O texto que hoje trago para o
blog Indagações-Zapytania (abaixo), de Gustavo Chacra, apesar de curto, traz
importantes explicações e infrmações que ajudam a entendermos a situação atual
na Nigéria.
O texto, em forma de perguntas
e respostas, também foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – Notícias
Terça, 13 de janeiro de 2015
Manual para entender o
massacre de Baga, na Nigéria
Gustavo
Chacra, comentarista de política internacional do Estadão
e do programa Globo News, mestre em Relações Internacionais pela Universidade
Columbia, escreve sobre o massacre
de Baga, na Nigéria, impetrado por militantes do Boko Haram. A matéria é publicada no seu blog, 12-01-215.
Eis
o texto.
O
que ocorreu em Baga?
Militantes
do Boko
Haram massacraram
habitantes desta cidade da Nigéria.
Alguns especulam que 2.000 pessoas morreram. Outros relatos falam em dezenas ou
centenas.
Por
que não se sabe exatamente o número de vítimas?
Porque
quase não há jornalistas na região e o acesso de habitantes à internet é
precário. Fica difícil saber exatamente.
O
que é o Boko Haram?
Boko
Haram, em hausa, uma língua local, quer dizer algo como
“educação ocidental é pecado”. Foi fundado em 2002 para educar muçulmanos nesta
região da Nigéria e em países vizinhos. A partir de
2009, se tornou uma organização violenta, responsável por centenas de
atentados. Teria, inclusive, nos últimos anos, se aliado à Al Qaeda. Seus principais alvos são organizações
ocidentais e cristãs. Neste ano, sequestrou centenas de meninas em um de seus
ataques.
Os
muçulmanos condenam o Boko Haram?
Sim, as
principais organizações islâmicas do mundo condenam abertamente este grupo
terrorista.
E
o governo e o Exército da Nigéria, não faz nada?
O
presidente Goodluck
Jonathan condenou
o atentado terrorista em Paris,
mas, de forma grotesca e repugnante, não se manifestou sobre o massacre
cometido pelo Boko
Haram em Baga. Em fevereiro, ele enfrentará eleições e não
quer ser responsabilizado pela sua incompetência no combate ao grupo
terrorista. O Exército nigeriano também tem sido extremamente ineficiente.
Note-se, inclusive, que, em abril de 2013, militares queimaram milhares de
casas e mataram 200 pessoas em Baga.
Sabe-se lá o porquê, argumentaram que estavam se vingando do Boko Haram ao
matar a população civil.
Como
é a divisão religiosa e étnica da Nigéria?
Conforme
escrevi em um post no Estadão no passado, o país possui mais de 250 etnias. As
principais são a Hausa
(29%), Yoruba (21%) e Igbo (18%).
Estas etnias se dividem em 50% de muçulmanos, que se concentram mais no norte
do país, 40% de cristãos, mais ao sul, além de 10% de outras religiões. O Boko Haram, embora fale em nome dos muçulmanos,
não conta com o apoio da maior parte da população islâmica, que condena os
atentados.
Por
que houve mega manifestações em solidariedade aos mortos de Paris mas não
ocorreu o mesmo com os de Baga?
Primeiro, o
problema é não ter ocorrido manifestações envolvendo Baga.
As de Paris eram necessárias e foi um momento
mágico de união mundial contra o terrorismo (lamentável a ausência de uma
figura do alto escalão americano e brasileiro).
Em segundo lugar,
porque as pessoas em geral tinham informação do que ocorreu em Paris, mas não tinham de Baga.
Terceiro, há
imagens do ataque em Paris,
uma cidade que todos conhecemos pessoalmente ou de fotos e filmes. É mais
familiar.
Quarto, o
governo francês, ao contrário do nigeriano, ficou na vanguarda do combate ao
terrorismo.
Quinto, porque
de fato somos hipócritas e a morte de africanos, mesmo se comparada à de mortos
no Oriente Médio, tem menos impacto.
Sexto, porque
há poucos jornalistas especializados em África. Há vários que conheço que
acompanham a Síria, Irã e
Israel (eu
sou um caso). Mas poucos que se especializam na África. Os
órgãos de imprensa também dão pouco espaço para o continente africano.
Fonte: IHU - Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário