Indagar serve para dissipar as dúvidas e poder corrigir o que for errado.
Por isso, não é correto fugir das
perguntas. É preciso procurar as respostas certas.
Abaixo, uma pequena reportagem que sinaliza um tema importante. Ao meu
ver, merece atenção e divulgação para servir de pano de fundo para uma sincera
e mais ampla reflexão sobre a questão de ‘tarifas’ e ‘pagamentos’ existente nas instituiçoes eclesiásticas (e
não só católicas!), como se fosse preço
pela salvação (que é gratuita!). O texto fala sobre as práticas nesse sentido, nas paróquias e dioceses da Itália, porém, todos sabemos que este é o costume em quase todos os outros países, entre eles - o Brasil. O que
pensar sobre isso? Como deveria ser? – cada um deve procurar tirar as suas próprias conclusões.
A matéria foi publicada no mês de novembro de 2014, no jornal Secolo XIX e,
também, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU -Notícias
Terça, 25 de novembro de 2014
O papa, a simonia e as missas
pagas. Quanto custa a salvação?
"Quantas vezes vemos que, ao
entrar em uma igreja, ainda hoje, há a lista dos preços para o batismo, para a
bênção, para as intenções para a missa?. E o povo se escandaliza", porque
esse "é o escândalo do comércio, do mundanidade"; mas a redenção,
como Jesus nos ensinou, não é paga,
"é gratuita".
A reportagem é de Francesco
Peloso, publicada no jornal Secolo XIX, 22-11-2014. A tradução
é de Moisés Sbardelotto.
A reportagem
São palavras pesadas aquelas
escolhidas pelo papa no dia em que a liturgia propunha o Evangelho de Jesus que
expulsa os mercadores do templo. No dia 21 (nov/2014), na costumeira celebração
da missa na casa de Santa Marta, Bergoglio, reagiu de
novo duramente contra os vícios que se aninham na Igreja.
A denúncia fortíssima
de Francisco não deixou de levantar polêmicas internas ao
episcopado. Mas o pontífice não falou por acaso. Chegaram até ele relatos de
algumas realidades e paróquias em que o comércio dos sacramentos e das missas
era tão difundido a ponto de provocar os protestos dos fiéis.
Um episódio desse tipo,
que remonta ao ano passado, tornou-se um pequeno caso. Em Villa Baggio,
na província de Pistoia, Itália, o pároco tinha exposto na
igreja uma folha com as tarifas para os sacramentos. Variava de 190 euros para
o casamento a 90 euros para um batismo.
A esse ponto, um grupo
de paroquianos rompeu a trégua e decidiu escrever ao papa. Não eram ofertas
obrigatórias, mas apenas indicações genéricas, como depois o padre tentou
explicar, de sua parte, negando ter disposto um tarifário.
Mas, certamente, não é o
único caso. Ao contrário, ocorreu muitas vezes que a lista de preços para os
sacramentos fixado em uma igreja depois acabou nos jornais. Nunca se trata de tarifas oficiais, muitas
vezes o pedido é feito verbalmente, de modo informal, mas não raramente se
trata de valores bastante onerosos.
Como aqueles denunciados
em 2009 pelo bispo de Pozzuoli
(província de Nápoles), Dom
Gennaro Pascarella, que colocou claramente em um documento a proibição para
os párocos da sua diocese de pedirem somas de dinheiro para casamentos (que
chegavam até 500 euros) ou para crismas ou comunhões (250-300 euros).
O princípio,
explicava-se naquele caso, é que as ofertas devem ser livres, deixadas à
sensibilidade dos fiéis e de modo algum impostas ou determinadas com
antecedência. De fato, o risco é o de transmitir a ideia de uma Igreja que tem
uma relação equivocada com o dinheiro e com os bens materiais.
No entanto, também
existem tarifários oficiais estabelecidos pelas dioceses, cujo objetivo deveria
ser justamente o de evitar os abusos de paróquias e sacerdotes individuais. E,
depois, as ofertas dos fiéis para as missas, em parte, ficam para o padre e, em
parte, vão para o bispo.
No entanto, o Papa
Francisco retratou uma situação extremamente realista: "Quando aqueles que estão no templo –
disse –, sejam sacerdotes, leigos, secretários, se tornam negociantes, o povo
se escandaliza. E nós somos responsáveis por isso". "Os leigos
também, hein! – continuou –, todos. Porque, se eu vejo que na minha paróquia se
faz isso, devo ter a coragem de dizer isso na cara do pároco. E as pessoas
sofrem esse escândalo".
"É curioso – observou, depois, Bergoglio –, o povo de Deus sabe
perdoar os seus padres quando eles têm uma fraqueza, quando escorregam em um
pecado. Mas há duas coisas que o povo de Deus não pode perdoar: um padre
apegado ao dinheiro e um padre que maltrata as pessoas. Não consegue
perdoar!"
Francisco deu o exemplo,
que remonta a quando ele era um sacerdote novato, de um casal de jovens que
queria se casar "com a missa".
O secretário paroquial, contou Bergoglio, "respondeu: 'Não,
não: não se pode' – 'Mas por que não se pode com a missa? Se o Concílio
recomenda fazê-lo sempre com a missa?' – 'Não, não se pode, porque mais de 20
minutos não se pode' – 'Mas por quê?' – 'Porque há outros turnos' – 'Mas nós
queremos a missa!' – 'Então paguem dois turnos!'. E para se casar com a missa
tiveram que pagar dois turnos. Esse é o pecado de escândalo".
Desse modo, disse o
papa, a Igreja se tornou uma "casa de negócios".
Francisco também quis
explicar o mérito da questão a partir do ponto de vista evangélico: "Mas por que Jesus se irrita com o
dinheiro?". O fato é que, especificou o pontífice, "a redenção é
gratuita; é a gratuidade total do amor de Deus que Jesus veio nos trazer".
"E quando a Igreja ou as igrejas – disse –
tornam-se negociantes, diz-se que não é tão gratuita a salvação. É por isso
que Jesus toma o
chicote nas mãos para fazer esse rito de purificação no Templo."
Fonte: IHU - Notícias
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