Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

3. A Teologia da Libertação. Quem conhece, não condena. Por quê?



A terceira  parte do depoimento do atual Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Müller, sobre  o tema da Teologia da Libertação, esclarece alguns pontos principais dessa Teologia, tão  freqüentemente distorcidos por seus inimigos. 


A matéria, intitulada ‘Minhas experiências sobre a Teologia da Libertação’, foi publicada em 18 de setembro de 2012 no Adital. Todas as pessoas que procuram a verdade sobre o assunto encontrarão aqui  muitas valiosas informações.

Não deixe de ler.

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18.09.12 - Mundo

[Gerhard Müller] ‘Minhas experiências sobre a Teologia da Libertação’




(3)


... Uma pequena parte da população mundial reparte entre si os recursos contribuindo deste modo para a morte prematura de milhões de crianças e para que a maior parte da população do mundo viva em circunstâncias desastrosas.


Depois da queda do império soviético muitos esperavam também o fim da Teologia da Libertação, que situavam próxima dos movimentos de libertação marxistas. Mas na verdade a Teologia da Libertação bem entendida desde a sua concepção original, é a melhor resposta à crítica marxista da religião, tanto na teoria como na prática. Uma ampla visão de Deus como criador, libertador e consumador do homem nos permite perceber a armadilha dualística em que se pretendia fazer cair o cristianismo. Não há alternativa entre o bem-estar neste mundo e a salvação no outro, entre a graça divina e a atuação humana, entre o compromisso eclesial e a crítica e configuração do mundo. A orientação para Deus e a configuração do mundo, o amor a Deus e o amor ao próximo são os dois lados da mesma moeda. Os cristãos não se deixam ultrapassar por ninguém quando se trata dos direitos e da dignidade humanos, ou de criticar tanto o pecado estrutural de um sistema político injusto como a falta de responsabilidade do indivíduo concreto. Durante a apresentação das obras completas do Papa sobre a Teologia da Liturgia, publicadas por mim na Editorial Herder, um dos conferencistas citou a bela sentença: "Quando os monges descuidaram dos seus louvores a Deus aguou-se também a sopa dos pobres”.


Louvar a Deus incita a tomar responsabilidade pelo mundo. E o compromisso com a justiça social, a paz e a liberdade, a proteção da natureza como base da vida corporal e social fundamenta-se na atuação divina criadora e libertadora.


Depois da queda do comunismo estabelecido alguns chegaram a pensar que agora se poderia obter o paraíso na terra através de um capitalismo desenfreado. As forças auto-reguladoras do mercado em escala mundial trariam por si mesmas o bem-estar para todos ou ao menos para a maioria. A realidade é muito diferente. Não foram as aparentemente todo-poderosas forças do mercado, mas a mera cobiça de homens concretos, que provocaram a atual crise financeira mundial, cujas consequências são pagas uma vez mais pelos pobres e pelos mais pobres dos pobres, com sua vida, sua saúde, com sua morte prematura e todas as perspectivas perdidas, previstas por Deus para eles.


Os representantes do liberalismo defenderam no passado sua imagem de homem argumentando que não se pode governar o mundo com as bem-aventuranças, sem considerar que Jesus não pretende governar o mundo, mas que o homem se governe a si mesmo, se liberte de sua cobiça e possa converter-se em ser humano para os demais. Argumentavam que a Igreja não entendia nada de economia e capitalismo e que se queria ser altruísta o fizesse ocupando-se das vítimas do capitalismo. Igreja relegada aos hospitais, às residências de moribundos, mas não ética para Wall Street. Expressão de um capitalismo neoliberal sem escrúpulos são, por exemplo, os "fundos buitre” (vulture funds). Especuladores sem escrúpulos se especializaram em negócios com as dívidas de países inteiros. Quando um país incorre em dificuldades de pagamento esses "buitres” [abutres] compram as dívidas com altas reduções sobre a soma original e reclamam depois com juros e juros acumulados uma soma marcadamente superior.


De forma bem simples leva-se um país à miséria definitiva. No final de 1990, o Peru foi vítima de uma "estratégia de investimentos” em que com um investimento de 11 milhões de dólares obteve-se um lucro de 58 milhões. As consequências para as pessoas – as crianças, os anciãos, os doentes –, para toda a estrutura social de um país são aceitas como consequências lógicas. O lucro puro é a única meta.


Aqui se manifesta de maneira espantosa a tragédia de um mundo, de um mercado econômico sem normas morais vinculantes. A cobiça pelo ouro e pelo dinheiro segue sendo hoje causa da destruição de valores morais, cuja força para o bem do homem emana da única fonte que conduz o home ao seu ser humano e a converter-se no próximo de seus semelhantes.


Incompatíveis com a nossa espiritualidade e a nossa fé cristã são o racismo e o paternalismo, uma sociedade que se desagrega em classes mais altas e baixas, que funciona segundo o princípio da lei do mais forte e com isso se desintegra.


Continua...

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Gerhard Ludwig Müller (nasc. 31 de Dezembro de 1947) é arcebispo  Católico e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, nomeado pelo Papa Bento XVI, 02 de Julho de 2012).



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