Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Gêneses: Relato Bíblico da criação. Algumas explicações de valor.


Continuando a reflexão sobre o 3º capítulo do Livro de Gêneses, que é o Relato bíblico da queda pecaminosa do homem, o texto de Ferdinand Krenzer¹ apresenta agora uma breve análise exegética das principais questões e imagens contidas neste relato. Quem quiser entender melhor o texto - encontrará aqui as necessárias explicações.
Não deixe de ler.
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[Para acompanhar com mais facilidade o raciocínio do autor e aproveitar melhor as explicações, é aconselhável  ler desde o início todas as postagens sobre este assunto (começo no dia 01 de maio de 2012: Relato Bíblico da Criação. Indagações para compreender).]
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Análise exegética do texto


A criação do homem


A maneira pela qual Deus cria o homem mostra claramente quem é o homem quanto ao seu ser.  Deus forma ele de barro e sopra em suas narinas o “sopro da vida” (Gen  2,7). Temos aqui, então, os dois elementos que formam o homem: elemento terrestre, pertencente ao mundo material, e o elemento superior, espiritual, que provêm de Deus.

O homem é uma criação de Deus, isso quer dizer que recebeu de Deus o seu ser e a vida. Essa vida, ao mesmo tempo, é muito frágil e incerta. Sob este aspecto o homem divide o seu destino com os animais. Porém, ao contrário dos animais, a sua dignidade vem do fato, que o homem esse sopro da vida recebeu pessoalmente e direto de Deus. Por isso também ele se apresenta diante de Deus como pessoa.

O homem foi formado dos mesmos elementos que formam o mundo que o cerca. E como o vento varre a poeira da terra, assim também acontecerá com o homem, que é varrido pela morte. Pois o homem é mortal.  Foi formado por Deus e como a jarra de barro em sua forma depende do artesão, assim também o homem depende totalmente do seu Criador.

Fica muito claro que o autor bíblico não quer falar aqui sobre o tema que pertence às ciências naturais:  “como” surgiu o homem. Ele entra mais profundamente.  Fala do ser do homem. Não precisamos, portanto, temer da parte da Bíblia nenhuma dificuldade  em tratar da “formação” do homem do pó da terra como um processo que durou  milhares de milhares de anos, durante o qual ele teve, talvez, até algum  antecedente comum com os animais.

O paraíso

As duas palavras: “gau” – jardim,  e “Éden” – planície, deserto, mas também gozo, prazer – são palavras hebraicas descendentes do dialeto sumério. Já isto mostra que a apresentação do paraíso não é exclusividade do pensamento hebreu, mas foi tomada da Mesopotâmia.

De acordo com o texto no jardim crescem “todas as árvores”. Duas são descritas de modo particular: árvore da vida e árvore do conhecimento do bem  e do mal.

O mito babilônio diz:  Em algum lugar cresce árvore ou erva. Quem comer os seus frutos,  não morrerá. Essa árvore existe em uma região distante, inalcançável. Para o autor bíblico, essa árvore cresce  no paraíso, e está ao alcance do homem. Essa árvore é o símbolo de imortalidade. 

Além da árvore da vida  existe ainda algo, o que Deus escondeu do homem.  É o direito de estabelecer  e decidir sobre o que  é bom  e o que é mal  (árvore do conhecimento do bem  e do mal).  Se o homem fizer isso, ultrapassará a sua natureza de criatura e sozinho vai se querer fazer Criador. Isso seria um grande pecado de rejeição de servir a Deus:  non serviam, não quero servir!

A criação da mulher

Quando analisamos a criação da mulher mais uma vez fica  claro que entre o homem e o animal existe uma diferença fundamental. Todos os animais passam ao  lado do Adão, ele então dá para eles os nomes. Por que o homem pode fazer isso? Ele pode fazer isso unicamente porque é capaz de conhecer o ser dessas outras criaturas. Ele lhes dá  os nomes, porque o nome não é somente a palavra, mas expressa algo do próprio sujeito. Adão não encontra entre os animais uma companheira que seria adequada para ele. Nesses versos do Livro de Gêneses (Gen  2, 18-20) ataca-se ao mesmo tempo o culto aos animais que existia no mundo pagão que cercava o Israel. O animal é abaixo do homem. Nunca, então, poderia ser Deus.

Por que Deus criou a mulher da costela do homem? Ele podia criar a Eva da terra, assim como fez com o Adão.  Por que então o autor conta aqui uma história tão inacreditável?

“Aí , Javé fez, que o homem caiu no sono profundo, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e cresceu carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem, Javé Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem” (Gen  2, 21-22).

O objetivo dessa história é esclarecer uma coisa: o homem e a mulher são iguais quando se trata do seu ser – são igualmente e totalmente pessoas!  Naqueles tempos esse fato não era assim tão claro. Considerava-se a mulher como se fosse pior e ficasse abaixo do valor do homem. O autor rejeita essa visão. A mulher foi tomada do homem e graças a isso ela é um ser humano igual a ele. Por isso o Adão diz: “Esta sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do homem!” (Gen 2, 23).

No início teve só um par de seres humanos?

De acordo com Gen 2, 7 Deus criou no início um homem, um varão. Desse homem veio a mulher. Será que isso é só uma imagem simbólica, ou se quer apresentar um pensamento teológico: No início existia só um homem, e ele  foi criado para ser a raiz de toda a humanidade?

Surge aqui, também, uma outra questão:  a humanidade procede de um par dos pais, ou será possível que ao mesmo tempo, independentemente de si, surgiram mais pares dos seres humanos. Isso é uma questão que deve ser pesquisada pelas ciências naturais. Não podemos querer que a Bíblia nos diga como isso ocorreu. Do Livro de Gêneses não podemos tirar nenhum argumento nem pró nem contra essa ou aquela tese.  A maioria dos exegetas inclina-se para a tese do monogenismo, isto é, que a humanidade descende de um par humano. Como argumentam a sua posição? – eles apontam para a unificação da espécie humana na terra e a sua nítida separação do mundo animal.

Os outros exegetas acham que a formação do Adão da terra e a criação da Eva da parte do seu corpo é somente um símbolo ilustrativo. Eles dizem que o relato da criação não é pronunciamento sobre o tema de como surgiu o homem, mas sobre quem é o homem. A pergunta sobre a descendência do homem fica então aberta. A palavra “Adão” (significa ‘o homem’) não seria, segundo eles, o nome de um  homem, mas o nome da espécie humana. Outro problema separado é a pergunta: seria possível  defender essa tese em teologia? De qualquer jeito, a exegese do relato da criação não fornece base suficiente para decidir essa questão.  (...)


(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 211-214)²
Continua...
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¹  Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.
²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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2 comentários:

  1. Ainda não li o texto mas acho que é interessante depois dígito o que eu achei sobre ele

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  2. Eu não vou ler mais este texto então alguém lê ele para mim porfavor

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