Falar do sofrimento humano e da dor que marca profundamente a existência do ser humano não é coisa fácil. Existem inúmeros trabalhos, livros, reflexões e publicações sobre este assunto, sobretudo nas áreas de Filosofia e Teologia, mas também nas outras áreas humanas, tem-se a impressão de que pouco poderia ser acrescentado. Pois, realmente, já sabemos muito a respeito.
Vemos, por exemplo, como intensamente a nossa sociedade absorve (quando não assiste!) os apelos à felicidade e a “viver bem”, num significado puramente hedonista. Insinua-se que as pessoas só devem pensar em ter mais na vida, mais saúde, mais amor, mais liberdade, mais recursos e dinheiro, mais felicidade, pois é isso que vale. Mas, por outro lado – e muitos estudos mostram isso claramente - um volume muito grande do sofrimento, da dor e da miséria humana é gerado e depende claramente das estruturas sócio-econômicas perversas, as mesmas que apelam para ter “vida prazerosa e feliz”. Para grandes parcelas da população é negado o acesso aos meios básicos de garantir a vida. Isso gera mais sofrimento e mais miséria.
Neste sentido, é difícil não concordar com as opiniões que consideram mais importante a ação concreta para diminuir e combater o quadro de dor, sofrimento e desgraça que atinge o homem, do que procurar “explicações” para esse problema.
Vemos, por exemplo, como intensamente a nossa sociedade absorve (quando não assiste!) os apelos à felicidade e a “viver bem”, num significado puramente hedonista. Insinua-se que as pessoas só devem pensar em ter mais na vida, mais saúde, mais amor, mais liberdade, mais recursos e dinheiro, mais felicidade, pois é isso que vale. Mas, por outro lado – e muitos estudos mostram isso claramente - um volume muito grande do sofrimento, da dor e da miséria humana é gerado e depende claramente das estruturas sócio-econômicas perversas, as mesmas que apelam para ter “vida prazerosa e feliz”. Para grandes parcelas da população é negado o acesso aos meios básicos de garantir a vida. Isso gera mais sofrimento e mais miséria.
Neste sentido, é difícil não concordar com as opiniões que consideram mais importante a ação concreta para diminuir e combater o quadro de dor, sofrimento e desgraça que atinge o homem, do que procurar “explicações” para esse problema.
E realmente podemos notar que até os discursos das Igrejas e religiões não se refletem, como deveriam, nas obras e práticas adequadas e suficientes. Ainda muito pouco se faz em relação à imensa dimensão do “mar de lágrimas e dor” que banha a vida do homem neste mundo. A sociedade precisa “acordar”. Todos nós sabemos que é possível fazer muito mais.
A discussão que envolve o problema do sofrimento humano é ampla e envolve diversos pontos de vista em relação à filosofia de vida, ou melhor dizendo, envolve diversas filosofias de vida. Todas as posições e propostas que expressam a autêntica busca de respostas para o problema de sofrimento merecem respeito e consideração.
Porém, gostaria de chamar atenção para um fato que, penso eu, é absolutamente o mais importante em relação ao problema do sofrimento, da dor e da morte. É o fato que nas horas mais difíceis, nos limites da dor, e mais ainda quando está entre a vida e a morte, o ser humano encontra-se sozinho. Absolutamente sozinho. Ninguém outro pode entrar no seu lugar para estar frente a frente com medo, dor, incerteza, sofrimento e, quando é a sua vez, frente a frente com a morte.
A presença dos parentes, amigos e outras pessoas, mesmo que pode lhe proporcionar grande alívio, apoio e solidariedade, não é capaz inverter esse fato. É aqui que se desenrola o maior drama da existência do ser humano. Como seria bom se o homem, nesta hora, tivesse a fé suficiente e a orientação necessária para ser capaz de entender melhor esses momentos inevitáveis e poder ver o sentido de tudo isso!
A reflexão abaixo, de Ferdinand Krenzer, que trata com muita propriedade dessa questão, apresenta uma resposta cristã para a pergunta sobre o sofrimento e a morte. Considero-a uma explicação maravilhosa e a mais completa que o ser humano pode receber. (Esta reflexão, dividida em partes, terá a sua continuação nas próximas quatro postagens).
Quem realmente quiser aprofundar mais a doutrina e a verdade cristã em relação aos momentos mais decisivos da sua vida, e compreendê-la, aqui tem uma excelente oportunidade. Não deixe de ler.
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E quanto ao sofrimento?
