Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

3. A morte carimba para sempre o destino do homem.




Continuando a reflexão sobre o tema da morte do ponto de vista da doutrina cristã, o texto abaixo, de autoria de Ferdinand Krenzer¹, analisa a morte como um momento ou lugar, em que cada ser humano tem chance para confirmar ou modificar as suas posturas, até então, praticadas durante a sua vida. Seria um momento decisivo e final – na opinião de muitos  teólogos – onde está sendo carimbado o  destino do homem.

As reflexões do  autor do texto  podem nos ajudar a compreendermos melhor a doutrina cristã e conhecermos, de modo específico,  o ensinamento da Igreja católica.
Não deixe de ler.

WCejnog

Para poder acompanhar com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações seria bom ler desde o início todos os seus textos sobre este assunto (é uma série de 11 textos publicados aqui, no  blog Indagações, com o começo no dia 29 de janeiro de 2013  - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2013/01/sobre-morte-o-que-sabemos-no-que.html  ).

 (3)


Morte  como ato último

Um menino, no primeiro dia das aulas é atropelado por um carro e por causa dos ferimentos morre no caminho para o hospital. Essa nova vida foi interrompida – esta é a nossa impressão – antes do tempo, não se desenvolveu, não chegou à maturidade. Um final de vida tão antes da hora e violento é uma coisa horripilante. Vemos aqui, claramente, que a morte alcança o homem não  necessariamente no momento, quando ele já cumpriu tudo na sua vida.

Mas, e no caso do homem adulto, é diferente? O que acontece com as nossas perguntas e dúvidas? Será que realmente já encontramos para elas todas as respostas? Freqüentemente, até a pessoa adulta não chega a ponto de poder julgar que realmente “cumpriu” a sua vida. O ser humano, para  poder ver onde  leva tudo isso o  que a vida lhe  proporcionou, precisa, às vezes, perder tudo em que se apoiava, para caírem todas as máscaras e se encerrarem todas as encenações.

Por isso, na  morte – é a opinião de muitos teólogos – existe lugar onde caberia mais uma decisão para ser tomada pelo ser humano. Morrer, na verdade, não é questão apenas de um momento. A morte pode ser considerada  como um fato em que acontece o amadurecimento de tudo aquilo que ainda não está bem desenvolvido ou terminado; toda criança, neste caso, torna-se uma pessoa adulta, e o homem adulto  liberta-se de  tudo aquilo que ainda não está acabado, mas o que ainda está nele.  A morte não é,  neste caso, um “desaparecer” na escuridão, mas  é o último ato da pessoa. Somente quando o ser humano olha para além dos  limites, abrangendo a totalidade da sua vida, consegue ver o sentido do seu destino e conhecer Deus como o centro de tudo. Por que o homem, num momento assim, não poderia rever, mais uma vez, também as  suas atitudes em relação a Deus?

Mesmo se alguém não teve nenhuma ligação com Deus, porque este lhe parecia como algo inventado ou como uma coisa de fábula, ou, então, lhe parecia um tirano terrível - pelo menos poderia ter a possibilidade de encontrar esse Deus pessoalmente, na morte. Também a  pessoa com a doença mental ou deficiente  psíquico, que durante toda a sua vida  permanecia espiritualmente não desenvolvido, ou até uma criança que não nasceu – todos teriam no momento da morte a possibilidade de  alcançar a plenitude da sua existência humana e de tomar a decisão pessoal.

Todavia, seria leviandade não ligar para Deus a vida inteira, alimentando a esperança que “ainda haverá tempo para isso” no momento da morte. Quem pode saber se naquele momento encontraremos em nós a força suficiente para, de  repente, negar o próprio passado e assumir uma nova  postura, passando por cima de todas as nossas atitudes que tomamos na vida? Na verdade, é agora mesmo que precisamos começar trabalhar o nosso  futuro; é agora que precisamos ser o que  queremos ser no futuro.

A última decisão do ser humano no momento da sua morte ou é a confirmação da sua postura anterior, ou a correção, ou até, talvez, a renúncia de toda a vida anterior. E ela passa a ser, então, a decisão final e irrevogável, porque daí para frente não poderá ser mudado mais nada, nem acrescentado nenhum outro ponto de vista. Toda a ignorância, todas as dúvidas terminam no momento da morte. Depois da morte, então, existe apenas o  que é definitivo. “A árvore fica do jeito como cai”. Na parábola sobre o rico e pobre Lázaro (Lc 16, 19-31) a Bíblia diz que a morte carimba para sempre o destino do homem. A doutrina sobre a migração de almas não tem nenhuma sustentação na Bíblia.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 347-348)²

Continua...
­­­­­­­­­­­­­­­­___________________
¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria. [N. Do T.]

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário.  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”. [N. Do T.]




Nenhum comentário:

Postar um comentário