Voltamos ao tema do sofrimento humano. É muito importante termos uma ideia bem clara sobre o que diz a doutrina cristã a este respeito. No mundo atual, o homem defronta-se com tantas “teorias”, abordagens e interpretações sobre o sofrimento físico, psicológico e espiritual que, frequentemente, fica desorientado. Os cristãos também, às vezes, tem dificuldade de entender melhor essa questão. O fato é que o sofrimento e a dor acompanham a nossa vida e constituem um dos mais difíceis problemas que sempre desafiou e continua desafiando o ser humano.
Surgem perguntas: O que pensar sobre essa questão ? Como entender melhor tudo isso? Qual é a verdade? Que sentido pode ter o sofrimento, a dor e a morte?
O texto abaixo, de Ferdinand Krenzer, traz uma abordagem excepcional desse tema, do ponto de vista da doutrina cristã. É muito bom.
Não deixe de ler.
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(Quero lembrar que os textos publicados aqui seguem uma sequência de tópicos sobre um tema principal, por isso a compreensão deles torna-se mais fácil para quem leu os textos publicados nas postagens anteriores).
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Mais uma vez: sofrimento
Dissemos: O mal e o sofrimento existem contra a vontade de Deus. Mas, precisamos também olhar por cima deles. Deus faz o bem até mesmo através do mal. O que aconteceu (por) em Jesus Cristo não foi uma simples “correção” da nossa existência; Deus foi até a raiz – o pecado - e fez um novo início: o medo e a morte não são últimos para o cristianismo. O Amor Divino é mais forte que a culpa, mais forte que o sofrimento e a morte. Depois da morte de Jesus Cristo na Sexta-Feira Santa, sucede a sua ressurreição na manhã da Páscoa. Cristo vive, e isto quer dizer que com isso também foi vencida a nossa morte. Cristo tornou-se o início da “nova criação” (compare Ef 1,20 – 2, 10).
Com isso, no entanto, o sofrimento não deixa de ser sofrimento, e a morte - ser morte. Mas o sofrimento e a morte, daqui para frente, tem o “futuro”. Não são mais sinais de derrota, mas podem ajudar na salvação e significar o começo de vida nova. A cruz de Jesus – até então um símbolo de morte sem sentido, torna-se um sinal positivo para toda a vida humana.
Onde alguém, pela morte, sente-se unido com Cristo, ali tem um novo início, já que “o grão de trigo primeiramente há de morrer” para trazer fruto: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só, mas se morrer, produz muito fruto” (Jo 12, 24).
O sofrimento torna-se suportável somente quando com a nossa consciência abrangemos a totalidade da nossa vida aqui, na terra, incluindo também o que ainda é oculto e o que há de vir – como apenas uma parte da nossa existência, para a qual Deus nos chamou. São Paulo escreve: “ Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm comparação alguma com a glória futura que se manifestará em nós” (Rom 8, 18).
O nosso olhar deve ser mais longo; devemos dirigi-lo além dos limites da morte. Porque somente quando se tem como fundo a totalidade do quadro, pode-se decifrar o significado de um detalhe. Deste jeito, o cristão alimenta a confiança, de que todo mal vai transformar-se no bem. Fica convencido que Deus, considerando a totalidade, levará enfim toda a criação e o homem ao final feliz. Assim, do maior desespero o homem crente lança-se ao abraço da confiança sem limite, agora não procura mais explicações, mas confia e tem esperança. Deus não está contra nós, mas para nós.
Portanto, o sofrimento não fica diminuído nem glorificado. Continua como tarefa do cristão para que este, servindo-se de todos os meios possíveis, combata o sofrimento, tirando-lhe cada vez mais espaço e o diminuindo. O “suportar” e “submeter-se” para cristão não é uma aceitação passiva das calamidades e do mal, mas é um “Sim” no mais alto grau. Como Jesus Cristo, o cristão assume a luta contra o mal; e onde não consegue derrotar o sofrimento e o mal, diminui muito o tamanho desse sofrimento através de ajuda mútua, onde um ajuda ao outro a carregar esse peso; e onde nem isso é possível, ele aceita o sofrimento confiando no objetivo final e num final feliz. Assim, supera o sofrimento, como Cristo, através de enfrentamento. Somente deste jeito o sofrimento é finalmente derrotado. Jesus Cristo não colocou em nós um novo peso – o cristianismo não inventou o sofrimento – porém, quer nos ajudar a suportá-lo.
O cristianismo, em hipótese nenhuma, pode ser considerado como algo que serve para mais facilmente dar conta das dificuldades da vida; não é um esparadrapo para feridas causadas pelas adversidades temporais. O cristão também teme o sofrimento, só que procura nele o sentido. Obviamente, precisa crer em Deus e na sua revelação para poder ver esse sentido. Mas, será que em qualquer outro lugar seria possível encontrar uma resposta digna do homem para a pergunta sobre o sofrimento? Sobretudo, será que existe alguma possibilidade melhor para suportar e aguentar o sofrimento, do que justamente essa confiança? (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 108-109)*
Continua...
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*Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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