Abaixo,
o artigo sobre o drama e sofrimento dos povos indígenas no Brasil, e mais
especificamente nas últimas cinco décadas. Hoje, quando se fala muito sobre o
golpe militar de 64 (completam-se exatamente 50 anos daquela data) essa questão
não pode ser ignorada pela maioria da sociedade brasileira e mundial. Por trás
dos números esconde-se a morte, o extermínio, o drama e a dor de milhares e
milhares de seres humanos.
O
artigo, de Leão Serva, foi publicado recentemente no jornal Folha de São Paulo
e também no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Trazendo-o para o blog
Indagações-Zapytania, quero contribuir um pouco para a sua divulgação.
Não
perca!
WCejnog
IHU
– Notícias
Terça,
01 de Abril de 2014.
Índios, as maiores vítimas
da ditadura
"Ainda
que esse passado seja agora expiado, o atropelo dos direitos indígenas por
interesses de setores da sociedade abrangente persiste no Brasil atual",
escreve Leão Serva, jornalista e escritor, em artigo publicado
no jornal Folha de S. Paulo, 31-03-2014.
Eis o artigo.
Os
índios são apenas 0,47% da população brasileira. Ainda assim, mais indígenas
morreram por decisões da ditadura iniciada há 50 anos do que as vítimas de
outros grupos, armados ou não. Um único povo do Amazonas perdeu mais habitantes
pela violência da imposição da construção de uma estrada em suas terras, a
partir de 1971, do que todos os não índios mortos segundo as maiores
estimativas. Como esse, inúmeros outros grupos foram vítimas do lado mais
brutal e, até hoje, menos conhecido daqueles anos de chumbo.
A Comissão da Verdade, que investiga
crimes cometidos pelo governo ou agentes do regime autoritário, suspeita que
tenham sido mil mortos ou desaparecidos políticos entre 1964 e 1985. A
construção de estradas na Amazônia, no governo do general Garrastazu
(1969-1973), matou 8 mil índios, segundo estima a comissão.
Quando
considerados os mortos indígenas relativamente à população das etnias, os
resultados apontam para um genocídio. No Amazonas, os Waimiri-Atroari
habitavam área em que o governo quis passar a rodovia Manaus-Boa Vista;
perderam 75% de sua população entre 1971 e 1985. Os Panará
(ou Krenhakarore), cuja saga inspirou uma música no primeiro disco solo de Paul
McCartney (1970), estavam no traçado da rodovia Cuiabá-Santarém
(Pará); eram cerca de 450 no contato, em 1973; em dois anos restavam 74 (-84%).
Ainda
considerando apenas exemplos relacionados às estradas do Programa
de Integração Nacional (PIN, o PAC dos anos 1970): os 200 Parakanã
contatados em 1971, em área da Transamazônica no Pará, foram reduzidos a 94 em
dois anos (-53%); em Roraima, 14 aldeias Yanomami no rio Ajarani, foram
reduzidas a uma única maloca de 71 sobreviventes (-90%, pelo menos); outro
conjunto de aldeias, no rio Catrimani, perdeu 50% de sua população para uma
epidemia de sarampo introduzida por trabalhadores da rodovia Perimetral Norte.
As
agressões aos índios na ditadura estão sendo apuradas por um núcleo da Comissão
da Verdade liderado pela psicóloga Maria Rita Kehl. Ainda que esse passado seja agora expiado,
o atropelo dos direitos indígenas por interesses de setores da sociedade
abrangente persiste no Brasil atual. Quando se trata de realizar obras
decididas em Brasília, impô-las goela abaixo dos índios ainda é a norma.
Antes era PIN, agora PAC, mas vale a lógica expressa pelo
ex-governador de Roraima: "Uma área rica como essa, com ouro, diamantes e
urânio não pode dar-se ao luxo de conservar meia dúzia de tribos indígenas que
estão atrasando o desenvolvimento do Brasil" (gen. Fernando
Ramos Pereira, "O Estado de S. Paulo", 1.mar.1975).
É exemplar o caso da hidrelétrica de Belo Monte: as obras seguem sem respeito ao rito legal que prevê consultas prévias e compensações aos povos indígenas afetados. Questionamentos judiciais à construção são barrados com base no mecanismo de "suspensão de segurança", criado na ditadura, pelo qual o Executivo derruba decisões do Judiciário sob alegação de "ocorrência de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas".
Para
os índios, o regime autoritário, iniciado em 1964, ainda sobrevive na lógica
desenvolvimentista, no descaso por seus direitos e no uso de leis daquele
tempo.
************************
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1980/2013
O QUÊ Retrospectiva em Imagens da Luta dos
Povos Indígenas no Brasil por seus Direitos Coletivos
ONDE Junto ao Museu Afro Brasil, parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/n)
QUANTO Grátis
ONDE Junto ao Museu Afro Brasil, parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/n)
QUANTO Grátis
________________________
Fonte: IHU - - Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário