Neste
momento histórico para a Igreja Católica, em que a pergunta principal agora é: Quem será o papa, que sucederá o Bento XVI? , e a outra, talvez mais importante ainda: Qual será o futuro
caminho da Igreja Católica? – vem-me à mente o artigo do Leonardo Boff, publicado no site
ADITAL, em julho de 2010, intitulado Onde está a verdadeira crise da Igreja.
Com
muito acerto, as suas palavras descrevem a situação da Igreja católica no
momento atual e o seu grande desafio daqui para frente:
“ (...) (A Igreja) ou corajosamente
muda e assim encontra seu lugar no mundo moderno e metaboliza o processo
acelerado de globalização e ai terá muito a dizer, ou se condena a ser uma
seita ocidental, cada vez mais irrelevante e esvaziada de fiéis. O projeto
atual de Bento XVI de “reconquista” da visibilidade da Igreja contra o mundo
secular é fadado ao fracasso se não proceder a uma mudança institucional. As
pessoas de hoje não aceitam mais uma Igreja autoritária e triste como se fosse
ao próprio enterro. Mas estão abertas à saga de Jesus, ao seu sonho e aos
valores evangélicos.”...
Penso que o momento atual exige que todos os católicos, e principalmente a hierarquia
da Igreja, os movimentos e setores conservadores e saudosistas dos “velhos tempos”,
como também todos os adeptos de uma
religiosidade intimista e individualista façam uma reflexão séria sobre
a situação da Igreja Católica como Instituição. A crise assumiu uma dimensão assustadora.
Continuar assim é frustrar o projeto do Reino, que Deus tem para a humanidade e
o mundo.
É uma chance e uma necessidade de
sair dos equívocos, erros e imposições de poder e privilégios possuídos, tão
característicos das vaidades humanas, e acertar o caminho certo: o caminho dos
profetas, dos discípulos de Jesus Nazareno, dos homens e mulheres corajosos que
acreditam na utopia do Reino de Deus e não ficam com medo de mudanças. São
novos tempos, novos desafios e por isso torna-se urgente, da parte da Igreja,
ter uma nova postura, um novo método e novas respostas para os dias atuais.
Acreditamos que a presença do
Espírito Santo pode renovar e transformar a Igreja, de modo que ela com a
convicção e entusiasmo possa levar a Boa Nova ao mundo em transformação. A Igreja - Povo de Deus, com certeza,
espera por isso. Oxalá que os homens não atrapalhem
novamente! É o momento muito propício
para uma reflexão profunda e transformadora!
Para os interessados, trago aqui, na
íntegra, para o blog Indagações, o artigo do nosso estimado colega Leonardo
Boff.
Não deixe de ler.
WCejnog
Leonardo Boff - Teólogo,
filósofo e escritor
Adital
2.07.10 -
Mundo
Onde está a verdadeira crise da Igreja
A
crise da pedofilia na Igreja romano-católica não é nada em comparação à
verdadeira crise, essa sim, estrutural, crise que concerne à sua
institucionalidade histórico-social. Não me refiro à Igreja como comunidade de
fiéis. Esta continua viva apesar da crise, se organizando de forma comunitária
e não piramidal como a Igreja da Tradição. A questão é: que tipo de instituição
representa esta comunidade de fé? Como se organiza? Atualmente, ela comparece
como defasada da cultura contemporânea e em forte contradição com o sonho de
Jesus, percebida pelas comunidades que se acostumaram a ler os envangelhos em
grupos e então a fazer a suas analises.
Dito
de forma breve mas não caricata: a instituição-Igreja se sustenta sobre duas
formas de poder: um secular, organizativo, jurídico e hierárquico, herdado do
Império Romano e outro espiritual, assentado sobre a teologia política de Santo
Agostinho acerca da Cidade de Deus que ele identifica com a instituição-Igreja.
Em sua montagem concreta não é tanto o Evangelho ou a fé cristã que contam, mas
estes poderes, considerados como um único "poder sagrado" (potestas
sacra) também na forma de sua plenitude (plenitudo potestatis) no estilo
imperial romano da monarquia absolutista. César detinha todo o poder: político,
militar, jurídico e religioso. O Papa, semelhantemente detém igual poder:
"ordinário, supremo, pleno, imediato e universal" (canon 331),
atributos só cabíveis a Deus. O Papa institucionalmente é um César batizado.
Esse
poder que estrutura a instituição-Igreja foi se constituindo a partir do ano
325 com Imperador Constantino e oficialmente instaurado em 392 quando Teodósio,
o Grande (+395) impôs o cristianismo como a única religião de Estado. A
instituição-Igreja assumiu esse poder com todos os títulos, honrarias e hábitos
palacianos que perduram até os dias de hoje no estilo de vida dos bispos,
cardeais e papas.
Esse
poder ganhou, com o tempo, formas cada vez mais totalitárias e até tirânicas,
especialmente a partir do Papa Gregório VII que em 1075 se autoproclamou senhor
absoluto da Igreja e do mundo. Radicalizando, Inocêncio III (+1216) se
apresentou não apenas como sucessor de Pedro mas como representante de Cristo.
Seu sucessor, Inocêncio IV(+1254), deu o último passo e se anunciou como
representante de Deus e por isso senhor universal da Terra que podia distribuir
porções dela a quem quisesse, como depois foi feito aos reis de Espanha e
Portugal no século XVI. Só faltava proclamar Papa infalível, o que ocorreu sob
Pio IX em 1870. O circulo se fechou.
Ora,
este tipo de instituição encontra-se hoje num profundo processo de erosão.
Depois de mais de 40 anos de continuado estudo e meditação sobre a Igreja (meu
campo de especialização) suspeito que chegou o momento crucial para ela: ou
corajosamente muda e assim encontra seu lugar no mundo moderno e metaboliza o
processo acelerado de globalização e ai terá muito a dizer, ou se condena a ser
uma seita ocidental, cada vez mais irrelevante e esvaziada de fiéis. O projeto
atual de Bento XVI de “reconquista” da visibilidade da Igreja contra o mundo
secular é fadado ao fracasso se não proceder a uma mudança institucional. As
pessoas de hoje não aceitam mais uma Igreja autoritária e triste como se fosse
ao próprio enterro. Mas estão abertas à saga de Jesus, ao seu sonho e aos valores
evangélicos.
Esse
crescendo na vontade de poder, imaginado ilusoriamente vindo diretamente de
Cristo, impede qualquer reforma da instituição-Igreja, pois tudo nela seria
divino e intocável. Realiza-se plenamente a lógica do poder, descrita por
Hobbes em seu Leviatã: "o poder quer sempre mais poder, porque não se pode
garantir o poder senão buscando mais e mais poder". Uma instituição-Igreja
que busca assim um poder absoluto fecha as portas ao amor e se distancia dos
sem-poder, dos pobres. A instituição perde o rosto humano e se faz insensível
aos problemas existenciais, como da família e da sexualidade.
O
Concílio Vaticano II (1965) procurou curar este desvio pelos conceitos de Povo
de Deus, de comunhão e de governo colegial. Mas o intento foi abortado por João
Paulo II e Bento XVI que voltaram a insistir no centralismo romano, agravando a
crise.
O
que um dia foi construído pode ser num outro, desconstruído. A fé cristã possui
força intrínseca de nesta fase planetária encontrar uma forma institucional mais
adequada ao sonho de seu Fundador e mais consentânea ao nosso tempo.
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