Entre muitas questões
importantes a respeito da preservação do nosso Meio Ambiente, existe uma que
desafia a nossa responsabilidade. É a questão do lixo que produzimos
diariamente aos milhares de toneladas. Esse é um fenômeno bastante comentado na
sociedade e que gerou até agora muitas iniciativas, projetos e até programas
para minimizar as suas conseqüências. Tudo isso é louvável, mas radicalmente
insuficiente e insignificante, levando em conta que não atinge nem 10% de todo
o lixo produzido, e por isso mesmo os outros 90% vão para aterros, causando
graves danos ao Meio Ambiente.
Contentar-se com o sucesso de reciclar 10% de lixo é, no mínimo, uma
brincadeira. Torna-se urgente, portanto, olhar para esta questão de frente e a
enfrentar, ou então continuar a fingir que fazemos a nossa parte, tapando o sol
com a peneira. Infelizmente, até agora, as autoridades que teriam poder para
isso e também nós todos estamos com esta última opção.
Por que não optar por
‘tolerância zero’ em relação à poluição do Meio Ambiente pelo lixo urbano? Não é utopia nem tampouco um sonho. Dependendo da vontade política dos órgãos
responsáveis pelas cidades, poderia se optar pelo programa radical e integral de
reciclagem e tratamento de todo o lixo produzido em cada cidade. O objetivo
seria inverter a situação, destinando à incineração e ao aterro posterior no
máximo 10% de lixo, quando for realmente impossível o seu reaproveitamento. Ao
invés de repassar para cada cidadão e cidadã a culpa e responsabilidade pelo
desastre ecológico produzido pela nossa civilização, fazendo de conta que está
cumprindo o seu papel, que tal o estado, através das prefeituras de todas as
nossas cidades, tomar uma decisão radical e transformar todo o lixo em matéria
prima, que voltaria a servir para a produção de novos bens e até se tornaria
uma fonte de renda e lucro para essas cidades?
A proposta radical, da
qual estou me referindo, envolve primeiramente um projeto corajoso e completo
que a contempla a possibilidade de
coleta de todo o lixo produzido numa
cidade (essa etapa já existe), para ser encaminhado para uma usina de lixo. Compreendo pela usina de lixo um complexo de
áreas e instalações, para onde seria levado todo o lixo da cidade, passando primeiramente por uma seleção
geral, depois mais detalhada (pelas esteiras) e, em seguida encaminhado para
diversos setores, de acordo com a natureza dele.
A seleção de lixo
consistiria em separação de todos os diferentes tipos de material descartado:
- madeira (para fins de
artesanato, fábricas de derivados de madeira, etc)
- papel (matéria prima
para celulose)
- plástico (matéria
prima para indústria de plásticos)
- borracha/ pneu (para
trituração e uso industrial)
- isopor
- metal (para
siderúrgica)
- alumínio (para
indústria)
- vidro (matéria prima
para indústria de vidro)
- componentes
eletro/eletrônicos (seleção e tratamento
específico)
- material e entulhos
provindos de construção civil
- pilhas e baterias
usadas (tratamento específico)
- óleo usado de cozinha
(matéria prima para produzir biocombustível)
- toda matéria orgânica
(adubo)
- lixo hospitalar
(destinado à incineração)
- outros
Para cada uma dessas
categorias de material destinado para reciclagem, já existe, às vezes pouco
divulgada, uma possibilidade de encaminhá-lo para as fábricas ou empresas
específicas. A grande parte do lixo
urbano, desse jeito, retornaria para as fábricas em forma de matéria prima,
trazendo lucro para a cidade e vantagens para os fabricantes.
Existiria a necessidade
e possibilidade de estabelecer parcerias e contratos entre a cidade e diversas
fábricas e indústrias, possíveis receptoras de matérias primas extraídas do
lixo.
No caso de matéria
orgânica, ela pode ser transformada em adubos naturais, posteriormente
vendidos, trazendo mais renda para a cidade.
Alguns
tipos de materiais que fazem parte do lixo urbano, p. ex. componentes
eletro/eletrônicos, entulhos de construção civil, isopor, espuma, panos, podem
encontrar ainda outras maneiras de reciclagem e reaproveitamento, contando com a parceria de Centros de Pesquisa das
Universidades. Afinal, esta sim, seria a contribuição principal das
Universidades Públicas para o bem concreto (e maior!) da sociedade, do país e
da própria vida.
Uma pequena parte do
lixo urbano, que não serviria para ser reciclada, poderia ser incinerada, e
apenas ela (cerca de 10% do total) destinada ao aterro em forma de cinzas. Para
esses fins seriam instalados incineradores, com filtros eficientes, para proteger
o Meio Ambiente da emissão de gases poluentes.
O Tratamento Integral
de Lixo Urbano, quando desenvolvido e implantado com toda a responsabilidade
política e social, poderá empregar vários especialistas, capacitados para
garantir o sucesso do empreendimento. Mas não é só isso. Constituiria também um
impulso concreto e constante para o desenvolvimento econômico das cidades,
diminuindo o impacto de agressão ao Meio Ambiente.
Ademais, seria uma
possibilidade de gerar dezenas de empregos bem pagos, para a população pobre de
rua, ajudando na solução desse problema gravíssimo das nossas cidades. Um
emprego estável e definido, com a carteira assinada, garantindo condições
seguras de trabalho (uniforme, botas, luvas, etc.) – seria uma maneira digna de
transformar a vida dessa camada da população. A preferência seria dada a todas
essas pessoas que hoje vivem da coleta de lixo seletivo e aos moradores de rua.
Isso implicaria em planejamento e ação continuada envolvendo o Serviço Social
das prefeituras. Trabalhando amplamente e com grande competência o problema de
lixo urbano, seria possível ao mesmo tempo dar um tratamento adequado a esse
problema social que envolve a população de rua, que marca tristemente a vida de
nossas cidades. Nem se fosse todo esse empreendimento só para custear o destino aproveitável do lixo, a
proteção do Meio Ambiente e a solução para esses alguns graves problemas
sociais das cidades, seria válido apostar numa solução como esta, aparentemente
radical, mas viável e possível.
Tem se notícias de que
já existem pelo mundo algumas iniciativas similares, transformando o lixo em
‘lucro’ para aquelas cidades que adotaram esse tipo de tratamento. Por que não
fazer o mesmo, na grande escala? Mesmo se esta fosse uma iniciativa inédita
valeria a pena optar por ela, sabendo que é um investimento importantíssimo
para melhoria da nossa vida e uma obrigação moral e vital para com o nosso Meio
Ambiente, que já agora podemos preservar para as futuras gerações.
Walenty
Cejnog