Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 9 de dezembro de 2012

1. A Teologia da Libertação. Quem conhece, não critica. Por quê?



Com muita tristeza assisto ao longo dos últimos anos uma campanha premeditada de críticas, condenações e ataques contra a Teologia da Libertação. As atitudes do Vaticano e dos setores conservadores da Hierarquia da Igreja católica, com o propósito de enfraquecer, paralisar e até de acabar com o modelo da Igreja Povo de Deus, que surgiu e estava se desenvolvendo na América Latina e Caribe, foi um “prato cheio” para todos os adversários da Teologia da Libertação. Esta situação continua ainda  hoje, infelizmente.

Ao meu ver, tudo isso é um grande, para não dizer gigantesco, equívoco! A história ainda vai julgar com toda a clareza essas posturas autoritárias e injustas perante um novo e necessário jeito de ser Igreja no mundo de hoje. A tentativa de impor a todos apenas um modelo e uma interpretação, já é insuficiente. Todos sabem disso. O efeito é mais  que visível: a Igreja católica sofre uma perda de fiéis, se distancia do “mundo” e dos pobres, ostenta o assistencialismo e a volta à espiritualidade individualista e intimista, perdeu a juventude e as crianças... (como vazias estão hoje as igrejas  de crianças e jovens!).  Com isso, talvez,  ficaram satisfeitas as “minorias” de devotos, praticantes, ministros, os “parceiros do sistema vigente’, os pastores e padres conservadores e tradicionalistas com forte nostalgia dos “tempos passados”.  Justificando que “os pobres sempre vão existir” e que o importante é “ser pobre de coração” quando se pensa nas palavras de Jesus sobre os pobres, muitos cristãos tornam-se cúmplices do sistema econômico  injusto, gerador de estruturas pecaminosas existentes no mundo atual.

Porém, as perguntas são muitas:  Será que o próprio Evangelho e a Boa Nova que Jesus trouxe à humanidade não  é o caminho da Libertação? Porque essa “perseguição” contra a Teologia da Libertação? A quem isso realmente interessa?  Não seria  melhor apenas apontar, comprovar e corrigir alguns supostos “erros” ou “desvios” nesse caminho, do que abandoná-lo com covardia, voltando para “os antigos caminhos’, que não empolgam mais? Será que a reflexão sobre a Palavra de Deus, que alimentava e continua alimentando a caminhada de muitas pequenas comunidades, que são autenticas CEB’s, não é a prática mais indicada e desejada para o mundo conhecer a Boa Nova e viver segundo ela? Será que hoje as palavras das Bem-Aventuranças deixaram de ser importantes?... Será que o Povo de Deus tornando-se a Igreja de Cristo não é muito mais importante do que uma Igreja que fica sem esse Povo de Deus?

 Pode negar quem quiser, mas a verdade é que a Igreja recuando do caminho das CEB’s e da Opção preferencial pelos pobres – está perdendo uma grande chance de  realmente levar o Evangelho de Jesus  para as grandes massas da humanidade, para esse verdadeiro Povo de Deus.

Muitos, talvez, discordem com o que escrevi acima. Todos têm direito de pensar do seu jeito. Porém, é muito importante fazer uma honesta reflexão sobre este assunto, para  evitar julgamentos injustos.

Para falar  sobre  o tema da Teologia da Libertação trago para o  blog Indagações um depoimento muito rico e interessante do atual Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Müller, nomeado pelo papa Bento XVI no dia 02 de julho de 2012. A matéria,  intitulada “Minhas experiências sobre a Teologia da Libertação”, que foi publicada em 18 de setembro de 2012 no Adital,  será apresentada em quatro partes, para tornar mais fácil e interessante a sua leitura. Todas as pessoas que procuram a verdade sobre o assunto encontrarão aqui  muitos valiosos esclarecimentos e informações.
Não deixe de ler.
WCejnóg


18.09.12 - Mundo
[Gerhard Müller] ‘Minhas experiências sobre a Teologia da Libertação’
Prefeito da Congregação  para a Doutrina da Fé.
Adital
 
 (1)


A Teologia da Libertação está, para mim, vinculada ao rosto de Gustavo Gutiérrez. Em 1988 participei, junto com outros teólogos da Alemanha e da Áustria e a convite do atual diretor da Misereor, José Sayer, de um curso sobre este tema que aconteceu no já então famoso Instituto Bartolomé de las Casas. Naquele tempo, eu já estava há dois anos lecionando Dogmática na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique.

Como professor de Teologia me eram naturalmente familiares os textos e conhecidos os representantes deste movimento teológico, surgido na América Latina, mas sobre o qual se discutia em todo o mundo, sobretudo por conta das observações, em parte críticas, da Comissão Internacional de Teólogos da Congregação para a Doutrina da Fé e as declarações de 1984 e 1986 da mesma Congregação, presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger, nosso atual Papa Bento.