Agora surge uma dúvida maior ainda: de onde vem o sofrimento que, com certeza, não tem ligação nenhuma com o pecado; o sofrimento que não vem do homem, que não depende da sua vontade, e contra o qual o ser humano se revolta? De onde e por que vêm as catástrofes (terremotos, acidentes, enchentes, fome); por quê sofrem as pessoas inocentes, crianças? De onde vêm e por que existem a miséria e lágrimas, dor, medo, e a morte? Todos nós somos obrigados a ir pela vida com o sofrimento deste tipo, e por isso conhecemo-lo de perto. Quem é responsável por tudo isso? Será que se o mundo não existisse – não seria melhor, do que o mundo que temos agora? Deus criou o mundo, então não poderíamos, por isso, atribuir a Ele a culpa por tudo isso?
As acusações contra Deus, desde o início da história da humanidade até os tempos atuais, sempre tiveram a sua base no problema do sofrimento. Um dia alguém me telefonou: “O senhor leu no jornal sobre esse crime bestial que cometeram contra aquela pequena menina? Por favor, diga-me o senhor – sem se esquivar - onde nesse momento estava Deus? Não posso acreditar em Deus que permite tudo isso.”
Pois é. Como é possível conciliar tudo isso com o amor de Deus, do qual falamos anteriormente? Ou, talvez, será que Deus é “impotente”? Nenhum pai natural poderia assistir assim o sofrimento dos seus filhos. “Não, padre”, diz o médico ao sacerdote no livro PESTE, de Albert Camus, “eu tenho outra imagem de amor, e até o fim da vida vou me recusar a ter amor à criação, cujos filhos estão sofrendo.”
Reconheçamos: para uma pessoa crente o sofrimento é um problema terrível e uma tentação; mas também para os ateístas o sofrimento constitui um quebra cabeça. Não se pode aqui não tocar nessa questão, não se pode fugir dela, portanto é necessário analisá-la com mais profundidade.
Não são poucas as pessoas, propondo: Melhor logo colocarmos “mãos à obra!”, precisamos construir hospitais, apressar o progresso das ciências para apaziguar a dor e afastar a morte; precisamos aperfeiçoar as estruturas sociais – invés criar perguntas, para as quais não temos respostas. Melhor lutarmos contra o sofrimento, invés gastar tempo pensando nele.
Sem dúvida para nós, seres humanos, foi dirigido o pedido que fizéssemos tudo. O sofrimento, as privações, as queixas são negativas e contrariam a vontade de Deus. Qualquer um e em qualquer lugar do nosso planeta, que luta contra o sofrimento para aliviar a dor e para eliminar o mal, esse age segundo a vontade de Deus. Deus que é AMOR, não aprova submissão passiva em relação ao mal que tem neste mundo, mas, ao contrário, quer que este mundo seja bom e feliz.
Agora, perguntamos: será que podemos eliminar totalmente o sofrimento do mundo? Nenhum médico quer tratar somente a dor, sem perguntar pela sua causa ou sem investigar a origem da doença. Para nós também, não é permitido ignorar a pergunta pela causa do mal e sobre o sentido do sofrimento. Caso contrário, corremos risco a não encontrarmos sentido da nossa existência e ela parecer verdadeiramente um absurdo.
Nenhuma reflexão consegue explicar, de fato, o sofrimento. Mas, já que não conseguimos explicá-lo e eliminá-lo deste mundo – talvez, pelo menos possamos reavivar a esperança que o sofrimento tem sentido e que ele não precisa ser considerado como sinal de falência do Amor de Deus. Isso seria até mais importante que a explicação, porque poderia nos ajudar a conviver com esse sofrimento.
Antes de recorrermos à Bíblia, podemos também pensar da seguinte maneira. O sofrimento tem o poder de purificação. Alguém, que não encontra no seu caminho obstáculos e dificuldades, ou que não levou duros golpes de sofrimento, com muita facilidade contenta-se apenas com a superfície da vida. O sofrimento, portanto, frequentemente revela os fundamentos da vida e permite olhar para ela com muito mais profundidade. No sofrimento o homem pode amadurecer (pode também, é lógico, se “quebrar”). Todos nós já encontramos pessoas que passaram por testes do sofrimento, por exemplo, a pessoa cega, e diante da grandeza humana dessa pessoa nós, que estamos com saúde e bem, nos sentimos muito pequenos e covardes. No entanto, a pergunta “Por que essa purificação deve ocorrer desse jeito tão doloroso?” – permanece aberta. Se graças a essa dor a doença for diagnosticada, talvez seja ainda possível curá-la. Assim, a dor ajuda na vida, e em casos concretos o sofrimento pode vir a ser benefício. Nós, no entanto, perguntamos: Não se poderia conseguir isso de outra maneira? Por que tem que ser pelo sofrimento?
