O texto que hoje trago para o blog Indagações-Zapytania é muito
interessante e atual, pois aponta para a questão da dignidade humana. Penso que
esse ponto talvez seja o mais importante para ser lembrado, refletido e
trabalhado nas sociedades de hoje, porque diz respeito ao futuro do ser humano.
Em nosso mundo, de tantas conquistas científicas, tecnológicas e de muitas obras e realizações
nunca antes vistas na história da humaniodade, mas também de tantas guerras,
conflitos, violência, degradação humana (extrema pobreza, tráfico de pessoas, drama de fuga e migração de milhares
e até de milhões de pessoas para fugir da morte e/ou da fome), onde o sistema
econômico dominante passa como um trator por cima de tudo e de todos, e a
corrupção e a imoralidade tornaram-se tão cravadas na carne da nossa sociedade,
a ponto de merecerem ser chamadas de câncer, - é neste mundo que o tema da
dignidade humana precisa e deve voltar a ser discutido e promovido na escala mais
larga possível.
O texto foi publicado no mês
passado (julho) pelo autor da nota, Francesco Occhetta, no seu blog, e também,
posteriormente, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler o texto e pensar no assunto!
WCejnóg
IHU – Notícias
Sexta, 10 de julho de
2015
Dignidade: a prioridade das
prioridades
A pessoa humana e o
reconhecimento da sua dignidade estão
no centro do último estudo de Giovanni Maria Flick – Elogio della
dignità. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 2015 –, ex-presidente
emérito da Corte Constitucional e ministro da República
italiana.
Um verdadeiro elogio da
dignidade que leva o autor a se perguntar: "Se não agora, quando?".
A nota é do jesuíta
italiano Francesco Occhetta, membro da redação da revista La
Civiltà Cattolica, publicada no seu blog L'umano nella Città,
07-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto
Mas em que consiste e
sobre o que se fundamenta a "dignidade" da pessoa humana neste tempo
de crise e de ódio? Onde se fundamenta esse valor que constitui o horizonte
ético mais alto e válido ao qual chegou a consciência moderna, a ponto de hoje
ser universalmente reconhecido, ao menos em nível teórico, como o fundamento
sobre o qual apoiamos todos os direitos e deveres?
Essas são as perguntas a
que Flick responde, acompanhando o seu leitor em uma espécie
de navegação em um rio subterrâneo, que corre por baixo dos eventos da
história.
Eis as suas primeiras
palavras: "A dignidade é premissa e condição de igualdade e, ao mesmo
tempo, de diversidade; é expressão e fruto de solidariedade; é fundamento e
limite de liberdade. Pensar sobre a dignidade diante do terrorismo, da
violência e da intolerância [...] é um direito e um dever de todos".
Sem essa condição,
desaparece o sentido do direito, do laço social que mantém unidos os cidadãos,
do futuro (humano) do mundo.
A palavra
"dignidade" (do latim, dignitas) significa valor: por
isso, "digno" é o que tem valor e merece respeito. A
"dignidade" da pessoa humana, portanto, significa que esta, pela sua
excelência e nobreza, pelo seu valor, merece respeito, que será tão maior
quanto mais a pessoa for "digna". Mas quando a pessoa é digna?
Através da visão
personalista – filão cultural ao qual o autor pertence –, esclarece-se que a
dignidade não se fundamenta apenas na pessoa individual, considerada
isoladamente, nem pode ser proposta com base nas qualidades individuais da
pessoa, mas deve ser relacional e invoca uma ética da solidariedade, do
"nunca um sem o outro".
Para G. M. Flick,
o imperativo ético nasce da estrutura dialógica-interpessoal do eu. A sua
proposta supera a de Kant. A dignidade está fundamentada nos
valores morais do respeito pela pessoa e pela sua vida, nos direitos aos meios
de subsistência, na maturação integral ou na relação eu-tu sobre a qual se
fundamentam as concepções de justiça.
A tarefa de cada Estado
é remover os seus obstáculos, posto que "o percurso da dignidade, na
passagem do significado literal ao jurídico do termo, não é fácil".
No ensino social da
Igreja, Flick reconhece, acima de tudo, um mérito: o de
definir concretamente o sentido da dignidade a partir dos pobres e dos
sofredores. Assim, definir a dignidade humana sempre é possível para a
consciência pessoal e comunitária a partir de uma via indireta: as
consequências que humilham a pessoa – o autor frequentemente cita o Holocausto –,
que interpelam e despertam o homem moral.
Através da sua
experiência de autoridade, Flick também desmascara um binômio
ingênuo: mais segurança equivale a mais dignidade. Ao contrário, a dignidade
constrói e é compreendida na cultura equilibrando as práticas da solidariedade
e as da liberdade.
Resta um último
ensinamento: onde não há dignidade, é inútil fingir que há vida verdadeira.
Para todos, valha o aviso deixado por escrito no campo de concentração de Dachau,
que o autor recorda: "Aqueles que esquecem o passado estão condenados a
repeti-lo".
Fonte: IHU - Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário