Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A política é: matar pobres todos os dias e de todas as formas. – Artigo de Gizele Martins. Assunto importante!



Para a maioria da sociedade brasileira a imagem da vida real nas favelas de grandes cidades só é conhecida através dos jornais e da TV, ou pelas imagens passadas em algumas novelas,   minisséries e filmes.  Mas, para aqueles que moram lá, muitas vezes a realidade é bem diferente. Sobretudo, quando se trata de grandes favelas das maiores cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizote. A pobreza, o tráfico de drogas, as dificuldades de sobrevivência marcam  duramente a vida de muitas pessoas que vivem nessas comunidades. 

Nos últimos anos, em função do Mundial de Futebol – Copa Brasil 2014, o poder público executou várias “políticas pacificadoras” em diversas favelas para garantir a realização e a segurança do evento. Em muitas delas foram implantadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), cuja relação com as comunidades nem sempre  é tão pacífica. Algumas áreas mais estratégicas foram ‘desocupadas’. Oficialmente essas medidas foram muito pouco divulgadas. Deixaram estragos e causaram outros problemas humanitários que necessitarão de soluções. Ademais, em vista temos um outro evento mundial – as Olimpíadas de 2016, a serem realizadas no  Rio de Janeiro.

Para entender um pouco melhor dessa situação, e sobretudo do drama das comunidades das favelas, trago hoje para o blog Indagações-Zapytania o artigo da jornalista Gizele Martins. Foi publicado no Canal Ibase no dia 13/01/2015.
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13/01/2015

A política é: matar pobres todos os dias

Por Gizele Martins*

Publicado originalmente na revista  Vírus Planetário





Ocupação do exército na Maré.
Uma história de violações.
FOTO: Tomaz Silva/ABr



Já não é mais possível militar na favela como antes, fazer comunicação comunitária hoje é quase um suicídio, mas o que esperar desse Estado que recebe com grande alegria uma Copa do Mundo a troco de tudo, a troco de grandes remoções, extermínio de pobres, negros e nordestinos no lugar de muita grana e grandes negociações nacionais e internacionais?

São inúmeras famílias destruídas, são inúmeras famílias despejadas. A criminalização da pobreza é histórica. Tá todo mundo vendo, a UPP, desde o seu projeto já era falido, era só mais uma forma de criminalização da pobreza. É e sempre foi questionável este projeto de matar pobre. Como um Estado acha que resolver o “problema da favela”, segundo a lógica deles, deve ser por meio de uma policia racista, suja e que serve e sempre serviu aos ricos, aos grandes empresários e ao Estado?

A UPP é e sempre foi uma política racista, afinal, é um projeto de Estado. Este ano, num debate com representantes do governo, questionaram a ausência da presença de moradores de favelas em projetos levados pelas UPPs, respondi que ninguém é burro, que conhecemos esta política desde que nascemos, desde que favela é favela e que se queriam um debate decente, que discutíamos ali a desmilitarização da polícia e o fim do Estado que nos mata. Me ignoraram, claro!

Rio de Janeiro, 02/07/2013 – Movimentos sociais protestam, em frente à favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, e na Avenida Brasil, contra ação da tropa do Bope na comunidade em junho, que resultou na morte de 10 pessoas. Foto de Tomaz Silva/Abr

É fácil ignorar quando se quer manter o emprego num alto cargo governamental e quando não se mora num bairro pobre ou na favela. Ontem, quando mais uma vez eu tentava sair de casa, houve mais um tiroteio na minha rua, um dos moradores gritava para eu não passar, pois tudo podia acontecer, já que o Exército apontava o seu armamento pesado em todas as direções. O morador dizia: “Já não temos o direito de ir e vir, era uma vez a Paz”.

É fato que nunca tivemos a tal paz, mas está cada dia mais difícil sobreviver neste território chamado Favela. E quando se fala que a política é matar pobre todos os dias e de todas as formas, é porque não só o tanque de guerra incomoda ou os tiroteios constantes, mas o altos preços nos aluguéis, vendas de casas, luz, água, remoções, despejos, fim da cultura popular, pedir permissão para fazer um churrasco na rua, ter soldados em torno de festas populares, por acharem que um bando de pobre junto é muito perigoso, são tantas coisas, tantas mudanças, tantas, até a comida está cara. Quem ganha salário mínimo, ou não tem nada, reaparece “morando” nas calçadas ou nos grandes galpões abandonados. Ou seja, daqui a alguns anos, se não for por nossa resistência diária, sabe-se lá se continuará existindo este território chamado favela, acho que não, pelos menos perto dos grandes centros urbanos não existirão mais.
Seguimos lutando, a Favela, resiste!

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*Gizele Martins é jornalista, editora do jornal O Cidadão da Maré e membro do Conselho Editorial da Vírus Planetário

Fonte: Canal Ibase

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