Continuando
a reflexão sobre o tema da morte do ponto de vista da doutrina cristã, o texto abaixo, de autoria de Ferdinand
Krenzer¹, analisa a morte como um momento ou lugar, em que cada ser humano tem
chance para confirmar ou modificar as suas posturas, até então, praticadas
durante a sua vida. Seria um momento decisivo e final – na opinião de
muitos teólogos – onde está sendo
carimbado o destino do homem.
As
reflexões do autor do texto podem nos ajudar a compreendermos melhor a
doutrina cristã e conhecermos, de modo específico, o ensinamento da Igreja católica.
Não
deixe de ler.
WCejnog
Para poder acompanhar
com facilidade a reflexão do autor e aproveitar ao máximo as explicações seria
bom ler desde o início todos os seus textos sobre este assunto (é uma série de
11 textos publicados aqui, no blog
Indagações, com o começo no dia 29 de janeiro de 2013 - http://indagacoes-walenty.blogspot.com.br/2013/01/sobre-morte-o-que-sabemos-no-que.html ).
(3)
Morte como ato último
Um menino, no primeiro dia
das aulas é atropelado por um carro e por causa dos ferimentos morre no caminho
para o hospital. Essa nova vida foi interrompida – esta é a nossa impressão –
antes do tempo, não se desenvolveu, não chegou à maturidade. Um final de vida
tão antes da hora e violento é uma coisa horripilante. Vemos aqui, claramente,
que a morte alcança o homem não necessariamente
no momento, quando ele já cumpriu tudo na sua vida.
Mas, e no caso do homem
adulto, é diferente? O que acontece com as nossas perguntas e dúvidas? Será que
realmente já encontramos para elas todas as respostas? Freqüentemente, até a
pessoa adulta não chega a ponto de poder julgar que realmente “cumpriu” a sua
vida. O ser humano, para poder ver onde leva tudo isso
o que a vida lhe proporcionou, precisa, às vezes, perder tudo
em que se apoiava, para caírem todas as máscaras e se encerrarem todas as
encenações.
Por isso, na morte – é a opinião de muitos teólogos – existe
lugar onde caberia mais uma decisão para ser tomada pelo ser humano. Morrer, na
verdade, não é questão apenas de um momento. A morte pode ser considerada como um fato em que acontece o amadurecimento
de tudo aquilo que ainda não está bem desenvolvido ou terminado; toda criança,
neste caso, torna-se uma pessoa adulta, e o homem adulto liberta-se de
tudo aquilo que ainda não está acabado, mas o que ainda está nele. A morte não é, neste caso, um “desaparecer” na escuridão,
mas é o último ato da pessoa. Somente
quando o ser humano olha para além dos
limites, abrangendo a totalidade da sua vida, consegue ver o sentido do
seu destino e conhecer Deus como o centro de tudo. Por que o homem, num momento
assim, não poderia rever, mais uma vez, também as suas atitudes em relação a Deus?
Mesmo se alguém não teve
nenhuma ligação com Deus, porque este lhe parecia como algo inventado ou como
uma coisa de fábula, ou, então, lhe parecia um tirano terrível - pelo menos poderia
ter a possibilidade de encontrar esse Deus pessoalmente, na morte. Também
a pessoa com a doença mental ou
deficiente psíquico, que durante toda a
sua vida permanecia espiritualmente não
desenvolvido, ou até uma criança que não nasceu – todos teriam no momento da
morte a possibilidade de alcançar a
plenitude da sua existência humana e de tomar a decisão pessoal.
Todavia, seria leviandade
não ligar para Deus a vida inteira, alimentando a esperança que “ainda haverá
tempo para isso” no momento da morte. Quem pode saber se naquele momento
encontraremos em nós a força suficiente para, de repente, negar o próprio passado e assumir
uma nova postura, passando por cima de
todas as nossas atitudes que tomamos na vida? Na verdade, é agora mesmo que precisamos
começar trabalhar o nosso futuro; é
agora que precisamos ser o que queremos ser
no futuro.
A última decisão do ser
humano no momento da sua morte ou é a confirmação da sua postura anterior, ou a
correção, ou até, talvez, a renúncia de toda a vida anterior. E ela passa a
ser, então, a decisão final e irrevogável, porque daí para frente não poderá
ser mudado mais nada, nem acrescentado nenhum outro ponto de vista. Toda a ignorância,
todas as dúvidas terminam no momento da morte. Depois da morte, então, existe
apenas o que é definitivo. “A árvore
fica do jeito como cai”. Na parábola sobre o rico e pobre Lázaro (Lc 16, 19-31)
a Bíblia diz que a morte carimba para sempre o destino do homem. A doutrina
sobre a migração de almas não tem nenhuma sustentação na Bíblia.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du
Dialogue, 1981, p. 347-348)²
Continua...
___________________
¹ Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, †
08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus)
foi um teólogo católico alemão,
sacerdote e escritor na aposentadoria.
[N. Do T.]
²
Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e
direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã
e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os
textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse
autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o
português), com uma pequena atualização dos dados, quando necessário. O título original: “Morgen wird man wieder
Glauben”. [N. Do T.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário