Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sobre trotes violentos nas Universidades. - A análise do sociólogo Antônio Almeida. Até quando isso vai ser tolerado?



O mês de janeiro está terminando e logo começará o ano letivo (no Brasil o ano escolar começa em fevereiro e termina em dezembro). Como todos os anos, novamente veremos na nossa cidade dezenas e dezenas de calouros – rapazes e moças, jovens estudantes que conseguiram ingressar para a Universidade Federal, ou para outras Instituições de Ensino Superior – vagando pelas ruas, praças e galerias pedindo moedas, ostentando um visual horroroso de nojentos e humilhados, mas supostamente felizes...
O que pensar sobre isso?

Sabe-se que existem muitas opiniões a respeito do trote universitário: existem pessoas que apoiam, pessoas que não gostam, mas toleram, outras não sabem opinar, e há também aquelas que se colocam radicalmente contra esse costume e principalmente contra as práticas (muitas vezes violentas) que derivam dele.

Eu, particularmente, sempre considerei o trote universitário um verdadeiro absurdo. Acho que esse costume não se justifica com absolutamente nada. É idiotice pura!  Não combina com a inteligência do ser humano. Deveria ser categoricamente proibido em todas as Instituições de Ensino Superior  e em qualquer outro lugar público. Essa é a minha opinião.

E para abordar a questão dos trotes universitários no Brasil com mais clareza e muita competência, trago hoje para o blog Indagações-Zapytania uma análise bem concreta e esclarecedora, do sociólogo Antônio Almeida. As suas observações e conclusões denunciam não só alguns casos concretos de trotes violentos, mas servem para questionar profundamente a própria existência e a falta de sentido desses costumes e rituais imbecís. 

A matéria foi publicada na RBA (Rede Brasil Atual) em novembro de 2014,  e também, postriormente, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
(As fotografias foram coletadas da Internet).

Realmente, vale a pena ler e refletir sobre essa questão!


WCejnóg


IHU - NOTÍCIAS

Para o sociólogo Antônio Almeida, a cultura de trotes violentos em universidades colabora para uma 'formação social muito distorcida'. Ele destaca importância de denúncia feita por estudantes na Assembleia Legislativa de SP.
A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 20-11-2014.








A reportagem

A denúncia coletiva de estudantes vítimas de estupro e violência sofridos em festas na Faculdade de Medicina da USP feita na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, na semana passada, foi muito importante, considerando a dificuldade de se tornarem públicas ocorrências desse tipo. A análise é do sociólogo Antônio Almeida.

Para ele, o caso não é um incidente isolado, um excesso ou uma fatalidade. "Fatos desse tipo ocorrem sistematicamente dentro do ambiente universitário", afirmou Almeida, acrescentando que trotes violentos ocorrem de forma sistemática não só na Medicina da USP, como na Geociências da mesma universidade, na Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq USP), na Faculdade de Medicina de Sorocaba e em escolas militares, como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

“É um grupo que consegue de alguma forma interferir no rumo da instituição. Às vezes até controlando a diretoria, ou outras comissões importantes, tentando estabelecer a pauta dessa instituição. E pra obter esse controle da instituição esse grupo não tem o menor escrúpulo em usar violência", revelou o professor em entrevista à Rádio Brasil Atual.

"Em alguns casos a gente poderia até falar que são quadrilhas mesmo, organizadas, e que deveriam ser tratadas dessa forma pela lei. Tem situações que quem de fato comanda o grupo trotista são professores, dirigentes, diretores, reitores, às vezes pessoas do mercado de trabalho, ex-alunos”, completou.

O professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq screveu três livros sobre trote, Universidade, preconceito e trote; Trote na Esalq; e Anatomia do Trote Universitário; além do projeto de pós-doutorado Trote Universitário e a Mídia. Ele explica que o grupo trotista tem uma disciplina rígida. No primeiro ano, o aluno que recebe o trote tem de se calar. Se não ficar em silêncio é expulso do grupo.

“Esse silêncio é o mesmo das organizações mafiosas, que depois vai acobertar todas as práticas ilegais, indecentes, criminosas até desses grupos. Esse aluno que está lá no pedágio é um soldado raso de uma hierarquia que tem general. Às vezes, esse general é um docente da universidade, um diretor, o ministro da Agricultura ou o ministro da Saúde.”

Há muito dinheiro envolvido nos trotes e festas. A universidade, de alguma forma, acaba patrocinando esses grupos, informa Almeida, que é professor da Esalq. Eles recebem apoio institucional na forma de verba, de participação e comissões em coisas que na verdade não deveriam participar.

“Eu acho muito grave. É uma das coisas mais graves na educação brasileira. As pessoas querem afirmar que o trote é uma brincadeira, uma forma de recepção, que o trote integra as pessoas na universidade. Isso é uma mentira. O trote divide os alunos do campus, causa muitas perdas, alunos que deixam a universidade ou que ficam com ferimentos pro resto da vida, ou pior ainda, que ficam dentro dessa mentalidade superpreconceituosa do trote.”

A cultura de violência dos grupos trotistas é baseada na impunidade. É a cultura do abuso. "São práticas cotidianas consideradas normais", avalia o professor. “Teve um caso aqui na Esalq em que uma menina foi estuprada por oito rapazes. Depois de ter sido estuprada ela recebeu o apelido de 'pizza', porque 'dá pra oito'."

Segundo o sociólogo, não são todos, mas muitos que provocam a violência nos trotes e festas são de classes mais abastadas, praticam atos violentos como forma de exercício de poder. No primeiro ano, o aluno recebe o trote, no segundo, é obrigado a dar o trote, se não der é desligado do grupo. “É um treinamento na opressão, é um currículo oculto na formação de opressores. O trote é um núcleo de uma formação social muito distorcida que está instalado dentro da universidade, e a universidade precisa coibir isso, educar, desmontar esse tipo de comportamento e não estimular.

Almeida também cita como exemplo o caso da Esalq, que trabalha com questões ambientais e agrícolas. “O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo. E em uma das principais escolas de agricultura do país, a agroecologia e as preocupações ambientais não são colocadas no currículo. O que está em jogo aí é a concepção de agricultura, de medicina, de psicologia, de engenharia. A gente está lutando pra ter uma sociedade mais igualitária, mais justa, mais transparente, mais democrática, e a universidade tem que dar a sua contribuição", concluiu.

Relatório

A USP vai apresentar na quarta-feira (26/nov/14) relatório sobre os casos. A informação é do professor de clínica médica geral Mílton de Arruda Martins, que preside uma comissão que averigua as denúncias de estudantes. “A nossa comissão fez um relatório que vai ser encaminhado à congregação da faculdade, que é o órgão máximo. A ideia é que a faculdade vai reconhecer a existência de todos os problemas, não vamos esconder nada”, disse o professor ontem (19/nov/14), após ser ouvido no Ministério Público Estadual. A reunião da congregação da faculdade será fechada. No entanto, segundo professor, os dados apresentados serão divulgados.


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