Com muita tristeza assisto ao longo dos últimos
anos uma campanha premeditada de críticas, condenações e ataques contra a
Teologia da Libertação. As atitudes do Vaticano e dos setores conservadores da
Hierarquia da Igreja católica, com o propósito de enfraquecer, paralisar e até
de acabar com o modelo da Igreja Povo de Deus, que surgiu e estava se
desenvolvendo na América Latina e Caribe, foi um “prato cheio” para todos os
adversários da Teologia da Libertação. Esta situação continua ainda hoje, infelizmente.
Ao meu ver, tudo isso é um grande, para não dizer
gigantesco, equívoco! A história ainda vai julgar com toda a clareza essas
posturas autoritárias e injustas perante um novo e necessário jeito de ser
Igreja no mundo de hoje. A tentativa de impor a todos apenas um modelo e uma
interpretação, já é insuficiente. Todos sabem disso. O efeito é mais que visível: a Igreja católica sofre uma
perda de fiéis, se distancia do “mundo” e dos pobres, ostenta o
assistencialismo e a volta à espiritualidade individualista e intimista, perdeu
a juventude e as crianças... (como vazias estão hoje as igrejas de crianças e jovens!). Com isso, talvez, ficaram satisfeitas as “minorias” de devotos,
praticantes, ministros, os “parceiros do sistema vigente’, os pastores e padres
conservadores e tradicionalistas com forte nostalgia dos “tempos passados”. Justificando que “os pobres sempre vão
existir” e que o importante é “ser pobre de coração” quando se pensa nas
palavras de Jesus sobre os pobres, muitos cristãos tornam-se cúmplices do
sistema econômico injusto, gerador de
estruturas pecaminosas existentes no mundo atual.
Porém, as perguntas são muitas: Será que o próprio Evangelho e a Boa Nova que
Jesus trouxe à humanidade não é o
caminho da Libertação? Porque essa “perseguição” contra a Teologia da
Libertação? A quem isso realmente interessa? Não seria
melhor apenas apontar, comprovar e corrigir alguns supostos “erros” ou
“desvios” nesse caminho, do que abandoná-lo com covardia, voltando para “os
antigos caminhos’, que não empolgam mais? Será que a reflexão sobre a Palavra
de Deus, que alimentava e continua alimentando a caminhada de muitas pequenas
comunidades, que são autenticas CEB’s, não é a prática mais indicada e desejada
para o mundo conhecer a Boa Nova e viver segundo ela? Será que hoje as palavras
das Bem-Aventuranças deixaram de ser importantes?... Será que o Povo de Deus
tornando-se a Igreja de Cristo não é muito mais importante do que uma
Igreja que fica sem esse Povo de Deus?
Pode negar quem quiser, mas a verdade é que a
Igreja recuando do caminho das CEB’s e da Opção preferencial pelos pobres –
está perdendo uma grande chance de
realmente levar o Evangelho de Jesus
para as grandes massas da humanidade, para esse verdadeiro Povo de Deus.
Muitos, talvez, discordem com o que escrevi acima.
Todos têm direito de pensar do seu jeito. Porém, é muito importante fazer uma
honesta reflexão sobre este assunto, para
evitar julgamentos injustos.
Para falar
sobre o tema da Teologia da
Libertação trago para o blog Indagações
um depoimento muito rico e interessante do atual Prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, Gerhard Müller, nomeado pelo papa Bento XVI no dia 02 de julho
de 2012. A matéria, intitulada “Minhas experiências sobre a
Teologia da Libertação”, que foi publicada em 18 de setembro de 2012 no Adital,
será apresentada em quatro partes, para
tornar mais fácil e interessante a sua leitura. Todas as pessoas que procuram a
verdade sobre o assunto encontrarão aqui
muitos valiosos esclarecimentos e informações.
Não deixe
de ler.
WCejnóg
18.09.12
- Mundo
[Gerhard
Müller] ‘Minhas experiências sobre a Teologia da Libertação’
Prefeito
da Congregação para a Doutrina da Fé.
Adital
(1)
A Teologia da Libertação está, para mim, vinculada
ao rosto de Gustavo Gutiérrez. Em 1988 participei, junto com outros teólogos da
Alemanha e da Áustria e a convite do atual diretor da Misereor, José Sayer, de
um curso sobre este tema que aconteceu no já então famoso Instituto Bartolomé
de las Casas. Naquele tempo, eu já estava há dois anos lecionando Dogmática na
Universidade Ludwig-Maximilian de Munique.
Como professor de Teologia me eram naturalmente
familiares os textos e conhecidos os representantes deste movimento teológico,
surgido na América Latina, mas sobre o qual se discutia em todo o mundo,
sobretudo por conta das observações, em parte críticas, da Comissão
Internacional de Teólogos da Congregação para a Doutrina da Fé e as declarações
de 1984 e 1986 da mesma Congregação, presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger,
nosso atual Papa Bento.
