A terceira parte
do depoimento do atual Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard
Müller, sobre o tema da Teologia da
Libertação, esclarece alguns pontos principais dessa Teologia, tão freqüentemente distorcidos por seus inimigos.
A matéria, intitulada ‘Minhas experiências sobre a Teologia da Libertação’,
foi publicada em 18 de setembro de 2012 no Adital. Todas as pessoas que
procuram a verdade sobre o assunto encontrarão aqui muitas valiosas informações.
Não deixe
de ler.
WCejnóg
18.09.12
- Mundo
[Gerhard
Müller] ‘Minhas experiências sobre a Teologia da Libertação’
(3)
... Uma pequena parte da população mundial reparte
entre si os recursos contribuindo deste modo para a morte prematura de milhões
de crianças e para que a maior parte da população do mundo viva em
circunstâncias desastrosas.
Depois da queda do império soviético muitos
esperavam também o fim da Teologia da Libertação, que situavam próxima dos
movimentos de libertação marxistas. Mas na verdade a Teologia da Libertação bem
entendida desde a sua concepção original, é a melhor resposta à crítica
marxista da religião, tanto na teoria como na prática. Uma ampla visão de Deus
como criador, libertador e consumador do homem nos permite perceber a armadilha
dualística em que se pretendia fazer cair o cristianismo. Não há alternativa
entre o bem-estar neste mundo e a salvação no outro, entre a graça divina e a
atuação humana, entre o compromisso eclesial e a crítica e configuração do
mundo. A orientação para Deus e a configuração do mundo, o amor a Deus e o amor
ao próximo são os dois lados da mesma moeda. Os cristãos não se deixam
ultrapassar por ninguém quando se trata dos direitos e da dignidade humanos, ou
de criticar tanto o pecado estrutural de um sistema político injusto como a
falta de responsabilidade do indivíduo concreto. Durante a apresentação das
obras completas do Papa sobre a Teologia da Liturgia, publicadas por mim na
Editorial Herder, um dos conferencistas citou a bela sentença: "Quando os
monges descuidaram dos seus louvores a Deus aguou-se também a sopa dos pobres”.
Louvar a Deus incita a tomar responsabilidade pelo
mundo. E o compromisso com a justiça social, a paz e a liberdade, a proteção da
natureza como base da vida corporal e social fundamenta-se na atuação divina
criadora e libertadora.
Depois da queda do comunismo estabelecido alguns
chegaram a pensar que agora se poderia obter o paraíso na terra através de um
capitalismo desenfreado. As forças auto-reguladoras do mercado em escala
mundial trariam por si mesmas o bem-estar para todos ou ao menos para a
maioria. A realidade é muito diferente. Não foram as aparentemente todo-poderosas
forças do mercado, mas a mera cobiça de homens concretos, que provocaram a
atual crise financeira mundial, cujas consequências são pagas uma vez mais
pelos pobres e pelos mais pobres dos pobres, com sua vida, sua saúde, com sua
morte prematura e todas as perspectivas perdidas, previstas por Deus para eles.
Os representantes do liberalismo defenderam no
passado sua imagem de homem argumentando que não se pode governar o mundo com
as bem-aventuranças, sem considerar que Jesus não pretende governar o mundo,
mas que o homem se governe a si mesmo, se liberte de sua cobiça e possa
converter-se em ser humano para os demais. Argumentavam que a Igreja não
entendia nada de economia e capitalismo e que se queria ser altruísta o fizesse
ocupando-se das vítimas do capitalismo. Igreja relegada aos hospitais, às
residências de moribundos, mas não ética para Wall Street. Expressão de um
capitalismo neoliberal sem escrúpulos são, por exemplo, os "fundos buitre”
(vulture funds). Especuladores sem escrúpulos se especializaram em negócios com
as dívidas de países inteiros. Quando um país incorre em dificuldades de
pagamento esses "buitres” [abutres] compram as dívidas com altas reduções
sobre a soma original e reclamam depois com juros e juros acumulados uma soma
marcadamente superior.
De forma bem simples leva-se um país à miséria
definitiva. No final de 1990, o Peru foi vítima de uma "estratégia de
investimentos” em que com um investimento de 11 milhões de dólares obteve-se um
lucro de 58 milhões. As consequências para as pessoas – as crianças, os
anciãos, os doentes –, para toda a estrutura social de um país são aceitas como
consequências lógicas. O lucro puro é a única meta.
Aqui se manifesta de maneira espantosa a tragédia
de um mundo, de um mercado econômico sem normas morais vinculantes. A cobiça
pelo ouro e pelo dinheiro segue sendo hoje causa da destruição de valores
morais, cuja força para o bem do homem emana da única fonte que conduz o home
ao seu ser humano e a converter-se no próximo de seus semelhantes.
Incompatíveis com a nossa espiritualidade e a nossa
fé cristã são o racismo e o paternalismo, uma sociedade que se desagrega em
classes mais altas e baixas, que funciona segundo o princípio da lei do mais
forte e com isso se desintegra.
Continua...
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Gerhard Ludwig Müller
(nasc. 31 de Dezembro de 1947) é arcebispo
Católico e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, nomeado pelo
Papa Bento XVI, 02 de Julho de 2012).
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