Para a maioria da sociedade brasileira a imagem da vida
real nas favelas de grandes cidades só é conhecida através dos jornais e da TV,
ou pelas imagens passadas em algumas novelas,
minisséries e filmes. Mas, para
aqueles que moram lá, muitas vezes a realidade é bem diferente. Sobretudo,
quando se trata de grandes favelas das maiores cidades como Rio de Janeiro, São
Paulo e Belo Horizote. A pobreza, o tráfico de drogas, as dificuldades de
sobrevivência marcam duramente a vida de
muitas pessoas que vivem nessas comunidades.
Nos últimos anos, em função do Mundial de Futebol –
Copa Brasil 2014, o poder público executou várias “políticas pacificadoras” em diversas
favelas para garantir a realização e a segurança do evento. Em muitas delas foram
implantadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), cuja relação com as
comunidades nem sempre é tão pacífica. Algumas
áreas mais estratégicas foram ‘desocupadas’. Oficialmente essas medidas foram
muito pouco divulgadas. Deixaram estragos e causaram outros problemas humanitários
que necessitarão de soluções. Ademais, em vista temos um outro evento mundial –
as Olimpíadas de 2016, a serem realizadas no
Rio de Janeiro.
Para entender um pouco melhor dessa situação, e
sobretudo do drama das comunidades das favelas, trago hoje para o blog
Indagações-Zapytania o artigo da jornalista Gizele Martins. Foi publicado no Canal
Ibase no dia 13/01/2015.
Não deixe de ler!
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Canal Ibase
NOTÍCIAS
CIDADES
E TERRITÓRIOS
13/01/2015
A política é: matar pobres
todos os dias
Por Gizele Martins*
Publicado originalmente na revista Vírus Planetário
Ocupação do exército na Maré.
Uma história de violações.
FOTO: Tomaz Silva/ABr
FOTO: Tomaz Silva/ABr
Já não é mais
possível militar na favela como antes, fazer comunicação comunitária hoje é
quase um suicídio, mas o que esperar desse Estado que recebe com grande alegria
uma Copa do Mundo a troco de tudo, a troco de grandes remoções, extermínio de
pobres, negros e nordestinos no lugar de muita grana e grandes negociações
nacionais e internacionais?
São inúmeras famílias
destruídas, são inúmeras famílias despejadas. A criminalização da pobreza é
histórica. Tá todo mundo vendo, a UPP, desde o seu projeto já era falido, era
só mais uma forma de criminalização da pobreza. É e sempre foi questionável
este projeto de matar pobre. Como um Estado acha que resolver o “problema da
favela”, segundo a lógica deles, deve ser por meio de uma policia racista, suja
e que serve e sempre serviu aos ricos, aos grandes empresários e ao Estado?
A UPP é e sempre foi
uma política racista, afinal, é um projeto de Estado. Este ano, num debate com
representantes do governo, questionaram a ausência da presença de moradores de
favelas em projetos levados pelas UPPs, respondi que ninguém é burro, que conhecemos
esta política desde que nascemos, desde que favela é favela e que se queriam um
debate decente, que discutíamos ali a desmilitarização da polícia e o fim do
Estado que nos mata. Me ignoraram, claro!
Rio de Janeiro, 02/07/2013 – Movimentos sociais protestam, em frente à favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, e na Avenida Brasil, contra ação da tropa do Bope na comunidade em junho, que resultou na morte de 10 pessoas. Foto de Tomaz Silva/Abr
É fácil ignorar
quando se quer manter o emprego num alto cargo governamental e quando não se
mora num bairro pobre ou na favela. Ontem, quando mais uma vez eu tentava sair
de casa, houve mais um tiroteio na minha rua, um dos moradores gritava para eu
não passar, pois tudo podia acontecer, já que o Exército apontava o seu
armamento pesado em todas as direções. O morador dizia: “Já não temos o direito
de ir e vir, era uma vez a Paz”.
É fato que nunca
tivemos a tal paz, mas está cada dia mais difícil sobreviver neste território
chamado Favela. E quando se fala que a política é matar pobre todos os dias e
de todas as formas, é porque não só o tanque de guerra incomoda ou os tiroteios
constantes, mas o altos preços nos aluguéis, vendas de casas, luz, água,
remoções, despejos, fim da cultura popular, pedir permissão para fazer um
churrasco na rua, ter soldados em torno de festas populares, por acharem que um
bando de pobre junto é muito perigoso, são tantas coisas, tantas mudanças,
tantas, até a comida está cara. Quem ganha salário mínimo, ou não tem nada,
reaparece “morando” nas calçadas ou nos grandes galpões abandonados. Ou seja,
daqui a alguns anos, se não for por nossa resistência diária, sabe-se lá se
continuará existindo este território chamado favela, acho que não, pelos menos
perto dos grandes centros urbanos não existirão mais.
Seguimos lutando, a
Favela, resiste!
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*Gizele Martins é jornalista, editora do jornal O Cidadão da Maré e membro do Conselho Editorial da Vírus Planetário
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*Gizele Martins é jornalista, editora do jornal O Cidadão da Maré e membro do Conselho Editorial da Vírus Planetário
Fonte: Canal Ibase
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