Com o seminário dirigido pelo Gustavo Gutiérrez se
produziu em mim um giro da reflexão acadêmica sobre uma nova concepção teológica
para a experiência com os homens para o que havia sido desenvolvida essa
teologia. Para o meu próprio desenvolvimento teológico foi decisiva esta
inversão no enfoque de prioridade da teoria à prática para um proceder em três
passos: "ver, julgar e agir”.
Os participantes desse seminário chegávamos
abarrotados de inumeráveis conhecimentos sobre a origem e o desenvolvimento da
Teologia da Libertação e por isso discutimos sobretudo sobre a análise da
situação à qual se lhe reprovava uma ingênua proximidade com o marxismo.
Eram-nos familiares as declarações das
Conferências Episcopais Latino-Americanas de Medellín e de Puebla¹. Daí o
debate de se nessas declarações se pretendia fazer do cristianismo uma espécie
de programa político de libertação, no qual, em determinadas circunstâncias, se
tolerava inclusive a violência revolucionária contra pessoas e coisas. Alguns
suspeitavam que a Teologia da Libertação servia para legitimar a violência
terrorista a serviço da legítima revolução, enquanto outros a usavam como
argumento para esse fim.
A primeira coisa que Gustavo nos ensinou foi
compreender que aqui se trata de teologia e não de política. Na linha das
grandes encíclicas sociais dos papas também marcou de forma clara a diferença
entre Teologia da Libertação e ética social católica. Enquanto a ética social
se fundamenta no direito natural e pretende assegurar as bases de um estado
social e justo apoiando-se nos princípios da personalidade, subsidiariedade e
solidariedade, no caso da Teologia da Libertação trata-se de um programa
prático e teórico que pretende compreender o mundo, a história e a sociedade e
transformá-los à luz da própria revelação sobrenatural de Deus como salvador e
libertador do homem.
Como se pode falar de Deus diante do sofrimento
humano, dos pobres que não têm sustento para seus filhos, nem direito à
assistência médica, nem acesso à educação, excluídos da vida social e cultural,
marginalizados e considerados uma carga e uma ameaça para o estilo de vida de
uns poucos ricos?
Esses pobres não são uma massa anônima. Cada um
deles tem um rosto. Como posso, como cristão, sacerdote ou leigo, quer seja na
evangelização ou no trabalho científico-teológico, falar de Deus e de seu Filho
que se fez homem e morreu por nós na cruz e dar testemunho d’Ele, se não quero
construir outro sistema teológico junto ao já existente, mas dizer ao pobre
concreto, face a face: Deus te ama e a tua dignidade imperdível tem seu
fundamento em Deus? Como se torna concreta a consideração bíblica na vida
individual e coletiva se os direitos humanos têm sua origem na criação do homem
à imagem e semelhança de Deus?
Minha permanência no Peru em 1988 está ligada não
apenas ao seminário de Gustavo Gutiérrez, no qual vi claramente qual é o ponto
de partida teológico da Teologia da Libertação, mas também ao encontro vivo com
os pobres dos quais havíamos falado. Durante algum tempo vivemos com os
moradores de bairros pobres de Lima e depois também com os camponeses da
paróquia de Diego Irarrazaval no lago Titicada. A partir de então estive outras
15 vezes no Peru e em outros países da América Latina, às vezes meses inteiros
durante as férias de semestre na Alemanha.
___________________
Notas:
1. CELAM. Conclusões da Conferência
de Medellín – 1968; Conclusões da Conferência de Puebla. Evangelização no
presente e no futuro da América Latina.
Gerhard Ludwig Müller (nasc. 31 de Dezembro de 1947)
é arcebispo Católico e prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, nomeado pelo Papa Bento XVI, 02 de Julho de
2012).
Temos em nossa diocese (Frederico Westphalen RS) um legitimo e autentico bispo anti "TL" , conservador ao extremo, preocupado com as pompas liturgicas, os cerimoniáis sofisticados que para a imensa maioria dos fiéis nada significa além de ostentação e pompa, mas para a vivencia e comportamento dos cristãos de hoje frente aos problemas do século XXI, nada diz ou instrui, parece que pensam que vivemos na idade média, onde a maioria da humanidade era ignorante e supersticiosa, e não em nossos dias, onde o homem foi a Lua, o DNA foi codificado, a internet promovendo a cultura e evolução da humanidade como um todo, a ciencia dismistificando mitos e lendas biblicas, no entanto este bispo vem com pregações que parecem saidas dos tempos da inquisição. Pena que muitos ainda se deixam iludir por estas fantasias de uma época que a história sepultou.
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