Apresento agora, como continuação das reflexões anteriores, um texto de Ferdinand Krenzer sobre a questão das causas da existência do mal e do pecado. De onde vem e por que existe o mal? – são as perguntas que sempre perambulam nos nossos pensamentos. Convido para fazermos uma leitura atenciosa, que certamente nos ajudará a dispersar muitas dúvidas e incertezas.
Não deixe de ler.
WCejnog
( Quero lembrar que os textos publicados aqui seguem uma sequência de tópicos sobre um tema principal, por isso a compreensão deles torna-se mais fácil para quem leu os textos publicados nas postagens anteriores.)
De onde, então, veio o mal e o pecado?
Se o pecado atinge com tanta força o ser humano, surge, então, a pergunta: Como chegou à isso, que o homem livremente age com tanta insensatez? Parece que não dá para entender. O homem quer sempre apenas algo, o que lhe parece bom e de valor. Portanto, também o pecado deve-se lhe apresentar com a roupagem do bem, e digno de esforços, caso contrário ninguém tomaria decisão para pecar.
O ladrão, por exemplo, considera que as coisas que pertencem aos outros vão lhe trazer o bem, e com isso ele vai se enriquecer, vai ficar mais feliz. Quem mente, esse quer evitar a punição ou pretende ganhar reconhecimento ou aprovação da parte dos outros, etc.
Somente deste modo podemos explicar que o homem tem a capacidade para se decidir pelo pecado e o colocar acima da amizade com Deus! E sempre quando faz isso constata que se engana, que o pecado não presta, e começa a ficar arrependido. Sacode-se entre “querer” e “fazer”, assim que já São Paulo confessou: “Não faço o bem, que quero, mas faço o mal, que não quero” (Rom 7,19).
Apesar disso, o ser humano, só por si mesmo, não seria capaz de pecar. A Bíblia mostra que a tentação vem de fora. Quando pensamos nos crimes bárbaros e desumanos cometidos em muitos cantos deste mundo, por exemplo, nos campos de concentração, não temos a impressão que a maldade desse tamanho já não é só apenas humana? Que atrás dela deve estar alguma força espiritual mais forte, algo demoníaco?
A força e poder desse tipo, que contrariam a existência de Deus, a Bíblia chama de demônio. Descreve-o como “mentiroso desde o início”, “diabolus” – que significa “causador de confusão”, que distorce os valores e nos engana. Somente desta maneira o pecado torna-se para o homem algo digno de esforço e lhe parece que vai satisfazer os seus desejos. O maior engano que essa força demoníaca realiza, é fazer tudo para o ser humano não ligar mais para o fato do pecado e da culpa. Quer que o ser humano banalize esse fato ou ignore-o. Tudo isso, no entanto, não pode servir de justificação para o ser humano, porque o pecado pode surgir apenas e somente com a permissão pessoal do homem.
A força e poder desse tipo, que contrariam a existência de Deus, a Bíblia chama de demônio. Descreve-o como “mentiroso desde o início”, “diabolus” – que significa “causador de confusão”, que distorce os valores e nos engana. Somente desta maneira o pecado torna-se para o homem algo digno de esforço e lhe parece que vai satisfazer os seus desejos. O maior engano que essa força demoníaca realiza, é fazer tudo para o ser humano não ligar mais para o fato do pecado e da culpa. Quer que o ser humano banalize esse fato ou ignore-o. Tudo isso, no entanto, não pode servir de justificação para o ser humano, porque o pecado pode surgir apenas e somente com a permissão pessoal do homem.
Como, então, temos que imaginar o demônio (diabo)? A Bíblia não tem a pretensão de falar sobre isso. Ela apenas mostra a realidade e ação das forças demoníacas. Perguntamos: Atrás do “demônio” existe algum poder pessoal, ou é apenas uma ideia abstrata para descrever o mal no mundo?
No Novo Testamento encontramos, de um lado, as expressões que dizem que demônio é uma força com a identidade pessoal, por exemplo quando Jesus enfrenta as tentações no deserto e quando expulsa os espíritos maus; por outro lado – os “demônios” também aparecem como as forças e poderes impessoais (Ef 6, 12; 1 P 5, 8-9).
O ensinamento da Igreja sempre mostrava uma ligação entre o “mal” e o “mau”, e os associava: “Porque o demônio e outros espíritos maus foram criados por Deus por natureza bons, mas por sua opção tornaram-se maus. O homem peca, no entanto, devido às tentações do demônio (...)” (IV Consílio de Latrão, 1215).
Resumindo. O mal no mundo vem do próprio ser humano, quando este contraria a vontade de Deus. Mas, será que com isso conseguimos explicar totalmente o mal? Constatamos que não.
Podemos entender perfeitamente que nesta altura surjam novas perguntas e protestos: Por que, então, Deus nos está dando essa terrível liberdade para pecar? Fazendo isso Ele não se torna também corresponsável pelas consequências dessa liberdade, quer dizer – pelo mal, já que Ele permite tudo isso?
Aqui, precisamos lembrar as coisas que dissemos anteriormente sobre a liberdade. Era um risco dar a liberdade ao ser humano, mas também sem isso o homem não seria mais nada que um robô ou marionete. Deus quer que o homem seja maior. Então vamos culpar por isso o Amor de Deus? A grandeza sempre compreende o risco de perigo.
Todos nós, hoje, queremos uma liberdade, maior possível, do indivíduo na sociedade. Pelo respeito ao ser humano. É óbvio que com isso, o perigo de abusos da liberdade fica também muito maior. Imaginemos uma sociedade oprimida por algum violento regime de ditadura, que controla tudo, de cima para baixo, através das leis e prescrições rigorosas. Nela, as pessoas são impedidas cometer abusos, mas, por outro lado, não tem a liberdade plena.
Deus não quer o mal, mas teve a coragem de criar o ser humano tão grande, porque tem certeza que, no final, o seu amor transforma no bem também o mal, e, apesar de tudo, vai realizar o seu projeto em relação ao mundo que criou. (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 100-102)*
Continua...
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*Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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