Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Um olhar novo sobre o sofrimento. A fé faz diferença.


Voltamos ao tema do sofrimento humano. É muito importante termos uma ideia bem clara sobre o que diz  a doutrina cristã a este respeito. No mundo atual, o homem  defronta-se com tantas  “teorias”,  abordagens e  interpretações  sobre o sofrimento físico, psicológico e espiritual  que, frequentemente, fica desorientado.  Os cristãos também, às vezes, tem dificuldade de entender melhor essa questão. O fato é  que o sofrimento e a dor  acompanham a nossa vida e constituem um dos mais difíceis  problemas que sempre desafiou  e continua desafiando  o ser humano.

Surgem perguntas:  O que pensar sobre essa questão ? Como entender melhor tudo isso? Qual é a verdade? Que sentido pode ter o  sofrimento, a dor e a morte? 
O texto  abaixo, de Ferdinand Krenzer, traz uma abordagem excepcional desse tema, do ponto de vista da doutrina cristã. É muito bom.
Não deixe de ler.
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(Quero lembrar que os textos publicados aqui seguem uma sequência de tópicos sobre um tema principal, por isso a compreensão deles torna-se mais fácil  para quem leu os textos publicados nas postagens anteriores).


(3)
Mais  uma vez: sofrimento

Dissemos: O mal e o sofrimento existem contra a vontade de Deus. Mas, precisamos também olhar por cima deles. Deus faz o bem até mesmo através do mal. O que aconteceu (por) em Jesus Cristo não foi uma simples “correção” da nossa existência; Deus foi até a raiz – o pecado -  e fez um novo início: o medo e a morte não são últimos para o cristianismo.  O Amor Divino é mais forte que a culpa, mais forte que  o sofrimento e a morte.  Depois da morte de Jesus Cristo na Sexta-Feira Santa, sucede a sua ressurreição na manhã da Páscoa. Cristo vive, e isto quer dizer que com isso também  foi vencida a nossa morte.  Cristo  tornou-se o início da “nova criação” (compare Ef 1,20 – 2, 10).

Com isso, no entanto, o sofrimento não deixa de ser sofrimento, e a morte -  ser morte.  Mas o sofrimento e a morte, daqui para frente, tem o “futuro”. Não são mais sinais de derrota, mas podem ajudar na salvação e significar o começo de vida nova. A cruz de Jesus – até então um símbolo de morte sem sentido, torna-se um sinal positivo para toda a vida humana.

Onde alguém, pela morte, sente-se unido com Cristo, ali tem um novo início,  já que “o grão de trigo primeiramente há de morrer” para trazer fruto: “Em verdade, em verdade vos digo:  se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só, mas se morrer, produz muito  fruto”  (Jo 12, 24).

O sofrimento torna-se suportável somente quando com a nossa consciência abrangemos a totalidade da nossa vida aqui, na terra, incluindo também o que ainda é oculto e o que há de vir – como apenas uma parte da nossa existência, para a qual Deus nos chamou.  São Paulo escreve:  “ Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm comparação alguma com a glória futura que se manifestará em nós” (Rom 8, 18).

O nosso olhar deve ser mais longo; devemos dirigi-lo além dos limites da morte. Porque somente quando se tem  como fundo a totalidade do quadro, pode-se decifrar o significado de um detalhe. Deste jeito, o  cristão alimenta a confiança, de que todo mal vai transformar-se no bem. Fica convencido que Deus, considerando a totalidade, levará enfim toda a criação e o homem ao final feliz.  Assim, do maior desespero o homem crente lança-se ao abraço da confiança sem limite,  agora não procura mais explicações, mas confia e tem esperança. Deus não está contra nós, mas para nós.

Portanto, o sofrimento não fica diminuído nem glorificado. Continua como tarefa do cristão para que este, servindo-se de  todos os meios possíveis, combata o sofrimento, tirando-lhe cada vez mais espaço e o diminuindo.  O “suportar” e “submeter-se” para cristão não é uma aceitação passiva das calamidades e do mal, mas é um “Sim” no mais alto grau. Como Jesus Cristo, o cristão assume a luta contra o mal; e onde não consegue derrotar o sofrimento e o mal, diminui muito o tamanho desse  sofrimento através de ajuda mútua, onde um ajuda ao  outro a carregar esse peso; e onde nem isso é possível, ele aceita o sofrimento confiando no objetivo final e num final feliz. Assim, supera o sofrimento, como Cristo, através de enfrentamento. Somente deste jeito o sofrimento é finalmente derrotado. Jesus Cristo não colocou em nós um novo peso – o cristianismo não inventou o sofrimento – porém, quer nos ajudar a suportá-lo.

O cristianismo, em hipótese nenhuma, pode ser considerado como algo que serve para mais facilmente dar conta das dificuldades da vida; não é um esparadrapo para feridas causadas pelas adversidades temporais. O cristão também teme o sofrimento, só que procura  nele o sentido. Obviamente, precisa crer em Deus e na sua revelação para poder ver esse sentido. Mas, será que em qualquer outro lugar seria  possível encontrar uma resposta digna do homem para a pergunta sobre o sofrimento?  Sobretudo, será que existe alguma possibilidade melhor para suportar e aguentar o sofrimento, do que justamente  essa confiança? (...)

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 108-109)*
Continua...
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*Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.


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