É importante a sociedade brasileira tomar conhecimento de todos esses
dados do Relatório
Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, do
CIMI, para perceber a gravidade da situação em que se encontram muitos dos
povos indígenas.
O
relatório foi publicado no portal do CIMI, em junho deste ano (2015) e também,
postriormente, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU
- NOTÍCIAS
Sábado, 20 de junho de
2015
Aumentam os índices de
assassinato, suicídio e mortalidade infantil de indígenas, aponta relatório do
Cimi
Houve um severo aumento da
violência e das violações praticadas contra os povos indígenas no Brasil em
2014, especialmente em relação aos casos de assassinatos, suicídios, mortes por
desassistência à saúde, mortalidade na infância, invasões possessórias e
exploração ilegal de recursos naturais e de omissão e morosidade na
regularização das terras indígenas. Esta é a constatação do Relatório
Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2014, que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lançou na tarde desta
sexta-feira, 19, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília.
A reportagem é publicada no portal do Cimi, 19-06-2015.
Reportagem
“A situação é muito complicada entre os
povos indígenas, mas vemos um ataque aos direitos humanos como um todo. Se faz
necessário resistir de forma abnegada junto aos condenados desta terra. Que
Deus nos dê saúde para seguir adiante”, disse o presidente do Cimi e bispo do Xingu, Dom Erwin Kräutler. O religioso fez referências à encíclica do Papa
Francisco sobre ecologia e os alertas feitos pelo Sumo
Pontífice aos ataques sofridos pelos povos indígenas no mundo. O relatório do Cimi, portanto, reafirma tais investidas contra os povos originários. No
evento, estiveram presentes o secretário da CNBB, Dom Leonardo
Steiner, e a liderança indígena Tito Vilhalva Guarani e Kaiowá.
“Tiraram à força todo mundo dos tekoha
– lugar onde se é - lá. Pra gente voltar tem sido esse sofrimento. Pistoleiro
mata, fome mata, atropelamento mata, suicídio mata. Não vamos desistir não. A
gente continua: embaixo de lona, de frio, de calor, de tiro. Vamos tudo ficar
ali”, frisou Tito.
O Relatório é realizado a partir da
sistematização de dados coletados e compilados com base nas denúncias e nos
relatos dos povos, das lideranças e organizações indígenas, de informações das
equipes missionárias do Cimi que atuam nas áreas e de notícias veiculadas pelos
meios de comunicação de todo país. Também inclui informações de fontes
oficiais. O aumento das violências e violações foi constatado em 17 das 19
categorias que compõem o Relatório.
"Violências contra os povos
indígenas trazem consigo um histórico não
reparado. Das mais graves, a participação do Estado segue e permite todas as
outras", afirmou o secretário executivo do Cimi Cleber Buzatto, durante o lançamento do relatório.
De acordo com informações da Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde,
135 indígenas cometeram suicídio em 2014. Este número configura-se como o maior
em 29 anos, de acordo com os registros do Cimi. O Mato Grosso do
Sul continua sendo o estado que apresenta a maior quantidade de
ocorrências, com o registro de 48 suicídios, totalizando 707 casos registrados
de suicídio no estado entre 2000 e 2014. Também é preocupante o alto número de
casos registrados no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Alto Rio Solimões, localizado no Amazonas, onde são atendidos os
povos Tikuna, Kokama e Caixana. Somente neste Dsei foram
registrados 37 casos de suicídio.
"Decisões da 2ª Turma do Supremo
Tribunal Federal (STF) descaracterizam o que é terra indígena. A Constituição Federal não fala em marco temporal", diz Buzatto. O missionário explica
que frente a tais decisões, as comunidades indígenas sentem-se vulneráveis,
desassistidas. O que confere liberdade aos inimigos das comunidades indígenas.
Ainda segundo as informações da Sesai, 138 indígenas foram assassinados em 2014, sendo que no ano
anterior 97 casos foram registrados. Os dados enviados pela Sesai não permitem
uma análise mais aprofundada em relação aos povos, estado, sexo e idade das
vítimas. Mas, segundo informações do Dsei Mato Grosso do Sul, é possível
afirmar que este estado figura mais uma vez como o mais violento do país, em relação ao assassinato de indígenas, com 41
ocorrências ou 29% dos casos.
