Acho interessante a reportagem de Gianni Valente* que hoje trago para o blog Indagações-Zapytania. As palavras do Papa
Francisco durante a sua recente visita ao Correia do Sul dirigidas às pessoas da
vida consagrada (religiosas e religiosos) naquele país, referem-se, com certeza, à questão
como tal em toda Igreja Católica e em todos os cantos do mundo. São as palavras
duras e necessárias, que denunciam a incoerência e a hipocrisia em certas situações da vida consagrada, onde ocorrem abusos e deformações em relação ao ideal da vocação religiosa. Sabemos que não são poucos exemplos daqueles e daquelas que fazem votos de pobreza, mas levam uma vida
de luxo e opulência e tornam-se símbolo de escândalo aos olhos de leigos. Com isso, inevitavelmente, trazem só prejuízo para a imagem da Igreja. A interpretação tendenciosa
dos “sinais dos tempos” serve nesses casos para justificar a distorção dos
votos religiosos.
Penso que vale a pena ler esta reportagem, pois ela pode nos ajudar na
formação de uma opinião correta e justa em relação a essa questão, e servir
como base para uma crítica construtiva, o que é muito importante nos dias de
hoje.
A matéria foi publicada no site Vatican Insider e também, posteriormente,
no site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
WCejnog
IHU
- Notícias
Segunda, 18 de agosto de
2014
''Quem
faz voto de pobreza e depois vive como rico fere as almas''
A hipocrisia dos
religiosos e das religiosas que antes fazem voto de pobreza e depois
"vivem como ricos fere as almas dos fiéis e prejudicam a Igreja". O
papa falou claro no encontro realizado nesse sábado com os consagrados e as
consagradas das comunidades religiosas católicas coreanas durante o terceiro
dia da sua viagem ao país da "Calma Manhã".
A reportagem é
de Gianni Valente, publicada no sítio Vatican
Insider, 16-08-2014. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
Eis o texto
O bispo de Roma
também alertou os religiosos e as religiosas da tentação de adotar "uma
mentalidade puramente funcional e mundana, que nos leva a colocar a nossa
esperança apenas nos meio humanos e destrói o testemunho da pobreza que Nosso
Senhor Jesus Cristo viveu e nos ensinou".
Ao dirigir-lhe
palavras de saudação por parte das irmãs coreanas, a irmã escolástica Lee
Kwang-ok, jnb, também tinha falado claro, falando sobre uma
sociedade coreana que "sofre nestes tempos de globalização por causa do
domínio do capitalismo e do poder político" e de uma "Igreja
contaminada pelo secularismo agravado pelo neoliberalismo".
O Papa Francisco sempre fala claro. No início do encontro, ele adverte que as Vésperas não serão rezadas junto, como previsto, porque o intenso programa já estava atrasado, e ele deve voltar de helicóptero para Seul, e, se a escuridão cai, "há o perigo de acabar esmagados sob a montanha". Ele fala claramente, mas as suas sugestões e os seus apelos hoje não foram inspirados por um taciturno furor rigorista.
O Papa Francisco sempre fala claro. No início do encontro, ele adverte que as Vésperas não serão rezadas junto, como previsto, porque o intenso programa já estava atrasado, e ele deve voltar de helicóptero para Seul, e, se a escuridão cai, "há o perigo de acabar esmagados sob a montanha". Ele fala claramente, mas as suas sugestões e os seus apelos hoje não foram inspirados por um taciturno furor rigorista.
Para o Papa
Francisco, o fato de os religiosos se voltarem para as riquezas
ou para as seduções do poder é apenas um sintoma de uma falta. Isso ocorre
quando os consagrados e as consagradas perderam o contato com a experiência da
misericórdia de Deus, única fonte verdadeira da sua vocação: "Só se o
nosso testemunho for alegre", disse o Papa Francisco
no seu encontro com as religiosas e os religiosos realizado no Centro de
Formação da School of Love de Kkottongnae,
"é que poderemos atrair homens e mulheres a Cristo".
Aos religiosos e às religiosas coreanas, Francisco lembrou que apenas a experiência renovada da misericórdia de Deus, continuamente mendigada, permite-nos perseverar na prática dos conselhos evangélicos da pobreza, da obediência e da castidade: "A castidade, a pobreza e a obediência de vocês", disse, "se tornarão um testemunho alegre do amor de Deus na medida em que vocês permanecerem firmes sobre a rocha da sua misericórdia. Essa é a rocha".
Aos religiosos e às religiosas coreanas, Francisco lembrou que apenas a experiência renovada da misericórdia de Deus, continuamente mendigada, permite-nos perseverar na prática dos conselhos evangélicos da pobreza, da obediência e da castidade: "A castidade, a pobreza e a obediência de vocês", disse, "se tornarão um testemunho alegre do amor de Deus na medida em que vocês permanecerem firmes sobre a rocha da sua misericórdia. Essa é a rocha".
O fato de tender
à perfeita caridade, ideal da vida religiosa – assim repetiu o Papa
Bergoglio – nunca é o fim de um perfeccionismo. Ao contrário,
reconhecer as próprias fraquezas e fragilidades pode se tornar o primeiro passo
para redescobrir-se necessitado da graça de Cristo e
evitar a tentação de se considerar autossuficiente: "Mesmo se estivermos
cansados – disse Bergoglio aos religiosos reunidos em Seul
– podemos oferecer-lhe os nossos corações sobrecarregados de pecados e
fraquezas. Nos momentos em que nos sentimos mais frágeis, podemos encontrar
Cristo, que se fez pobre para que nos tornássemos ricos. Essa nossa necessidade
fundamental de sermos perdoados e curados é, em si mesma, uma forma de pobreza
que nunca devemos esquecer, apesar de todos os progressos que fazemos rumo à
virtude".
Assim, aproveitando o encontro com os religiosos e as religiosas coreanos, o Papa Francisco repropôs em termos simples o que faz nascer e alimenta toda vocação cristã. Não só a da vida religiosa. E não apenas na Coreia, mas em todas as latitudes.
__________________
* Gianni Valente nasceu e vive em Roma. Graduou-se na
história religiosa do Oriente cristão, com uma tese sobre indiano Malabar e
Malankara católicos e sua participação no Concílio Vaticano II. Ele era editor
da revista internacional "30Dias", para o qual ele também produziu
relatórios sobre a vida das comunidades cristãs da China, Rússia e vários
países da América Latina e do Oriente Médio. Atualmente é editor da agência
"Fides", órgão de informação das Pontifícias Obras Missionárias.
Colabora com a revista geopolítica italiana Limes e 'Vatican Insider', o portal
multilingue em linha do jornal "La Stampa", dedicado a informação
global sobre a atividade da Santa Sé e da história das comunidades cristãs do
mundo. É autor de vários lívros. [In:www.edizionisanpaolo.it]
Fonte: IHU - Notícias
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