Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

“Lázaro, sai para fora.” (Jo 11, 43) – Comentário bíblico de Assun Gutiérrez Cabriada. Muito bom!


“- Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, ainda que tenho morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?   Disse-lhe Marta: - Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.” (Jo 11, 25-27)

O epísódio bíblico em que Jesus ressuscita o seu amigo morto, Lázaro, é muito conhecido e comentado. Porém, uma reflexão profunda e  sincera sobre esse milagre de Jesus é capaz de comover a qualquer pessoa que procura  a entender melhor esse texto.
Abaixo, um comentário bíblico fascinante de M. Assun Gutiérrez Cabriada sobre  o texto Jo 11, 1-45.
Vale a  pena ler!
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Obs.: Os interessados podem  ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o  site das Monjas Beneditinas de Montsserrat: benedictinescat.com/montserrat .  Trabalho muito bonito!


No projeto criador de Deus as pessoas não estão destinadas à morte,
mas à vida plena e definitiva.
Tal é o projeto do Pai e a obra messiânica de Jesus.
A comunidade cristã que ainda vê na morte a interrupção da vida não alcançou a plenitude da fé, por não ter compreendido a qualidade da vida que Jesus comunica.
Não estamos ameaçados de morte. 
Estamos “ameaçados de vida”.

Florentino Ulibarri
  
****** 

A luz, a água, a vida...  definições de Deus em Quaresma,
o tempo de penitência,
o tempo de cor morado,
o tempo em que não se recita o “Glória” nas missas.
Quem e porquê deformou tanto a imagem da Quaresma, a imagem de Deus?
Recordemos o itinerário que temos seguido nestes cinco domingos.
- Primeiro Domingo: Jesus vencedor da tentação.
- Segundo Domingo: A Transfiguração, a Vida oculta.
- Terceiro Domingo: Deus é Água no deserto.
- Quarto Domingo: Deus é Luz na escuridão.
- Quinto Domingo: Deus é a Vida.

E nós, por nossa conta, à margem da Palavra, continuamos empenhados em dizer: “Somos pecadores, ou seja, culpados, merecedores de castigo.
Fazemos penitência para conseguir o perdão do Juiz”. Por este caminho, chegaremos a dizer que o Juiz, severo e justiceiro, não abrandará senão quando vir o sangue de Jesus, derramado como pagamento por nossos pecados.

Quem inventou este Deus?

Todo o ensinamento de Jesus está encaminhado para entender que Deus é mãe.
O medo a Deus ficou na pré-história.
Move-nos o amor a Deus, o amor à Luz, o desejo da Água, a fé na Vida.
Celebramos com alegria que Deus é Água, Luz e Vida.


José Enrique Ruiz de Galarreta.

 Comentário
 Naquele tempo, estava doente certo homem,
Lázaro de Betânia, aldeia de Marta e
de Maria, sua irmã.
Maria era aquela que tinha ungido
o Senhor com perfume e lhe tinha
enxugado os pés com os cabelos.
Era seu irmão Lázaro que estava doente.
As irmãs mandaram então dizer a Jesus:
- Senhor, o teu amigo está doente.
Ouvindo isto, Jesus disse:
- Esta doença não é mortal,
mas é para a glória de Deus,
para que por ela seja glorificado
o Filho do homem.

O quarto evangelho é o único que conta a ressurreição de Lázaro em Betânia, aldeia próxima de Jerusalém. É o último dos sete sinais narrados na primeira parte do quarto evangelho. A Vida antecipa-se como primícia e primavera com a ressurreição de Lázaro.
Jesus, desde o princípio, mostra-se vencedor da sua morte e da nossa. Torna-nos participantes da sua vida ressuscitada, contagia-nos eternidade.

Jesus era amigo de Marta,
de sua irmã e de Lázaro.
Entretanto, depois de ouvir dizer
que ele estava doente,
ficou ainda dois dias no local
onde Se encontrava.

Jesus recebeu a mensagem da situação de Lázaro, ninguém lhe pediu que fosse. Jesus teve amigos. Conheceu a alegria, os laços doces, fortes, seguros e entranháveis da amizade. Jesus valoriza, cultiva e cuida a amizade.
Nós somos seus amigos porque nos dá a conhecer tudo o que ouviu do Pai (Jo. 15,15).

Depois disse aos discípulos:
- Vamos de novo para a Judeia.
Os discípulos disseram-lhe:
- Mestre, ainda há pouco os judeus
procuravam apedrejar-Te
 e voltas para lá?
Jesus respondeu:
- Não são doze as horas do dia?
Se alguém andar de dia, não tropeça,
porque vê a luz deste mundo.
Mas se andar de noite, tropeça
porque não tem a luz consigo.

