Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ter em vista as coisas de Deus, e não dos homens. - Comentário bíblico de M. Assun Gutiérrez. Muito interessante!



Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Que poderá dar o homem em troca da sua vida?(Mt 16, 26)

O comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez Cabriada sobre o texto  Mateus 16, 21-27 (Jesus pela primeira vez anúncia a sua morte e ressurreição) é  muito bom. É uma boa oportunidade para refletir com mais profundidade as palavras de Jesus Cristo.
Não deixe de ler.

Obs.: Os interessados podem  ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o  site das Monjas Beneditinas de Montserrat. www.benedictinescat.com/montserrat  Trabalho muito bonito!

WCejnog


A fé cristã é seguimento de Jesus.
Crer não consiste antes de tudo em
pensar corretamente acerca de Jesus, mas em seguir o seu caminho, em ser discípulo, em viver como Ele viveu.
Não há mais saber real que o da fé feita seguimento.
Voltamos à história de Jesus porque continua a transformar a  nossa história.
E porque Ele nos continua a convidar a transformá-la com Ele e como Ele. 

José Arregi


 Comentário

Naquele tempo, Jesus começou a explicar
seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém
e sofrer muito da parte dos anciãos,
dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas;
que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia.

Começa a terceira parte do evangelho de Mateus. Depois da confissão de Pedro, Jesus vai explicar aos discípulos que as consequências que vai ter o seu Messianismo serão muito distintas do que eles esperavam.
A morte é inevitável. Jesus sabe que tem que morrer. Não porque Deus tenha disposto que morresse. Jesus não amou a cruz, nem Deus ama o sofrimento, nem o quer para os seus filhos. É Deus do Amor, da Vida, da Alegria.
A morte de Jesus na cruz, por causa dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos mestres da lei, é a consequência, devida ao fanatismo, ao medo e à oposição dos líderes religiosos, em relação à sua vida defensora e libertadora de toda a opressão.

Os anúncios da paixão de Jesus contêm sempre um anúncio de ressurreição.
Vivo as circunstâncias e acontecimentos da minha vida à luz da ressurreição?
Porquê nas igrejas católicas há tantas imagens de Jesus crucificado e tão poucas de Jesus ressuscitado?

Pedro, tomando-O à parte,
começou a contestá-l’O, dizendo:
- Deus Te livre de tal, Senhor!
Isso não há-de acontecer!

Pedro não está disposto a aceitar as palavras de Jesus.
Não é capaz de encaixar o fracasso. A sua teoria não está de acordo com a sua prática. Tem que continuar a aprender o que significa ser discípulo.
Pedro, como nós em algumas ocasiões, está entre a confiança e a dúvida, a confissão e o medo.
Pedro quer evitar o sofrimento a Jesus?
Não está a tratar de evitar o seu próprio sofrimento?

Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe:
- Vai-te daqui, Satanás!
Tu és para mim uma ocasião de escândalo,

Jesus diz a Pedro – e a nós - que não se ponha diante d’Ele, como um obstáculo, mas atrás, como um discípulo. As palavras de Jesus, de firmeza e acolhimento, são um novo convite ao seguimento.
Jesus sabe que ser discípulo implica um processo. Aprende-se a ser coerente, a não afirmar uma coisa e a fazer outra.
É um convite a todos nós a caminhar pela senda que Ele vai marcando, e a não ser um obstáculo, com as nossas palavras e a nossa vida, para os que quiserem conhecê-l’O e segui-l’O.
O/a discípulo é chamado a seguir Jesus cada dia, deixando que Ele programe o seu presente e o seu futuro.

pois não tens em vista as coisas de Deus,
mas dos homens.

Todos corremos o risco de "pensar como os homens" e não "como Deus".
“Pensar como os homens”, afã de acumular riquezas, honrarias, privilégios, poder... não é compatível com o compromisso cristão.
Jesus pensou e viveu sempre, não segundo os critérios e cálculos humanos, mas conforme os planos de Deus. A isso convida a quem O quiser seguir.  
Viver, como Ele, os valores do Reino: austeridade, solidariedade, compaixão, acolhimento, valentia, compromisso... produz uma grande satisfação e harmonia interior.

Jesus disse então aos seus discípulos:
- Se alguém quiser seguir-Me,
renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e siga-Me.

Seguir Jesus não significa deixar algo, mas ter encontrado Alguém. É um convite a todos. Não se trata de um seguir exterior, mas de uma adesão interior.
Jesus não nos convida a sofrer, convida-nos a amar.
Repete: vinde após Mim.
Renunciar a si mesmo, carregar com a cruz, não é renunciar à vida plena e feliz, mas optar por uma felicidade mais profunda e para todos. A felicidade que nasce da prática do amor partilhado.
Jesus convida-nos a renunciar a tudo o que escraviza, acabrunha, desumaniza...; a tudo o que nos impeça ser livres e felizes. Renunciar a si mesmo é viver para os outros, não ser egoísta. Vivendo desse modo, toda a renúncia se converte em fonte de alegria e de paz.

Porque, quem quiser salvar a sua vida
há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida
por minha causa, há-de encontrá-la.
Na verdade, que aproveita ao homem
ganhar o mundo inteiro,
se perder a sua vida?
Que poderá dar o homem
em troca da sua vida?

Ganhar a vida, a felicidade e a paz, é o serviço silencioso, desinteressado e simples, a entrega aos outros, estar pendente de quem necessita de nós. Seremos mais livres e felizes quanto mais ao serviço dos outros nos pusermos.  Não se trata de buscar cruzes e fazer sacrifícios. Já nos basta a vida. Trata-se de viver ajudando a levar a carga aos que têm a vida mais difícil.

Isso aligeira a nossa e alegra a vida de todos. Seguir Jesus supõe uma óptica diferente da vida, na qual a riqueza e o êxito não consistem em entesourar e triunfar, mas em partilhar e servir.

O Filho do homem há-de vir
na glória de seu Pai,
com os seus anjos,
e então dará a cada um
segundo as suas obras.

Mateus não vê o inminente julgamneto segundo a conduta” como uma ameaça e motivo de temor. Aquele que virá é O que já está entre nós, O que nos ensina, nos precede na paixão e ressurreição, nos felicita, e, se falhamos, nos convida a voltar ao nosso posto de discípulos.
A sua vinda supõe consolo, confiança e paz, porque o Filho do homem esperado não é outro senão Jesus, que nos conhece, nos alivia, nos compreende, nos consola, percorre connosco o caminho e nos ama mais  do que possamos imaginar.
O importante não é saber “quando" e "como" sucederão estas coisas do final.  O que ocorrerá no final do mundo, ou no momento da nossa morte, já nos está a acontecer dia a dia.


Gastar a vida

Tu, Senhor, disseste:
Quem quiser ganhar a sua vida, perdê-la-á;
e quem a perder por minha causa, ganhá-la-á
.
Perder a vida é trabalhar pelos outros,
mesmo que não nos paguem;
fazer um favor a quem nada pode dar-nos em troca;
perder a vida é arriscar-se inclusive ao inevitável fracasso, sem falsas prudências;
é decidir-se irreversivelmente no bem do próximo.
Perder a vida não é algo que se faça com gestos
Extravagantes e falsa teatralidade.
A vida entrega-se simplesmente, sem publicidade,
como a água da fonte,
como a mãe que da o peito a seu filho,
como o suor humilde do semeador.
Ensina-nos, Senhor, a nos lançarmos ao impossível,
porque atrás do impossível estão a tua graça e a tua presença
e não podemos cair no vazio. Amén

Luis Espinal

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