Com o seminário dirigido pelo Gustavo Gutiérrez se produziu em mim um giro da reflexão acadêmica sobre uma nova concepção teológica para a experiência com os homens para o que havia sido desenvolvida essa teologia. Para o meu próprio desenvolvimento teológico foi decisiva esta inversão no enfoque de prioridade da teoria à prática para um proceder em três passos: "ver, julgar e agir”.

Os participantes desse seminário chegávamos abarrotados de inumeráveis conhecimentos sobre a origem e o desenvolvimento da Teologia da Libertação e por isso discutimos sobretudo sobre a análise da situação à qual se lhe reprovava uma ingênua proximidade com o marxismo. Eram-nos familiares  as declarações das Conferências Episcopais Latino-Americanas de Medellín e de Puebla¹. Daí o debate de se nessas declarações se pretendia fazer do cristianismo uma espécie de programa político de libertação, no qual, em determinadas circunstâncias, se tolerava inclusive a violência revolucionária contra pessoas e coisas. Alguns suspeitavam que a Teologia da Libertação servia para legitimar a violência terrorista a serviço da legítima revolução, enquanto outros a usavam como argumento para esse fim.

A primeira coisa que Gustavo nos ensinou foi compreender que aqui se trata de teologia e não de política. Na linha das grandes encíclicas sociais dos papas também marcou de forma clara a diferença entre Teologia da Libertação e ética social católica. Enquanto a ética social se fundamenta no direito natural e pretende assegurar as bases de um estado social e justo apoiando-se nos princípios da personalidade, subsidiariedade e solidariedade, no caso da Teologia da Libertação trata-se de um programa prático e teórico que pretende compreender o mundo, a história e a sociedade e transformá-los à luz da própria revelação sobrenatural de Deus como salvador e libertador do homem.

Como se pode falar de Deus diante do sofrimento humano, dos pobres que não têm sustento para seus filhos, nem direito à assistência médica, nem acesso à educação, excluídos da vida social e cultural, marginalizados e considerados uma carga e uma ameaça para o estilo de vida de uns poucos ricos?

Esses pobres não são uma massa anônima. Cada um deles tem um rosto. Como posso, como cristão, sacerdote ou leigo, quer seja na evangelização ou no trabalho científico-teológico, falar de Deus e de seu Filho que se fez homem e morreu por nós na cruz e dar testemunho d’Ele, se não quero construir outro sistema teológico junto ao já existente, mas dizer ao pobre concreto, face a face: Deus te ama e a tua dignidade imperdível tem seu fundamento em Deus? Como se torna concreta a consideração bíblica na vida individual e coletiva se os direitos humanos têm sua origem na criação do homem à imagem e semelhança de Deus?

Minha permanência no Peru em 1988 está ligada não apenas ao seminário de Gustavo Gutiérrez, no qual vi claramente qual é o ponto de partida teológico da Teologia da Libertação, mas também ao encontro vivo com os pobres dos quais havíamos falado. Durante algum tempo vivemos com os moradores de bairros pobres de Lima e depois também com os camponeses da paróquia de Diego Irarrazaval no lago Titicada. A partir de então estive outras 15 vezes no Peru e em outros países da América Latina, às vezes meses inteiros durante as férias de semestre na Alemanha.

Continua... 
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Notas:
1.       CELAM. Conclusões da Conferência de Medellín – 1968; Conclusões da Conferência de Puebla. Evangelização no presente e no futuro da América Latina.


Gerhard Ludwig Müller (nasc. 31 de Dezembro de 1947) é arcebispo  Católico e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, nomeado pelo Papa Bento XVI, 02 de Julho de 2012).
  







 

Um comentário:

  1. Temos em nossa diocese (Frederico Westphalen RS) um legitimo e autentico bispo anti "TL" , conservador ao extremo, preocupado com as pompas liturgicas, os cerimoniáis sofisticados que para a imensa maioria dos fiéis nada significa além de ostentação e pompa, mas para a vivencia e comportamento dos cristãos de hoje frente aos problemas do século XXI, nada diz ou instrui, parece que pensam que vivemos na idade média, onde a maioria da humanidade era ignorante e supersticiosa, e não em nossos dias, onde o homem foi a Lua, o DNA foi codificado, a internet promovendo a cultura e evolução da humanidade como um todo, a ciencia dismistificando mitos e lendas biblicas, no entanto este bispo vem com pregações que parecem saidas dos tempos da inquisição. Pena que muitos ainda se deixam iludir por estas fantasias de uma época que a história sepultou.

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