Jesus volta à Judeia arriscando a sua vida. Está disposto a assumir o maior risco para ajudar a quem necessita d’Ele.
Perante o temor dos discípulos, recorda-lhes que a sua missão se exerce no momento oportuno e em plena luz.  As trevas, nas quais vivem os que O perseguem e rejeitam, não O fazem vacilar.
O medo mata. Os seus seguidores deverão continuar a sua tarefa em plena luz e sem temores. O perigo de ir à Judeia, as dificuldades da vida, podem enfrentar-se porque Jesus, a Luz, as ilumina e lhes dá sentido.

Dito isto, acrescentou:
- O nosso amigo Lázaro dorme,
mas Eu vou despertá-lo.
Disseram então os discípulos:
- Senhor, se dorme, estará salvo.
Jesus referia-se à morte de Lázaro,
mas eles entenderam que falava do sono natural.
Disse-lhes então Jesus abertamente:
- Lázaro morreu; por vossa causa,
alegro-me de não ter estado lá,
para que acrediteis. Mas, vamos ter com ele.
Tomé, chamado Dídimo, disse aos companheiros:
- Vamos nós também, para morrermos com Ele.

Jesus atua sempre para nosso bem, dando-nos motivos para que aumente a nossa paz e a nossa confiança e amadureça a nossa fé.
A doença e a morte não têm a última palavra. São superadas pelo autor da Vida, que é capaz de despertar e curar. A vida que Jesus comunica vence a morte. A morte é um sonho. O nosso destino é a Vida.
 “ A morte, para um cristão é o último amém da sua vida e o primeiro aleluia da sua vida nova “ (Pedro Arrupe)

Ao chegar, Jesus encontrou o amigo
sepultado havia quatro dias.
Betânia distava de Jerusalém
cerca de três quilômetros.
Muitos judeus tinham ido visitar
Marta e Maria, para lhes apresentar
condolências pela morte do irmão.
Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar,
Marta saiu ao seu encontro,
enquanto Maria ficou sentada em casa.
 Marta disse a Jesus:
- Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido.
Mas sei que, mesmo agora,
tudo o que pedires a Deus,
Deus to concederá.

Marta acreditava em Jesus, conhecia os seus milagres e curas. Por isso lamenta que tenha chegado “tarde”. Esperava que Jesus curasse seu irmão, não que o fizesse reviver. Tem uma fé que ainda deve crescer. A sua fé treme perante o “incompreensível” proceder de Jesus, que tinha esperado mais além de todo o limite para intervir.

Mesmo que nos pareça ausente, Jesus vem à nossa vida também nos momentos difíceis e aparentemente irremediáveis, para nos devolver o ânimo, a fé e a esperança e encher-nos de autêntica vida.
Talvez o que pedimos e esperamos não seja o que mais nos convém nem o que necessitamos.

Disse-lhe Jesus:
- Teu irmão ressuscitará.
Marta respondeu:
- Eu sei que há-de ressuscitar
na ressurreição, no último dia.
Disse-lhe Jesus:
- Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem acredita em mim,
ainda que tenho morrido, viverá;
e todo aquele que vive e acredita em mim,
nunca morrerá. Acreditas nisto?
Disse-lhe Marta:
- Acredito, Senhor, que Tu és o Messias,
o Filho de Deus,
que havia de vir ao mundo.

Jesus faz-nos a mesma pergunta que a Marta. Acreditas nisto? 
Crês na ressurreição? Crês na tua ressurreição pessoal?
Com Jesus somos destinados, já a partir de agora, à vida que não acaba.
É a transição da fé tradicional à novidade de Jesus. A vida eterna não é só uma esperança para o futuro, mas uma realidade que já começou. Jesus arranca da boca de uma mulher, Marta, uma confissão de fé semelhante à de Pedro nos evangelhos sinópticos:
«Tu és o Messias, o Filho de Deus».

Dito isto, retirou-se e foi chamar Maria,
a quem disse em segredo:
- O Mestre está ali e manda-te chamar.
Logo que ouviu isto, Maria
levantou-se e foi ter com Jesus.
Jesus ainda não tinha chegado à aldeia,
mas estava no lugar em que Marta
viera ao seu encontro.
Então os judeus que estavam com Maria
em casa para lhe apresentar condolências,
ao verem-na levantar-se e sair rapidamente,
seguiram-na, pensando que se dirigia
ao túmulo para chorar.
Quando chegou onde estava Jesus,
Maria, logo que O viu,
caiu-lhe aos pés e disse-lhe:
- Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido.

