Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 20 de abril de 2014

“A festa da alegria eterna.” - Artigo de Jürgen Moltmann. Muito bom!


O Cristo ressuscitado não vem apenas para os mortos, para lhes despertar e comunicar-lhes a sua vida eterna, mas também atrai todas as coisas ao seu futuro, para renová-las e torná-las partícipes da eterna alegria de Deus.” palavras do texto abaixo.

Hoje, no dia da Páscoa, trago  para o blog  Indagações-Zapytania um artigo  muito  interessante sobre  o tema  da  ressurreição de Jesus Cristo e da sua  importância  tanto para  a  humanidade como  para  o  universo todo. 

O texto / reflexão  de autoria  do  teólogo  reformado  alemão Jürgen Moltmann*  foi  publicado  recentemente  no site  do  Instituto  Humanitas  Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
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IHU – Notícias

Quinta, 17 de abril de 2014.


A festa da alegria eterna. Artigo de Jürgen Moltmann

 

  

A festa da eterna alegria é preparada pela plenitude da de Deus e pelo júbilo de todas as criaturas. O riso do universo é o êxtase de Deus.

A reflexão é do teólogo alemão Jürgen Moltmann, professor emérito da Universidade de Tübingen, em artigo publicado no blog Teologi@Internet, da Editora Queriniana, 16-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Eis o texto.

A ressurreição de Cristo  é vitória sobre o poder da morte e aparição da vida eterna, de uma vida que nunca passará. A primeira reação por parte dos homens é a da alegria espontânea que irrompe na manhã de Páscoa, quando essa vida divina se descerra e dela se participa. É aquilo que a Bíblia chama de cháris. A vida comunicada, divina também é vida eterna, vida de participação no viver divino, mas não só vida no além do "pós-morte", mas desde agora despertar, renascimento, vida vivida sobre esta terra, com energias novas.

A cháris se comunica em inúmeros charísmata, que não são apenas "dons" de graça, mas novas energias vitais. Seria unilateral demais entender essa cháris em termos puramente jurídicos, como a graça que é concedida ao pecador. Cháris vida é que se recebe da plenitude de Deus e que se expressa em uma vitalidade nova e na alegria irrefreável. À cháris se reage com achára, justamente a alegria. E essa alegria é aquela que também se diz "fé verdadeira".

Para as criaturas humanas que querem viver, mas são forçadas a morrer, tudo gira em torno da morte. E. se a morte tivesse que representar o fim, toda a alegria de viver estaria destinada a desaparecer, assim como desaparece a nossa vida sobre a terra. Mas, se a vida vem da plenitude de Deus, ela será vida divina, que se manifestará em nós na vida como ressuscitados. Precisamente por isso, desde o início, para a cristandade, a ressurreição de Cristo significava plenitude de Deus, e aquela alegria que nós chamamos de "fé" se traduzia no júbilo pascal.

  "Dia de ressurreição. Tornamo-nos também nós luz nesta festa. E nos abraçamos. Nós que nos odiamos recomeçamos a nos falar. É a ressurreição, perdoemo-nos tudo e gritemos: Cristo ressuscitou dentre os mortos" (Liturgia pascal ortodoxa).

Na alegria que essa plenitude de Deus nos infunde, da qual obtemos não apenas "graça sobre graça", mas também – como agora podemos dizer – "vida sobre vida", desde agora a nossa existência é "transfigurada" em uma vida festiva. E a alegria traz nela música e fantasia, em que não se trata apenas de viver a vida, mas também de organizá-la e exibi-la.

É uma vida não apenas restabelecida [her-gestellt], mas também representada [dar-gestellt]: diante de Deus e diante dos homens, e que se traduz ela mesma em um hino de louvor. Nos mesmos sofrimentos e angústias pelos quais ela é disseminada, a comunhão com Cristo crucificado faz jorrar centelhas de confiança e acende luzes de esperança.

E os fiéis podem reter para si essa alegria. em um mundo hostil a eles e hostil à própria vida? Não! A transfiguração da vida, como eles a experimentaram na alegria pascal, representa para eles apenas um pequeno começo da transfiguração do cosmos inteiro. O Cristo ressuscitado não vem apenas para os mortos, para lhes despertar e comunicar-lhes a sua vida eterna, mas também atrai todas as coisas ao seu futuro, para renová-las e torná-las partícipes da eterna alegria de Deus:

"Mediante a tua ressurreição, ó Senhor, o universo se ilumina... E toda a criação te louva, dia após dia a ti eleva o seu hino" (Liturgia pascal ortodoxa).

A alegria que brota da ressurreição de Cristo escancara sobre a redenção do cosmos as suas perspectivas cósmicas e escatológicas. Por que uma redenção? Na festa da alegria eterna, todas as criaturas e toda a comunidade criatural devem cantar os seus hinos e os seus louvores. E não entendamos isso somente em termos meramente antropomórficos: os hinos e os louvores que as criaturas humanas elevam a Deus pelo Cristo ressuscitado são, quão elas bem reconhecem, somente um fraco eco da liturgia cósmica, dos cânticos celestes e da alegria de viver que sobe de todos os outros seres vivos.

A festa da eterna alegria é preparada pela plenitude da de Deus e pelo júbilo de todas as criaturas. Não percebemos em profundidade tal plenitude quando nos limitamos a falar do ser e querer de Deus. Seria melhor, embora admitindo todos os limites que essa metáfora implica, falar de uma fantasia de Deus, a da sua imaginação criativa da qual tem origem a vida em toda a sua pitoresca variedade.

Uma criação que, como se viu, conhece uma transfiguração e glorificação próprias não pode ser simplesmente efeito de um querer de Deus e nem mesmo apenas um resultado do seu modo de se realizar, mas é como que um grandioso cântico, ou uma poderosa poesia, ou uma maravilhosa dança da sua fantasia, em que se expressa a sua vontade de comunicar a divina plenitude. O riso do universo é o êxtase de Deus.

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* O teólogo alemão Jürgen Moltmann

Jürgen Moltmann nasceu em 18 de abril de 1926 em Hamburgo. Iniciou seus estudos de teologia numa situação inusitada. Com dezesseis anos (1943) foi convocado pelo exército alemão onde teve, segundo ele mesmo, “uma carreira breve e sem glória”. Após seis meses na guerra, foi feito prisioneiro no campo de concentração de Northon-Camp, na Inglaterra. Ali se encontravam também alguns professores de teologia que ministravam lições aos seus companheiros; dentre eles, Jürgen Moltmann. Em 1948 retornou para Alemanha onde deu continuidade nos seus estudos na Universidade de Göttingen até 1952. De 1953 a 1958 exerceu atividades pastorais em Bremen. Sendo suas especialidades História dos Dogmas e Teologia Sistemática, iniciou sua docência em 1958 passando pela Escola Kirchliche Hochschule de Wuppertal, pela Universidade  de Bonn, Universidade de Tübingen, Due University – EUA (no caráter de professor visitante). “Depois de Karl Barth, Jürgen Moltmann é considerado o mais conhecido e influente teólogo reformado do século XX” 

Artigo > Fonte: IHU - Notícias


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