Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 28 de abril de 2012

A força da Ressurreição. Somos incrédulos?


É muito conhecido o texto do Evangelho segundo São João (Jo 20, 19-31), que  fala do aparecimento de Jesus Ressuscitado aos seus discípulos,  que estavam  reunidos, “com as portas fechadas por medo dos judeus”. O Tomé não estava com eles naquele instante. Não acreditou que Jesus  Vivo estivera  ali.  Falou: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.  Quando depois, no outro dia, Jesus novamente lhes apareceu, e desta vez o Tomé estava com eles,  Jesus cobrou dele a falta de fé. Envergonhado, Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!”. Jesus disse; “Creste porque me  viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!”

São muitas reflexões e interpretações que já lemos ou ouvimos sobre esse episódio.  Mesmo assim,  hoje trago  aqui um comentário muito interessante da M.Asun Gutiérrez.

Os interessados pedem ler esse texto em PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat:  http://www.benedictinescat.com/montserrat/indexceramport.html,  abrindo o link  Páscoa Domingo 2  -  Reflexão do Evangelho. 
Um lindo trabalho! Não deixe de ler.
WCejnog

"Bem-aventurados os que não viram, e creram!”

O encontro com Jesus ressuscitado é um presente.
Os discípulos não fazem nada para que ele aconteça.
Os relatos insistem em que é Jesus quem toma a iniciativa.
É Ele quem se lhes impõe cheio de vida, obrigando-os a sair
do seu desconcerto e incredulidade.
Coloca-se repetidamente nos seus lábios uma saudação significativa:
“A paz esteja convosco”.
O ressuscitado oferece-lhes a paz e a bênção de Deus.
Jesus continua a ser  o mesmo.
Essa era a paz que infundia quando caminhava pela Galileia.
Este é também agora o grande presente que Deus oferece
a todos os seus filhos por meio de Cristo morto e ressuscitado:
o perdão, a paz e a ressurreição.

José Antonio Pagola.
“Jesus: uma abordagem histórica”.

Todos nós,  que nos consideramos  crentes, podemos viver com frequência:  “ao anoitecer”,  “com as portas fechadas”, “com medo”, “com temor das autoridades”.

Nesse caso necessitamos reencontrar-nos com Jesus ressuscitado.

Ele está no centro da nossa vida, no centro das nossas dores e alegrias, dos nossos desejos, inquietações e esperanças, dando sentido a tudo.

As palavras de Jesus são sempre um convite a superar a tentação de se fechar. Ele abre as portas e janelas que o medo, o formalismo, a inércia, a covardia fecham.

Paz, Espírito, Perdão, Missão, Fé, Vida. São palavras que Jesus pronuncia e que resumem de modo genial as características dos seus seguidores para os novos tempos de qualquer Nova Semana.

A experiência pascal  é o encontro com Jesus, que nos liberta do medo e do desencanto e nos mostra o caminho que conduz à autêntica paz: a harmonia connosco mesmos, com os outros, com a natureza e com Deus.

O convite não é só para os discípulos. Todos somos enviados a fazer o que temos visto Jesus fazer, a continuar e atualizar a sua vida e a sua mensagem.

A comunicar vida, a dar paz, a desamarrar, a libertar, a continuar a sua obra.

Quem tem um encontro com Jesus ressuscitado, enche-se de alegria e sente a necessidade de contagiar e comunicar a sua experiência aos outros.

O Espírito de Jesus transforma o medo em paz, o pessimismo em alegria.

O Espírito é o grande dom da Páscoa. Jesus envia-nos o seu Espírito, o seu Alento, o seu  Ânimo, a sua Vida para que nos empapemos d’Ele, e O contagiemos e comuniquemos aos outros. De forma que o mundo identifique fé em Jesus com pessoas sensíveis e lutadoras por uma vida melhor, mais livre e feliz para todos.

“O Espírito não quer ser visto, mas ser em nossos olhos a luz”. (Urs von  Baltasar)

O perdão é fruto da paz, distintivo da pessoa nova e ressuscitada.

Oferece e dá perdão quem se sente e se sabe perdoado.

O perdão faz parte da missão encomendada por Jesus a toda a comunidade:

“Perdoai-vos uns aos outros”.

 Todos necessitamos do perdão e todos estamos chamados a ser,  de múltiplas maneiras,  sinais e fonte do perdão-companhia-acolhimento...  que Deus é.

A fé no Ressuscitado nasce dum encontro pessoal  e da superação de uma fé que exige provas contundentes,  que não deixem espaço à dúvida.  A fé intelectual,  a aceitação de um credo é fácil.  A verdadeira fé é a que toca e compromete a vida inteira.

Como é a minha fé? Qual  é a causa e raiz das minhas dúvidas? Não tenho dúvidas?

A dúvida pode ter também as seus aspectos positivos.

Duvidar pode significar que não pomos a nossa confiança em coisas superficiais, que somos peregrinos sempre em busca. Duvidar pode significar que a nossa fé não se baseia só no que nos transmitiram, mas que, além de ser dom de Deus, é também conquista nossa, que pede o nosso "sim" pessoal, no meio do emaranhado de ideias que houver à nossa volta, que podem fazer oscilar as nossas seguranças  num determinado momento.

Podemos aprender da dúvida de Tomé a nos despojarmos de falsos apoios, a estar um pouco menos seguros de nós mesmos e aceitar a purificação que supõem os momentos de insegurança.

Jesus volta , quando necessário, para esclarecer as nossas dúvidas  e para nos mostrar a sua presença e a sua proximidade.

Do  “incrédulo” surge uma confissão de fé generosa e confiada: “Meu Senhor e meu Deus”.

Jesus continua a mostrar-nos as suas chagas, para que O reconheçamos nelas  e, como a Tomé, continua a convidar-nos a tocá-las e a aliviá-las em tantas pessoas feridas na alma e no corpo.

A dúvida de Tomé consegue de Jesus uma promessa em forma de bem-aventurança  para todos  nós.

O caminho da fé pascal não é o das provas sensíveis dos fatos extraordinários. É um  chamamento,  uma mensagem de alento e de ânimo  a todos os que, ao longo da história, acreditam sem ter visto.

A eles  é  dirigida a última bem-aventurança proclamada por Jesus:

“Felizes os que acreditam sem terem visto!”.

Sentimo-nos felizes de “acreditar sem ter visto” e do nosso desejo de renovar constantemente o nosso encontro com Jesus ressuscitado.

O evangelho está escrito  «para que acrediteis»  e assim  «tenhais vida em seu nome».

A Ressurreição de Jesus é o ponto de partida e a plenitude da nossa fé.

Cabe-nos torná-la credível  através  dos sinais de vida para com os outros.

Cada pessoa deverá decidir que sinais de vida tem de dar nos momentos e nas circunstâncias de cada dia.

PAZ

Dá-nos, Senhor, aquela Paz especial
que brota em plena luta como uma flor de fogo;
que rompe em plena noite como uma canção escondida;
que chega em plena morte como um beijo esperado.

Dá-nos a Paz dos que andam sempre,
nus de vantagens;
vestidos pelo vento de uma esperança núbil.

Aquela Paz do pobre
que já venceu o medo.

Aquela Paz do livre
que se aferra à vida.

Paz que se partilha em igualdade
como a água e a Hóstia.

(Pedro Casaldáliga)

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