Continuando a reflexão sobre a “A grandeza e a miséria do homem”, vem agora a questão do pecado original. Aliás, esta é uma das maiores questões existentes no cristianismo. Como entender do que, realmente, se trata? O que diz a doutrina cristã sobre o “pecado de origem” ou “pecado original”? “Original” e “Hereditário” – qual é a diferença? Em que sentido ele é hereditário? Passa de uma geração para outra? O que significa para nós?
As doutrinas a respeito do pecado original têm sido historicamente uma das principais causas de cismas, heresias e divisões entre os cristãos desde o início da era cristã. Foram elaboradas e formuladas várias interpretações divergentes sobre o significado da narrativa contida na Bíblia (Livro do Gênesis, no Relato da Criação), por teólogos e vários outros estudiosos do assunto.
As perguntas sobre esse tema são muitas, e muitas são as respostas. Às vezes, gostaríamos de ter uma oportunidade para aprofundar o nosso conhecimento sobre essas coisas.
Essa oportunidade vem agora. O texto de Ferdinand Krenzer (o teólogo e escritor católico - já bem conhecido a todos que visitam o blog Indagações), faz uma breve reflexão sobre o tema do pecado original. Uma leitura agradável e fácil, que certamente pode ser uma grande ajuda para entendermos melhor essa questão.
Não deixe de ler.
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“Culpa hereditária”
De um lado, hoje temos uma consciência muito maior, comparando com as gerações passadas, que um destino comum une todos os homens. Um ditador, em algum canto do mundo, pode envolver numa guerra terrível metade da humanidade. Até mesmo um pai concreto de família, quando larga essa família, pode causar danos muito graves e consequências desastrosas numa geração futura. Já no momento de nascimento de uma criança são tomadas as primeiras decisões que, depois, refletem na sua vida inteira (pertença a esta ou aquela nação, educada pelos pais crentes ou ateus, etc.).
Por outro lado, hoje, comparando com as gerações antigas, estamos muito menos dispostos a assumir a culpa dos outros, e perguntamos: “O que eu tenho com o pecado de Adão?” Consideramos o pecado, quase sempre, como algo particular entre Deus e uma pessoa concreta, e não acreditamos que as suas consequências possam atingir a todos.
O termo que se normalmente usa, “pecado original”, não expressa exatamente aquilo, que se queria dizer. Na expressão “pecado original”, tanto a primeira palavra – “pecado”, como a segunda – “original”, precisam ser analisadas criticamente.
O pecado supõe sempre um ato da pessoa e também a sua responsabilidade pessoal. Esses dois elementos, no entanto, não se encontram no termo “pecado original”. Por isso a doutrina cristã diz, que ninguém será rejeitado por Deus somente por causa do pecado original. Ser rejeitado por Deus pode acontecer exclusivamente por causa do pecado pessoal. Mas, o pecado pessoal confirma o pecado original, que existe desde o início da humanidade, e provoca adesão a ele.
Quando falamos sobre pecado original, não devemos pensar logo em “hereditariedade” no sentido biológico, mas antes, na “participação” da culpa comum. Ele não é ato, mas estado, quer dizer, significa a falta de comunhão com Deus, com o qual nos encontramos e no qual estamos desde o nascimento. Essa falta é melhor entendida com a expressão “culpa hereditária”. (...)
Não se trata aqui do pecado cometido um dia por um homem chamado “Adão” - pois “Adão” significa simplesmente “homem” (ser humano), e agora todos somos atingidos por ele. Essa herança infeliz significa mais: Já desde o início o ser humano entrou no caminho errado e contrariou o plano de Deus. Todo homem, sem exceção, vem a este mundo marcado por esse “Não” dito a Deus. Todos, portanto, estamos sob a força do pecado. A decepção que o “Adão” causou, não é a coisa do passado, mas é atualidade também hoje. Porque cada um de nós, muitas vezes confirma durante a sua vida esse “Não” dirigido a Deus; esse “Não” que já existe desde o início. Portanto, o estado de afastamento do ser humano de Deus é também a obra pessoal de cada um de nós. (...)
A apresentação do pecado original no Antigo Testamento é feita através de imagens. Apenas o fato que o pecado existe desde o início da história do ser humano, é a verdade da fé; não deve-se, por isso, levar ao pé da letra todos os detalhes do relato bíblico. Também a questão, se no início da humanidade teve só um casal (monogenismo), ou se começou com algumas tribos (poligenismo), permanece em aberto no relato bíblico da criação. (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 99-100)*
Continua...
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*Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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