Todas essas reflexões não nos levam muito longe.O que, então, a Bíblia diz a respeito do sofrimento e como diante dele se comporta o próprio Cristo?
Muitos, espontaneamente, ligam o sofrimento com o pecado e o entendem como uma punição por ele. Até para uma criança pequena que se machucou um pouco por acaso, dizem: “É castigo pela sua desobediência”. No Antigo Testamento o sofrimento é realmente considerado abertamente como castigo pela – talvez secreta – culpa (compare o Livro de Jô, mas nele esta versão já foi corrigida).
No Novo Testamento a interpretação já é diferente. Quando os discípulos, vendo um cego passando ao lado, perguntaram: “Rabi, quem foi que pecou, ele ou os pais, para ele nascer cego?”, Jesus respondeu: “Ninguém pecou, nem ele nem os pais” (Jo 9, 2-3). Então não se pode ligar desta maneira superficial o sofrimento com o pecado.
O próprio pecado, no entanto, causa o castigo, porque destrói a ordem natural. A ligação do pecado do ser humano com o sofrimento , neste sentido mais profundo, transparece na Bíblia.
Vimos, que o mundo tornou-se pior por causa do pecado. Não só o próprio homem ficou atingido pela tragédia do “Não” dirigido a Deus, mas também o resto do mundo. Deus é pré-causa de todas as coisas, então quando o homem lhe diz “Não”, com isso afeta os fundamentos de tudo que existe e a sua ação torna-se destruidora.
O mundo dos animais e das coisas permanece em relação ao homem numa dimensão de total mistério. O homem é o ponto mais alto de evolução (Theilard de Chardin), ele deveria ser a coroação da criação. Neste sentido ele (o homem) é o destino do mundo. Todo o universo foi “integrado”na história da humanidade. Por isso o “Não” que está no pecado significa também uma sabotagem em relação a tudo: a tudo que existe no universo.
A ligação entre o destino do mundo e a livre decisão do homem, de maneira muito clara e nítida, expressou São Paulo na sua carta aos Romanos: “Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não tem comparação alguma com a glória futura que se manifestará em nós. ...” (Rom 8, 18 nn).
Mesmo, se aparentemente, esse pensamento pode nos parecer estranho, não é verdade que justamente as últimas gerações e também nós mesmos, pessoas do século XXI, não fica muito claro que toda a criação, toda a natureza e o mundo – que tudo isso foi depositado nas nossas mãos, para o bem ou para o mal?
Devemos afirmar que também a Bíblia não diz explicitamente de onde vem o sofrimento. As Sagradas Escrituras querem conscientizar o ser humano que Deus não quer nem sofrimento, nem o mal, mas somente o bem.
Cristo vem como Libertador e “Salvador”, que sente-se enviado justamente aos doentes e pecadores, para começar a sua obra aonde é mais necessária. Quando se encontra frente a frente com o sofrimento ou morte, Ele frequentemente demonstra a compaixão ou chega às lágrimas. Jesus se engaja na luta contra o pecado e o sofrimento. Se considerarmos que em Jesus Cristo encontramos o Pai Celeste, poderemos, então, ver que a “permissão” Divina para a existência do sofrimento e da dor não é bem uma passiva observação, mas, ao contrário, que Deus faz tudo para vencer o sofrimento. Nós devemos co-participar desse combate.
Assim, chegamos a algo que é muito mais importante que qualquer “explicação”. Quando o sofrimento realmente nos atinge e está nos esmagando, não vai ficar mais leve por causa das explicações. Se, nesse momento precisamos de alguma coisa – essa coisa é o sentido e a esperança. E justamente nada outro, mas somente isso é o que a Bíblia quer indicar. Deus não está nos dando respostas para a pergunta “De onde vem o sofrimento?” – Ele mesmo assume a nossa dor e o sofrimento, colocando os nos seus próprios ombros. Ele os toma para si. Deus não fica passivo diante do sofrimento; não O agrada o fato que o sofrimento existe. O sofrimento penoso para o homem e todo mal – Deus quer colocar a serviço do bem, visando a nova criação.
O mundo não foi ainda terminado, ao contrário, o homem deve conduzir este mundo para o alvo designado. Esta é uma maneira de combate de Deus contra o mal e contra o sofrimento.
Sobre este tema é preciso falar mais, o que faremos nas próximas linhas. (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 102-105)*
Continua...
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*Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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