Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 15 de abril de 2012

Liberdade e infelicidade. A questão do pecado.


A reflexão prossegue, entrando no tema do pecado e das suas consequências para o homem e para o mundo. O texto de Ferdinand Krenzer apresenta este tema,  que é um dos temas difíceis da doutrina cristã, de maneira fácil e acessível para quem procura esclarecimento das dúvidas.
Não deixe de ler.
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A Liberdade como causa da infelicidade humana

A liberdade, que é a grandeza do homem, ao mesmo tempo constitui para ele uma grande ameaça. Todo talento,  dons e faculdades que o homem possui podem  também ser usados para alvos errados. Assim sendo, existe uma possibilidade terrível de abusar da liberdade, de fazer mal e praticar maldades. Tem-se impressão que essas coisas más, frequentemente, são mais fortes que o bem. A fidelidade e amor são traídos e sofrem decepções... Um homem para o outro é como “lobo”. Neste maravilhoso mundo encontra-se também um mar de sangue e lágrimas.

De onde vem o mal? De acordo com a Bíblia, duas possibilidades ficam excluídas de antemão:  ao lado de Deus não tem nenhuma segunda força divina, paralela e contrária a Ele, que estaria trabalhando para introduzir o mal na criação; e, também, Deus não cria mal,  categoricamente Ele quer o bem e sempre se posiciona contra o mal. Deus quer que o mundo seja feliz: “E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que estava muito bom” (Gen 1, 31).

Segundo a Bíblia, a causa principal do mal é abuso da liberdade. Somente o homem, dotado de liberdade, pode contrariar a vontade do Criador, pode  perturbar a  ordem da Natureza e da vida, e com isso introduzir o mal neste mundo, dizendo “Não” ao plano de Deus (compare Gen 3, 1 nn).

O que é pecado?

Esse “Não” em relação à vontade de Deus que quer para nós o bem, chamamos de pecado. Precisamos conhecer esse termo em toda a sua terrível natureza, caso contrário tudo que vai se falar sobre esse assunto ficará incompreensível e nos deixará decepcionados. Na verdade, existe apenas um único pecado: rejeição do Amor Divino. No Antigo Testamento esse pecado também é chamado de “infidelidade”,  de “rompimento da aliança que Deus fez com o homem”. Com isso, o homem tenta dizer que se considera autossuficiente para si mesmo e não precisa de Deus. E assim, quer inverter toda a  ordem “com as pernas para cima”. O homem rompe com Deus e se proclama a si mesmo, como dono de toda ordem.

É evidente, que não pensamos nisso tão diretamente em cada pecado, mas cada um de nós experimenta e sabe o que é descuido e decepção. Entendemos perfeitamente que ficamos muito atrás em relação a tudo aquilo que deveria estar de acordo com o plano de Deus.

Os mandamentos, nos quais transparece para nós a vontade de Deus, não são, então, nem coisas frívolas e nem brincadeira. Eles visam o maior bem de cada ser humano e de toda a humanidade. Seria possível, por exemplo, a convivência de pessoas sem falar a verdade, sem amor dos pais ou sem a proteção de propriedade? Portanto, o pecado é a maior loucura do homem e um absurdo, porque o plano Divino do mundo é bom para o ser humano. No pecado o ser humano se arruína. Torna-se estranho para si mesmo.

Certamente todos nós já experimentamos a situação, em que depois de cometer o pecado, não conseguimos entender por que fizemos isso. Quem, então, vê na fé unicamente um matagal de proibições e prescrições, que invadem a sua vida e o atrapalham, ou vê nela uma cerca de arame farpado, que causa inevitavelmente suas novas quedas, esse ainda não experimentou o que  realmente é a fé.

É evidente que existe graduação do pecado, dependendo da consciência e lucidez com que o ser humano pronuncia esse “Não” em relação à vontade de Deus. Deus julga o homem, olhando a sua intenção e disposição, e não só o ato real.

Pode acontecer que alguém, apesar de cometer o pecado, não se tornou culpado, porque não teve consciência no seu íntimo, ou não queria cometer esse ato. Também o caso em que a pessoa contraria a vontade de Deus pode ser de maior ou de menor importância.

Qualquer um reconhece, por exemplo, que existe a diferença entre o furto  e a gula de uma criança, ou entre o assassinato e a falta de educação (uma e outra coisa contrariam o 5º mandamento). Por isso, já os Apóstolos diferenciaram os erros cometidos por todos ["Se dizemos que em nós não há pecado, enganamos a nós mesmos e a verdade não está conosco" (1 Jo 1, 8)] e os pecados que levam à morte [ "E apesar de conhecerem  a sentença de Deus, que  considera digno de morte quem pratica tais coisas, não somente as cometem mas até aplaudem quem assim procede"(Rm 1, 32)].

As consequências do pecado

Quando foi cometido o pecado, ele não passou, mas causou o estado de culpa. No pecado o homem coloca algo acima de Deus, algo o que lhe parece digno de esforços e que vale a pena.  Por isso o pecado grave leva o  homem a rompimento com Deus, arrebenta os laços de amor que existem entre ele e Deus. Por causa disso, o ser humano separa-se de Deus. A sua vida torna-se sem sentido, porque não é mais orientado para a direção que lhe foi traçada, e  que simultaneamente, só ela é capaz de satisfazer o seu desejo de felicidade. Mas, não é Deus que se afasta do homem, ao contrário, é o ser humano que vira as costas para Deus.

Porque Deus é a fonte e o destino de tudo, o pecado também, e ao mesmo tempo, interfere na relação do homem com os seus semelhantes e com o seu ambiente, significando, portanto, as preocupações,  escassez  e sofrimentos.
Todos nós conhecemos os exemplos, onde desordem e  pecado destoem o homem também fisicamente (por exemplo calúnia, embriaguez de motorista, etc.). Não é Deus que castiga o nosso pecado; é o próprio pecado que castiga por si mesmo. Então, nessas consequências transparece a ausência de Deus neste mundo:  "Foi por isso que o pecado entrou no mundo como por um só homem e, pelo pecado, a morte, e assim a morte transmitiu-se a todos os homens naquele em quem todos pecaram" (Rm  5, 12).

Com todo pecado aumenta também – como cada um de nós pode verificar na sua própria vida  – a propensão para cometer outros pecados. Desde o momento em que o primeiro ser humano disse “Não” ao Amor Divino, todos nascemos e chegamos a este mundo,  que está marcado pelo  pecado.
Neste momento chegamos ao  ponto  muito discutido e polêmico: “O pecado original”. (...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 97-99)*
Continua...
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*Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.


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