusalém.

É um grito de verdadeira angústia, mas ao mesmo tempo expressa o desejo  de se agarrar a Deus contra toda a esperança, de reivindicar a Deus como meu Deus, ainda que, às vezes, O sinta ausente.  Dor e esperança.

Comunhão com os sofrimentos humanos e esperança no Deus da vida.
O “abandonado” abandona-se nas mãos do Pai.
“Jesus padece o inferno da ausência de Deus, para que assim não haja inferno
para mais ninguém”  (Von Balthasar).

“A morte de Jesus na cruz é a consequência duma vida no serviço radical à justiça e ao amor;  é seqüela da sua opção pelos pobres e os deserdados; da opção pelo seu povo, que sofria exploração e extorsão.   Neste mundo, toda a opção em favor da justiça e do amor é arriscar a vida”.   (E. Schillebeeckx) 
Para José de Arimatéia é tempo de falar, de pedir, de arriscar. Para as mulheres tempo de permanecer quietas como testemunhos silenciosos do crucificado. Breve chegará para elas o tempo de tomar a palavra e de ser as primeiras a anunciar a Ressurreição.

Jesus falava de Reino-Reinado e essa palavra provocava medo e punha alerta as autoridades. Quanto mais poder, mais medo.

Jesus torna-nos capazes de permanecermos junto aos túmulos do nosso mundo, para os abrir e anunciar que a morte não tem a última palavra. Anunciar que estamos destinados, não à cruz, mas à vida. Não ao sofrimento, mas à alegria perfeita.  O definitivo não são as “semanas santas” que vivenciamos, mas a Páscoa, a Ressurreição, a Vida.

UM DIA OLHASTE-ME

Um dia olhaste-me
como olhaste a Pedro.
Não te viram meus olhos,
mas senti que o céu
baixava até às minhas mãos.
Que luta de silêncios
travaram na noite
o teu amor e o meu desejo!


Um dia olhaste-me
e ainda sinto
a marca desse pranto
que me abrasou por dentro.
Ainda vou pelos caminhos
sonhando aquele encontro.
Um dia olhaste-me
como olhaste a Pedro.

(Ernestina de Champourcín)

Fonte:  o site das Monjas Benedictinas do Monteserrat - www.benedictinescat.com/montserrat

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Um comentário:

  1. parabéns, por sua divina luz aos irmão, com sua reflexão,para os irmão que estao aqui na terra , fica com Deus vc e muito abençoado! ate nas altura ,
    Julierme

    bemaventuradojulierme@yahoo.com.br

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