Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 27 de maio de 2012

“Não ter medo de honrar Maria como a Mãe de Nosso Senhor...” - Kimberley

Na postagem anterior  apresentei o texto do livro de Scott e Kimberly Hahn: “Todos os caminhos vão dar a Roma”, com o depoimento do Scott Hahn. Agora vem o depoimento da Kimberley Hahn – esposa do Scott.
É uma leitura fascinante. Não deixe  de ler.
WCejnog

[Para aproveitar melhor as reflexões, é aconselhável  ler desde o início todas as postagens sobre  a devoção a Nossa Senhora e aos Santos na religião Católica (começo no dia 17 de maio de 2012).]


Kimberly:

(...) Realmente, começávamos, Scott e eu, a ter diferentes convicções: em parte porque eu estava muito ocupada, e grávida do nosso segundo filho, e em parte porque não me interessava o que o Scott fazia. Tinha a certeza de que ele se estava a afastar para uma margem, mas que por fim voltaria atrás. O importante para mim era manter-me firme.

Uma noite acordou-me, entusiasmado com um pensamento:
- Kimberly, dás-te conta de que estamos rodeados aqui e neste mesmo momento por Maria, os santos e um sem número de anjos?

Reagi de imediato:
- No meu quarto não! Nem pensar!

O que o Scott dissera perturbou-me. Maria? Pensava muito nela naquela época. Parecia que os católicos se centravam em Maria como nós, os protestantes,  nos centrávamos em Jesus. Era a pessoa acessível; podíamos esconder-nos nas pregas do seu manto, em vez de encarar o rosto severo de Deus Pai.  Maria era como a grande porta das traseiras para obter o favor de Deus, enquanto Jesus continuava a ser a incômoda porta principal. Repugnava-me pensar nessas coisas.

Tinha lido em certa ocasião algo sobre um homem que estava a reparar o teto de uma bela capela italiana, e que um dia viu entrar uma americana que começou a rezar na igreja. Pensou que podia passar um bocado divertido, e começou a dizer lá de cima: “Sou Jesus”. A mulher não fez caso. Falou, então, um pouco mais alto: “Sou Jesus”. Nenhuma resposta. Por fim o homem disse ainda mais alto: “Sou Jesus”. A mulher olhou para cima e gritou: “Cala-te!” Estou a falar com a tua mãe!”

A minha impressão pessoal sobre o modo como os católicos consideravam Maria fazia-me pensar que estavam a substituir o amor, a devoção e a adoração devidos a Jesus pelo amor, a devoção e até a adoração a Maria. Exprimi esta preocupação ao Scott, que a rebateu fazendo-me notar o quase total abandono a que os protestantes a votavam, ao ponto de nem sequer falarem dela, apesar de ter sido, pelo menos, a escolhida, a mulher mais privilegiada de todos os tempos, que levou no seu seio o Filho de Deus e lhe deu a sua natureza humana. Talvez os protestantes pensassem que assim compensavam a excessiva atenção que lhe dedicavam os católicos.

Quando me convidaram a falar no jantar de Natal das senhoras da Igreja, o Scott animou-me a falar de Maria. Preparei então um estudo sobre Maria como mulher de Deus, sem expor nenhum dos conceitos católicos sobre ela (nos quais ainda não acreditava). Disse-lhes que não tivessem medo de a honrarem como a Mãe de Nosso Senhor, pois Jesus era ao mesmo tempo Filho de Deus e Filho de Maria.

Assim que acabei a palestra, as duas esposas dos pastores cantaram What Child is this?, mudando propositadamente as últimas palavras da estrofe: em vez de “o bebê, o Filho de Maria”, cantaram “o bebê, o Filho de Deus”, porque, pouco antes do jantar, um dos pastores tinha expressado a sua preocupação de que a  letra original exagerasse a honra atribuída a Maria. Que belo exemplo para ilustrar a minha palestra!

Recordei uma aula no seminário em que o Dr. Nicole disse que um Concílio Ecumênico tinha definido Maria  como Theotokos, Mãe de Deus. Ao princípio aquilo ofendeu-nos – Ela não tinha criado Deus! – mas ele esclareceu rapidamente o sentido desta afirmação: era necessário para a nossa salvação que Jesus fosse tão plenamente humano como plenamente divino: duas naturezas numa só Pessoa, a de Deus Filho. Portanto, posto que Maria é a fonte da sua natureza humana, ela é a mãe de Jesus; e posto que Jesus é Deus, ela é a mãe de Deus. Não havia, portanto, razão para nos escandalizarmos com esta verdade – recalcava o Dr. Nicole – já que era a garantia da nossa salvação.

Um dia, ao entrar na sala de jantar, o Scott disse-me:
- Tenho andado a  ler uma grande quantidade de livros católicos ultimamente. Talvez Deus me esteja a chamar à Igreja Católica.
- Não poderíamos ser episcopalianos? -  foi a minha resposta imediata.
Tal como estavam as coisas, preferia continuar a ser protestante como episcopaliana  do que tornar-me católica.  Ele sorriu, dando a entender que compreendia a razão da minha pergunta. Depois pediu-me que rezasse por ele. (...)
   
