Achei muito interessante o artigo de Christian Albini*, As hipóteses sobre Jesus, entre história e fé. Para contribuir pelo menos um pouco na sua divulgação,
trago-o para o blog Indagações-Zapytania.
O
artigo foi publicado pelo autor no seu blog Sperare per Tutti, em janeiro deste ano (2015) e posteriormente
também no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU
– NOTÍCIAS
Segunda, 02 de fevereiro
de 2015
As hipóteses sobre Jesus,
entre história e fé. Artigo de Christian
Albini.
Os Evangelhos e os
outros textos nascem dentro de uma tomada de posição de fé e tendem ao
envolvimento do leitor, a levá-lo também a uma decisão de fé.
Publicamos aqui um
trecho do novo e-book de Christian Albini, intitulado L'umanità di Gesù. Tra storia e
fede [A humanidade de Jesus. Entre história e fé].
Albini é
um teólogo leigo italiano, coordenador do Centro de Espiritualidade da
diocese de Crema, na Itália, e sócio-fundador da Associação
Viandanti.
O artigo foi publicado
no seu blog Sperare per Tutti, 22-01-2015. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
Eis o texto.
Joseph Ratzinger, na
premissa metodológica ao primeiro volume da sua obra sobre Jesus, escreve:
"Como limite de
todo esforço voltado a conhecer o passado, é preciso reconhecer que não se pode
ultrapassar o âmbito das hipóteses, porque, propriamente, não podemos recuperar
o passado no presente. Certamente, há hipóteses com um alto grau de
probabilidade, mas, no conjunto, devemos estar conscientes do limite das nossas
certezas" [1].
A pesquisa histórica não
nos entrega o Jesus real, não demonstra uma verdade absoluta e
definitiva, mas formula hipóteses. Para aquelas que são as características do
"caso-Jesus", é um nível que não pode ser ultrapassado: há uma
pluralidade de hipóteses históricas plausíveis. É possível inclinar-se por uma
delas, dependendo do peso atribuído aos dados e aos argumentos que a
corroboram, mas sem que uma possa ser indiscutivelmente demonstrada a despeito
das outras. Querendo reagrupá-los segundo uma tipologia, poderíamos subdividi-las
em três grandes categorias.
1) Jesus não
se separou substancialmente do judaísmo ao qual pertencia por nascimento. Foi o
cristianismo que se separou, depois, de Jesus e do judaísmo. Apoiam-na, por
exemplo, Adriana Destro e Mauro Pesce, Harold
Bloon,Remo Cacitti.
2) Com Jesus,
houve uma novidade religiosa, que, no entanto, não se identifica
necessariamente com os retratos dos evangelhos canônicos e com a interpretação
teológica eclesial que se afirmou nos concílios cristológicos dos primeiros
séculos. Nunca houve um cristianismo único, mas uma multiplicidade de versões –
até mesmo conflitantes –, e pode ser que a autenticidade do rosto de Jesus
fosse expressado por aqueles que foram perdidos, como sugerem Elaine
Pagels e Bart D. Ehrmann.
3) O
Jesus dos evangelhos canônicos, assim como o definiu o Credo dos
Apóstolos, é o Jesus real, o "Jesus histórico", em sentido
verdadeiro e próprio. Assim defende Joseph Ratzinger. "Estou
convencido, e espero que o leitor também possa de dar conta disto, que essa
figura é muito mais lógica e, do ponto de vista histórico, também mais
compreensível do que as reconstruções com as quais tivemos que nos confrontar
nas últimas décadas. Eu considero que justamente esse Jesus – o dos Evangelhos
– é uma figura historicamente sensata e convincente" [2].
Se essa variedade de
posições é o limite em relação ao qual a pesquisa histórica se detém, então não
é na pesquisa histórica que encontramos a resposta ao mistério de Jesus.
Os Evangelhos e os outros textos nascem dentro de uma tomada de posição de fé e
tendem ao envolvimento do leitor, a levá-lo também a uma decisão de fé.
Portanto, não se pode
ignorar a natureza e a finalidade desses textos. Não é a pesquisa histórica que
me diz, em última instância, quem é Jesus, mas sim a minha decisão de fé. Aqui
entra em campo uma dimensão do conhecimento e da verdade que é diferente da
positivista, em que só conta o dado empírico quantificável, mas a mais
propriamente espiritual e religiosa. Ratzinger também atesta
que a sua apresentação de Jesus é compartilhável apenas combinando a
hermenêutica histórica com uma hermenêutica teológica.
De fato, como
destaca Enzo Bianchi, a
atenção importante a se ter na leitura dos Evangelhos é a distinção entre
evento histórico e história contada, de modo que o significado do texto está
conectado a uma interpretação, a uma determinada compreensão do próprio evento
que está na origem.
Portanto, a narrativa
não é uma fotografia da história, mas uma construção em que o autor/redator
organiza os testemunhos pré-existentes e emprega os seus instrumentos
expressivos para comunicar a mensagem que está no seu coração ao destinatário
que ele tem em mente.
O papel da fé na
estruturação da narrativa não significa que esta seja falsa. O autor/redator,
de fato, não escreve para enganar o leitor, mas para lhe comunicar aquilo em
que ele mesmo acredita firmemente a partir dos eventos. Não se trata de uma
ideia e uma opinião totalmente subjetivas, mas de uma convicção de fé, uma
confiança em uma realidade que as precede e sem a qual não existiriam. A
dimensão da fé não dirige e determina a pesquisa histórica, a qual mantém a
própria autonomia, porque se coloca em um momento posterior.
É a fé que toma posição
entre as hipóteses sobre Jesus, das quais a pesquisa histórica
indica os pressupostos e a plausibilidade.
Isso nos leva de volta à
relação entre o Jesus histórico e o Cristo da fé e à afirmação
de Dupont, segundo o qual, entre os dois, há traços de
descontinuidade e traços de continuidade. Sem descontinuidade, não haveria fé:
a liberdade do crer pertence a um espaço em que as medidas e as demonstrações
não bastam. Sem continuidade, o Cristo acreditado não teria Jesus de
Nazaré: haveria a doutrina de uma religião, sem um fundamento histórico
real.
A partir do momento em
que a dimensão de fé não pode ser excluída da interrogação sobre Jesus,
qual é a linha além da qual inicia a sua especificidade? Em outras palavras,
onde o crente se separa do não crente? Responde Dupont: "Não na
pesquisa histórica como tal, mas no significado a ser atribuído a essa
pesquisa" [3].
Como vimos, não há uma
distinção exterior aos textos, mas que está dentro dos próprios textos em que
os testemunhos são uma única coisa com a interpretação de fé. A pesquisa
histórica, então, me ajuda a reconhecer o que, nos textos, pode ser conduzido a
um testemunho sobre Jesus e o que constitui uma leitura de fé
disso. A pesquisa não é capaz de me dizer se esta última é verdadeira ou falsa;
é uma decisão que cabe a mim.
Notas:
1. Joseph
Ratzinger. Gesù di Nazaret. Città del Vaticano-Milano:
LEV-Rizzoli, 2007, p. 13.
2. Ibid,
p. 18.
3. Jacques
Dupont. Op.cit., p. 13.
__________________________
* Christian Albini (Crema, 1973) marido,
pai, professor, teólogo. Participa da vida cristã de sua comunidade e paróquia
em sua diocese, onde ele é o coordenador do Centro Diocesano de
Espiritualidade. Ele é o autor de livros, artigos e blogs esperança para todos.
É membro fundador da Wayfarers. In: www.chicercate
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