Um dos dados mais chocantes do
Relatório refere-se à mortalidade na infância. “A mortalidade infantil e os suicídios exterminam a juventude
indígena. Estamos diante de uma situação absolutamente grave”, analisa a
assessora antropológica do Cimi e coordenadora do relatório, Lúcia
Helena Rangel. Dados preliminares da Sesai
apontam um total de 785 mortes de crianças entre 0 e 5 anos.
Em 2013 o relatório do Cimi registrou a morte de 693 crianças em todo o país. Os Xavante, de Mato Grosso, foi o povo com o maior número de crianças mortas
em 2014, totalizando 116. A taxa de mortalidade na infância (do nascimento até
cinco anos) nos Xavante chegou a 141,64 por mil,
enquanto a média nacional registrada em 2013 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) foi de 17 por mil. Em
Altamira, no Pará, município atingido pelas obras da hidrelétrica de Belo
Monte, a taxa de mortalidade na infância chegou a 141,84 por mil.
Entre os Yanomami foram registradas 46 mortes de crianças menores de 1 ano. Este
povo realizou diversas mobilizações durante todo o ano de 2014, com o propósito
de exigir do governo federal um melhor atendimento na área de saúde. Em relação
à morte por desassistência à saúde, em 2014, foram registrados 21 casos. No ano
anterior, sete mortes haviam sido registradas.
Assim como ocorreu no ano anterior, o
governo Dilma Rousseff continuou atendendo aos interesses e pressões do
agronegócio em 2014. A presidente da República não assinou nenhuma homologação
de terra indígena, apesar de pelo menos 21 processos de demarcação de terras
sem nenhum óbice administrativo e/ou judicial ainda estarem em seu gabinete no
final do ano, aguardando apenas a sua assinatura para a homologação.
A mesma orientação seguiu o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo. Nove processos aguardavam apenas sua assinatura para serem
publicadas as respectivas portarias declaratórias. Também no caso destas terras
não há nenhum impedimento legal e/ou administrativo para que os processos de
regularização avancem no Poder Executivo.
Neste contexto, em 2014, o Cimi registrou 118 casos de omissão e morosidade na regulamentação de
terras, mais que o dobro do que foi registrado em 2013, 51 ocorrências. No
Pará, estado com o maior número de casos, o não reconhecimento das terras indígenas
está diretamente ligado às intenções do governo federal em construir grandes
hidrelétricas, como no caso da usina São Luiz do Tapajós que, se construída, alagará aldeias, florestas e cemitérios da Terra
Indígena Sawré Muybu, do povo Munduruku.
Já no Mato Grosso do Sul,
estado com 24 ocorrências de omissão e morosidade na regulamentação de terras,
as comunidades indígenas vivem à beira de rodovias, em barracos de lonas,
cercadas por pistoleiros disfarçados de segurança e sujeitas a todo tipo de violências,
inclusive a despejos violentos.
Em 2014, mais do que duplicaram também
os registros relativos a invasões possessórias, exploração ilegal de recursos
naturais e danos diversos ao patrimônio. Enquanto em 2013 foram feitas 36
ocorrências, em 2014 foram registrados 84 casos.
O Relatório
Violência Contra os Povos Indígenas – dados de 2014 ainda traz vários artigos que contextualizam e aprofundam a
análise sobre os dados reunidos. A baixa execução orçamentária dos recursos
públicos disponíveis para a ação de demarcação de terras indígenas, dentre
outros, revela que não é por falta de recursos financeiros que as demarcações
não foram realizadas. A histórica violência institucional praticada contra os
povos indígenas também é abordada no Relatório, a partir de casos bastante
graves de violações realizadas pelas forças policiais em 2014.
Um novo capítulo, intitulado Memória e
Justiça, traz ainda reflexões sobre a recente violência sofrida pelos povos
durante o período da ditadura militar e as recomendações da Comissão Nacional
da Verdade (CNV) em seu capítulo específico sobre os
povos indígenas.
Para ler a integra do relatório, clique aqui.
Fonte: IHU - Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário