A grandeza e, ao mesmo tempo, a terrível miséria do ser humano! Este assunto, tão importante para a existência do homem, tem cada vez menos espaço para ser discutido atualmente. Aliás, fala-se - sim - sobre os males e sobre o mal que atinge as pessoas e a sociedade, mas não sobre as suas raízes e as suas causas, tentando, assim, tapar o sol com a peneira. Como pensar na nobre missão do ser humano neste mundo, quando ao mesmo tempo saltam aos nossos olhos as suas (e nossas!) falcatruas e peculiaridades negativas, que claramente demonstram a ausência da fé em Deus, denegrindo até o sentido da existência do ser humano e de tudo que existe? Aonde isso pode levar a humanidade e o mundo?
Tantas perguntas e indagações a respeito de Deus e do homem, do amor de um lado, e do pecado, do outro; perguntas sobre o sofrimento que vem dos desastres, acidentes, e também da loucura humana; sobre o sofrimento dos seres inocentes, e, enfim, sobre a morte - essas perguntas circulam incessantemente pela cabeça de cada um de nós, e nem sempre encontramos respostas claras. São perguntas que nos incomodam, desafiam, provocam e exigem de nós um posicionamento concreto diante da realidade da vida. São perguntas que frequentemente tem força de abalar a nossa fé em Deus.
Por outro lado, falar do pecado e da fraqueza do homem nos dias de hoje, quando o progresso científico e conquistas sociais “enchem o ego” de muitas pessoas, pode parecer – para muitos – uma coisa absurda, ou, pelo menos, “indelicada”. Hoje não se quer falar do pecado, da culpa, do “demônio”, da queda... São temas, considerados por muitos, “bregas” e “superados”. É pena, porque uma reflexão mais profunda sobre essas perguntas poderia ser um caminho de resgate da dignidade do ser humano no mundo de hoje.
No entanto, para nós, cristãos, é muito importante ter uma clara consciência sobre tudo isso.
Proponho trazer aqui, nesta e em mais algumas postagens subsequentes, uma reflexão maravilhosa na sua simplicidade, sobre esses temas mencionados acima, que são temas teológicos bastante complexos. Quem quiser entender melhor e com mais facilidade as questões difíceis da doutrina cristã a respeito do pecado, do “pecado original”, do sofrimento e da morte, e, enfim, as questões relacionadas também a sua fé - encontrará aqui uma preciosa ajuda.
Apresentarei aqui as explanações sobre esses temas de autoria do Ferdinand Krenzer*. Para começar, o texto abaixo fala do Amor de Deus e porque é tão difícil para nós, humanos, entendê-lo.
Este assunto é muito importante, para compreendermos as outras questões.
Não deixe de ler.
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(1)
O que Jesus Cristo realmente queria?
Pensando na pergunta acima, podemos definir da seguinte maneira o objetivo da vinda de Jesus Cristo ao mundo. Deus quer dar-se ao mundo, para atraí-lo para si. O Amor Divino encontra o ser humano em Jesus Cristo. Desta maneira a vida humana adquire sentido e torna-se útil.
Porém, se olharmos para o mundo, temos a impressão de que daquilo tudo muito pouco se tornou a realidade. Já sabemos como o homem tem dificuldades, nem que seja apenas para conhecer Deus. Não se pode imaginar a proximidade entre o homem e Deus, pelo menos da parte do homem. Será, então, que a criação, e o próprio homem, não possuem alguma profunda ruptura, ou marca, que os quase leva a por em dúvida o sentido do mundo e da vida?
Porventura, será que a obra de Jesus Cristo foi em vão? E por que Deus logo não criou, então, o homem e o mundo inteiro para sempre estarem bem próximos d’Ele? Por que permitiu que surgisse essa ruptura? Eis uma sequência de perguntas. Primeiro precisamos analisar o que significam as palavras da Bíblia que Deus ama o ser humano.
Deus aprova o homem
A palavra “amor” é uma dais mais exploradas e abusadas, e hoje precisa “aguentar” tudo. As pessoas amam Brahms ou cachorros, amam o conforto ou o seu prato predileto, amam as crianças e amam o cônjuge. Em cada caso trata-se de algo diferente. Nada mais errado que tomar essa ideia pouco nítida do amor e querer multiplicar ela em infinito, pensando que assim poderemos definir o amor de Deus.
Para mostrar que o amor de Deus é, na sua essência, diferente, no Evangelho segundo São João o apóstolo não diz “Deus ama”, mas: “Deus é amor”. O amor é o seu ser e a sua propriedade. Ele ama por causa de si mesmo, até mesmo quando em nós não existe nada digno de ser amado. Deus nos aceita assim como somos, com todas as nossas peculiaridades e características. Quando, por causa dessa ou aquela característica, agimos talvez com repulsão em relação aos outros; quando, às vezes, até nós mesmos não estamos conseguindo suportar a nós mesmos, Deus nos respeita junto com as nossas peculiaridades. Fora de nossa “casca crua” Ele enxerga um núcleo bom, vê já a perfeição que com a sua ajuda devemos e podemos alcançar. Ele consegue nos ver assim e nos amar, porque o seu amor não depende da nossa grande decência ou merecimento. O seu amor vendo o bem, não se abrasa por isso, mas, ao contrário, Ele é que causa o bem. “Deus primeiro nos amou”(1 Jo 4, 19).
Não está escrito na Bíblia que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança? Em cada um de nós Ele vê a sua própria faísca e por isso nos ama.
... Ainda no pecado
Esse amor não para nunca. Até mesmo o homem que vira-se de costas para Deus, ainda é amado. “Deus prova o seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5, 8). (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 95-96)**
Continua...
_________________________* Krenzer Ferdinand - é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.
** As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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