Maria responde com prontidão ao chamamento que Marta lhe transmite.
A todos os seus seguidores Jesus chama a escutar, acolher, desfrutar, viver... a sua Palavra libertadora.
A comunicar, como Marta, aos outros que Jesus os está a chamar.
A acudir, como Ele, para que tenham mais e melhor vida tantas pessoas, irmãos nossos, que vivem mal, sofrem e morrem,

Jesus, ao vê-la chorar, e vendo chorar
 também os judeus que vonham com ela,
comoveu-se profundamente e perturbou-se.
Depois perguntou:
- Onde o pusestes?
Responderam-Lhe:
- Vem ver, Senhor.
E Jesus chorou.
Diziam então os judeus:
- Vede como era seu amig
o!

Jesus, perante a dor dos outros, chora e comove-se, aproxima-se, acompanha, compadece-se. Manifesta claramente os seus sentimentos. Bom modelo para sabermos como atuar.
Jesus vive em todas as circunstâncias o mais profundo da realidade humana. Entende e vive todos os sentimentos humanos: alegria e tristeza, ternura e rejeição, amor e traição.

Mas alguns deles observaram:
- Então Ele, que abriu os olhos ao cego,
não podia também ter feito
que este homem não morresse?
Entretanto, Jesus, intimamente comovido,
chegou ao túmulo. Era uma gruta,
com uma pedra posta à entrada.
Disse Jesus:
- Tirai a pedra.
Respondeu Marta, irmã do morto:
- Já cheira mal, Senhor,
pois morreu há quatro dias
Disse Jesus:
- Eu não te disse que, se acreditasses,
verias a glória de Deus?

Jesus põe em pé o que está  caído, desata o que está atado, dá vida ao que está morto.  Marta  acreditou e viu o seu irmão ressuscitado e a sua fé robustecida. Trata-se de crer, de confiar em Jesus, de nos fiarmos na sua Palavra,  de a assumir na vida.
Tudo é possível para quem crê! (Mc. 9, 23).
Anda e que se faça como acreditaste! (Mt. 8, 13).
Faça-se em vós segundo a vossa fé! (Mt. 9, 29)
A tua fé te curou! (Lc 7, 49)

Tiraram então a pedra.
Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse:
- Pai, dou-Te graças por me teres ouvido.
Eu bem sei que sempre me ouves,
mas falei assim por causa da multidão
que nos cerca, para
acreditarem que Tu me enviaste.

A sua oração não é de petição mas de ação de graças;  sabe que é escutado.
A escuta constante, o louvor, a ação de graças  são  o fundamento
da oração dos crentes. Como a de Jesus.

Dito isto, bradou com voz forte:
-Lázaro, sai para fora.

Estou encerrado no egoísmo, na preguiça, no derrotismo, no infantilismo, na falta de solidariedade, na estéril mediocridade?
Jesus repete-me: "sai para fora".
De que sepulcros me recomenda Jesus que eu saia?
De que ligaduras me tenho que libertar?

O morto saiu, de mãos e pés enfaixados
com ligaduras e o rosto envolvido num sudário.
Disse-lhes Jesus:
- Desligai-o e deixai-o ir.
Então muitos judeus, que tinham ido visitar
Maria, ao verem o que Jesus fizera,
acreditaram n’Ele.

Necessitamos, como Lázaro, sair dos nossos sepulcros e desprender-nos das vendas e ligaduras que nos impedem ver e avançar no caminho para a plenitude que percorremos com Jesus. Ele nos liberta de ligaduras, faz-nos sair de todos os nossos sepulcros: das nossas dúvidas, medos, egoísmos, preconceitos, tristezas, rotinas, covardias... E nos recomenda tirar as vendas, levantar e remover as pedras de tantos lázaros que encontramos pelo caminho.
Ressuscitando Lázaro, Jesus confirmou a fé de Marta, a de muitos dos presentes e a nossa.

Ar puro

O ar puro da manhã
anuncia a sua presença
e proclama o seu direito a entrar em cada casa.
Abre-lhe as portas.
Tira de ti as escamas.
Levanta a tua cara.
Enche o teu peito.
Abraça-o com as tuas mãos humanas.
Deixa esse tufo ácido que te sufoca,
esquece mortalhas passadas,
enxuga as tuas lágrimas,
fala, canta,
lança fora a desesperança.
Não deixes que te tolham, planta.
Pensa nas auroras que hão-de vir.
Põe cerco às recordações que te atam.
Deixa entrar a manhã clara em tua casa,
e que Deus se sinta à vontade
dizendo-te a sua palavra cheia de frescura.                        

Ulibarri Fl.


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