Contudo, ainda tinha grandes objeções para me converter, especialmente sobre Maria. O Scott compreendia-me muito bem; ele também passou pelo mesmo. Quando soube que o Dr. Mark Miravalle ia fazer uma apresentação sobre Maria na Universidade, convidou-me para a conferência. Pensei que não era má ideia assistir à exposição, variando assim os enfrentamentos nos quais o Scott e eu costumávamos cair.

Nem tudo o que ouvi me agradou;  fiquei com muitas perguntas. Mas também não estava à defesa, como anteriormente. Ouvi o Dr. Miravalle esclarecer o que a Igreja Católica  ensina sobre Maria.
Primeiro, que ela não é uma deusa: é digna de louvor e veneração, mas não de adoração, pois esta só é devida a Deus.
Segundo, que a Maria é uma criatura formada de uma maneira única pelo seu Filho, como nenhuma outra mãe tinha sido nem será depois dela.
Terceiro, que Maria se regozijou em Deus seu salvador, como ela própria afirma no Magnificat, porque foi  preservada do pecado por Jesus, desde o momento da concepção. Por outras palavras, a sua impecabilidade era um dom de graça que a salvou antes de pecar. (Na realidade, Deus salvou muitos de nós de uma libertinagem feroz antes de cairmos nela; talvez tivesse salvo Maria ainda antes.)
Quarto, o título de Maria como Rainha do Céu não derivava de estar casada com Deus – como eu pensava, baseava-se na honra de ser a Rainha Mãe de Jesus, o Rei de Reis e Filho de  Davi. No Antigo Testamento, o rei  Salomão, filho de Davi, elevou-lhe homenagem na sua corte como Rainha Mãe. No Novo Testamento, Jesus elevou a Sua mãe, a Bem-Aventurada Virgem Maria, colocando-a no trono que está a Sua direita no Céu, animando-nos a render-lhe homenagem como Rainha Mãe do Céu.
Quinto, a missão de Maria era apontar para além dela, para o seu Filho, dizendo: “Fazei o que Ele vos disser”.

Dei-me conta então de que certos exemplos de piedade mariana, que se centravam demasiado  em Maria, ao ponto de negligenciarem Jesus, talvez não correspondessem aos ensinamentos católicos sobre ela. Talvez as boas almas que faziam isto nem sequer se dessem conta de que estavam a ofender a Virgem Santíssima com as  suas tentativas de a honrarem, ao descuidarem a missão primária de Maria que  é conduzir-nos ao seu Filho.

Quando o Scott e eu voltamos a casa nessa noite, tivemos um belo debate sobre as afirmações de Dr. Miravalle. Ele acrescentou uma descrição de Maria como a obra  prima de Deus, que me pareceu muito  útil.
- Maria é a  obra prima de Deus. Já alguma vez foste a um museu onde um artista tenha em exposição as suas obras? Achas que ele ficaria ofendido se entretivesses a olhar para o  que ele considera a sua obra prima? Ficaria ressentido se ficasses a contemplar a sua obra em vez de o contemplares a ele? “Ouve lá, é para mim que tens que olhar!” Em vez disso, o  artista sente-se honrado pela atenção que prestas à sua obra. E Maria é a obra por excelência de Deus,  do princípio ao  fim.
O Scott prosseguiu:
- E se alguém elogia um dos nossos filhos na tua presença, interrompe-lo para dizer: “eu sou o seu dono”?... Não, sentes-te honrada quando os nossos filhos são admirados. Do mesmo modo, Deus é glorificado e honrado quando os seus filhos são admirados.

Com estas considerações fiz a minha oração aquela noite, e pela primeira vez perguntei a Deus o que pensava de Maria. As frases que vieram ao meu coração foram estas: “Ela  é a minha filha amada”, “a minha filha fiel”, “a minha preciosa vasilha”, e “a minha arca da Aliança que leva Jesus ao  mundo”.

Não podia entender porque é que os católicos davam a impressão de adorar a Maria, mesmo sabendo  eu que a  adoração a  Maria era claramente condenada pela Igreja. Veio-me então à cabeça esta ideia: a questão está no que se considera adoração.

Os protestantes definem a adoração em termos de cantos, louvores e pregações. Assim, quando os católicos cantam a Maria, lhe dirigem súplicas através da oração e pregam sobre ela, os protestantes interpretam que está a ser adorada. Mas os católicos definem a adoração como o sacrifício do corpo e do sangue de Jesus, e nunca ofereceriam um  sacrifício de Maria ou a Maria sobre o  altar. Estas reflexões foram um benéfico alimento para a minha alma.¹  (...) 

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¹ HAHN Scott e Kimberly. Todos os cominhos vão dar a Roma. Lisboa 2006, Ed. Diel, 6ª ed. pp. 99-101 e 166-168.

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