Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Por que o pecado e o mal?


Apresento agora, como continuação das reflexões anteriores, um texto de Ferdinand Krenzer  sobre a questão das causas da existência do mal  e do pecado. De onde vem e por que existe o mal? – são as perguntas que sempre perambulam nos nossos pensamentos. Convido para  fazermos uma leitura atenciosa, que certamente nos ajudará a dispersar muitas dúvidas e incertezas.
Não deixe de ler.
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( Quero lembrar que os textos publicados aqui seguem uma sequência de tópicos sobre um tema principal, por isso a compreensão deles torna-se mais fácil  para quem leu os textos publicados nas postagens anteriores.)
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De onde, então, veio o mal e o pecado?

Se o pecado atinge com tanta força o ser humano, surge, então, a pergunta: Como chegou à isso, que o homem livremente age com tanta insensatez? Parece que não dá para entender. O homem quer sempre apenas algo, o que lhe parece bom e de valor. Portanto, também o pecado deve-se lhe apresentar com a roupagem do bem, e digno de esforços, caso contrário ninguém tomaria decisão para pecar.

O ladrão, por exemplo, considera que as coisas que pertencem aos outros vão lhe trazer o bem, e com  isso ele vai se enriquecer, vai ficar mais feliz. Quem mente, esse quer evitar a punição ou pretende ganhar reconhecimento ou aprovação da parte dos outros, etc.

Somente deste modo podemos explicar que o homem tem a capacidade para se decidir pelo pecado e o colocar acima da amizade com Deus! E sempre quando faz isso constata que se engana, que o pecado não presta, e começa a ficar arrependido. Sacode-se entre “querer” e “fazer”, assim que já São Paulo confessou: “Não faço o bem, que quero, mas faço o mal, que não quero” (Rom 7,19).

Apesar disso, o ser humano, só por si mesmo, não seria capaz de pecar. A Bíblia mostra que a tentação vem de fora. Quando pensamos nos crimes bárbaros e desumanos cometidos em muitos cantos deste mundo, por exemplo, nos campos de concentração, não temos a impressão que a maldade desse tamanho já não é só apenas humana? Que atrás dela deve estar alguma força espiritual mais forte, algo demoníaco?

A força e poder desse tipo, que contrariam a existência de Deus, a Bíblia chama de demônio. Descreve-o como “mentiroso desde o início”, “diabolus” – que significa “causador de confusão”, que distorce  os valores e nos engana.  Somente desta maneira o pecado torna-se para o homem algo digno de esforço e lhe parece que vai satisfazer os seus desejos. O maior engano que essa força demoníaca  realiza, é fazer tudo para o ser humano não ligar mais para o fato do pecado e da culpa. Quer que o ser humano banalize esse fato ou ignore-o. Tudo isso, no entanto, não pode servir de justificação para o ser humano, porque o pecado pode surgir apenas e somente com a permissão pessoal do homem.

Como, então, temos que imaginar o demônio (diabo)?  A Bíblia não tem a pretensão de falar sobre isso. Ela apenas mostra a realidade e ação das forças demoníacas. Perguntamos: Atrás do “demônio” existe algum poder pessoal, ou é apenas uma ideia abstrata para descrever o mal no mundo? 

No Novo Testamento encontramos, de um lado, as expressões que dizem que demônio é uma força com a identidade pessoal, por exemplo quando Jesus enfrenta as tentações no deserto e quando expulsa os espíritos maus; por outro lado – os “demônios” também aparecem como as forças e poderes impessoais (Ef 6, 12; 1 P 5, 8-9).

O ensinamento da  Igreja sempre mostrava uma ligação entre o “mal” e o “mau”, e os associava: “Porque o demônio e outros espíritos maus foram criados por Deus por natureza bons, mas por sua opção tornaram-se maus. O homem peca, no entanto, devido às tentações do demônio (...)” (IV Consílio de Latrão, 1215).

Resumindo. O mal no mundo vem do próprio ser humano, quando este contraria a vontade de Deus. Mas, será que com isso conseguimos explicar totalmente o mal? Constatamos que não.

Podemos entender perfeitamente que nesta altura surjam novas perguntas e protestos: Por que, então, Deus nos está dando essa terrível liberdade para pecar? Fazendo isso Ele não se torna também corresponsável pelas consequências dessa  liberdade, quer dizer – pelo mal, já que Ele permite tudo isso?

Aqui, precisamos lembrar as coisas que dissemos anteriormente sobre a liberdade. Era um risco dar a liberdade ao ser humano, mas também sem isso o homem não seria mais nada que um robô ou marionete. Deus quer que o  homem seja maior. Então vamos culpar por isso o Amor de Deus? A grandeza sempre compreende o risco de perigo.

Todos nós, hoje, queremos uma liberdade,  maior possível, do indivíduo  na sociedade. Pelo respeito ao ser humano. É óbvio que com isso, o perigo de abusos da liberdade fica também muito maior. Imaginemos uma sociedade oprimida por algum violento regime de ditadura, que controla tudo, de cima para baixo, através das leis e prescrições rigorosas.  Nela, as pessoas  são impedidas cometer abusos, mas, por outro lado, não tem a liberdade plena.

Deus não quer o mal, mas teve a  coragem de criar o ser humano tão grande, porque tem certeza que, no final, o seu amor transforma no bem também o mal, e, apesar de tudo, vai realizar o seu projeto em relação ao mundo que  criou.  (...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 100-102)*

Continua...
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*Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.


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