“O Cristo ressuscitado não vem apenas
para os mortos, para lhes despertar e comunicar-lhes a sua vida eterna, mas
também atrai todas as coisas ao seu futuro, para renová-las e torná-las partícipes
da eterna alegria de Deus.” – palavras do texto abaixo.
Hoje, no dia da Páscoa, trago para
o blog Indagações-Zapytania um artigo muito interessante sobre o tema da ressurreição de Jesus Cristo e da sua importância tanto para a humanidade como para o universo todo.
O texto / reflexão de autoria do teólogo reformado alemão Jürgen Moltmann* foi publicado recentemente no site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Não deixe de ler!
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IHU – Notícias
Quinta, 17 de
abril de 2014.
A festa da alegria
eterna. Artigo de Jürgen Moltmann
A festa da eterna alegria é preparada pela plenitude da de Deus
e pelo júbilo de todas as criaturas. O riso do universo é o êxtase de Deus.
A reflexão é do teólogo alemão Jürgen Moltmann, professor
emérito da Universidade de Tübingen,
em artigo publicado no blog Teologi@Internet,
da Editora Queriniana, 16-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A ressurreição de Cristo é
vitória sobre o poder da morte e aparição da vida eterna, de uma vida que nunca
passará. A primeira reação por parte dos homens é a da alegria espontânea que
irrompe na manhã de Páscoa, quando essa vida divina se descerra e dela se
participa. É aquilo que a Bíblia chama de cháris.
A vida comunicada, divina também é vida eterna, vida de participação no viver
divino, mas não só vida no além do "pós-morte", mas desde agora
despertar, renascimento, vida vivida sobre esta terra, com energias novas.
A cháris se comunica em inúmeros charísmata,
que não são apenas "dons" de graça, mas novas energias vitais. Seria
unilateral demais entender essa cháris em termos puramente jurídicos, como a
graça que é concedida ao pecador. Cháris vida é que se recebe da plenitude de
Deus e que se expressa em uma vitalidade nova e na alegria irrefreável. À cháris se
reage com achára, justamente a alegria. E essa alegria é aquela
que também se diz "fé verdadeira".
Para as criaturas humanas que querem viver, mas são forçadas a
morrer, tudo gira em torno da morte. E. se a morte tivesse que representar o fim,
toda a alegria de viver estaria destinada a desaparecer, assim como desaparece
a nossa vida sobre a terra. Mas, se a vida vem da plenitude de Deus, ela será
vida divina, que se manifestará em nós na vida como ressuscitados. Precisamente
por isso, desde o início, para a cristandade, a ressurreição de Cristo significava plenitude de Deus, e aquela
alegria que nós chamamos de "fé" se traduzia no júbilo pascal.
"Dia de ressurreição. Tornamo-nos também nós luz nesta
festa. E nos abraçamos. Nós que nos odiamos recomeçamos a nos falar. É a
ressurreição, perdoemo-nos tudo e gritemos: Cristo ressuscitou dentre os
mortos" (Liturgia pascal ortodoxa).
Na alegria que essa plenitude de Deus nos infunde, da qual
obtemos não apenas "graça sobre graça", mas também – como agora
podemos dizer – "vida sobre vida", desde agora a nossa existência é
"transfigurada" em uma vida festiva. E a alegria traz nela música e
fantasia, em que não se trata apenas de viver a vida, mas também de organizá-la
e exibi-la.
É uma vida não apenas restabelecida [her-gestellt], mas
também representada [dar-gestellt]: diante de Deus e diante dos homens, e
que se traduz ela mesma em um hino de louvor. Nos mesmos sofrimentos e
angústias pelos quais ela é disseminada, a comunhão com Cristo crucificado
faz jorrar centelhas de confiança e acende luzes de esperança.
E os fiéis podem reter para si essa alegria. em um mundo hostil
a eles e hostil à própria vida? Não! A transfiguração da vida, como eles a
experimentaram na alegria pascal, representa para eles apenas um pequeno começo
da transfiguração do cosmos inteiro. O Cristo ressuscitado não vem apenas para
os mortos, para lhes despertar e comunicar-lhes a sua vida eterna, mas também
atrai todas as coisas ao seu futuro, para renová-las e torná-las partícipes da
eterna alegria de Deus:
"Mediante a tua ressurreição, ó Senhor, o universo se
ilumina... E toda a criação te louva, dia após dia a ti eleva o seu hino"
(Liturgia pascal ortodoxa).
A alegria que brota da ressurreição de Cristo escancara
sobre a redenção do cosmos as suas perspectivas cósmicas e escatológicas. Por
que uma redenção? Na festa da alegria eterna, todas as criaturas e toda a
comunidade criatural devem cantar os seus hinos e os seus louvores. E não
entendamos isso somente em termos meramente antropomórficos: os hinos e os
louvores que as criaturas humanas elevam a Deus pelo Cristo ressuscitado são,
quão elas bem reconhecem, somente um fraco eco da liturgia cósmica, dos
cânticos celestes e da alegria de viver que sobe de todos os outros seres
vivos.
A festa da eterna alegria é preparada pela plenitude da de Deus
e pelo júbilo de todas as criaturas. Não percebemos em profundidade tal
plenitude quando nos limitamos a falar do ser e querer de Deus. Seria melhor,
embora admitindo todos os limites que essa metáfora implica, falar de uma
fantasia de Deus, a da sua imaginação criativa da qual tem origem a vida em
toda a sua pitoresca variedade.
Uma criação que,
como se viu, conhece uma transfiguração e glorificação próprias não pode ser simplesmente
efeito de um querer de Deus e nem mesmo apenas um resultado do seu modo de se
realizar, mas é como que um grandioso cântico, ou uma poderosa poesia, ou uma
maravilhosa dança da sua fantasia, em que se expressa a sua vontade de
comunicar a divina plenitude. O riso do universo é o êxtase de Deus.
_________________________
* O teólogo alemão
Jürgen Moltmann
Jürgen Moltmann nasceu em 18 de abril de 1926 em
Hamburgo. Iniciou seus estudos de teologia numa situação inusitada. Com
dezesseis anos (1943) foi convocado pelo exército alemão onde teve, segundo ele
mesmo, “uma carreira breve e sem glória”. Após seis meses na guerra, foi feito
prisioneiro no campo de concentração de Northon-Camp, na Inglaterra. Ali se
encontravam também alguns professores de teologia que ministravam lições aos
seus companheiros; dentre eles, Jürgen Moltmann. Em 1948 retornou para Alemanha
onde deu continuidade nos seus estudos na Universidade de Göttingen até 1952.
De 1953 a 1958 exerceu atividades pastorais em Bremen. Sendo suas
especialidades História dos Dogmas e Teologia Sistemática, iniciou sua docência
em 1958 passando pela Escola Kirchliche Hochschule de Wuppertal, pela
Universidade de Bonn, Universidade de Tübingen, Due University – EUA (no
caráter de professor visitante). “Depois de Karl Barth, Jürgen Moltmann é
considerado o mais conhecido e influente teólogo reformado do século XX”
(LEITH, 1997, p.234) > fonte: http://www.ejesus.com.br/jurgen-moltmann-a-teologia-da-esperanca/
Artigo > Fonte: IHU - Notícias
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