Continuando a reflexão sobre a devoção dedicada a Maria e aos Santos na religião Católica, o texto de Ferdinand Krenzer¹ aborda agora algumas questões muito importantes da doutrina católica em relação a Maria, mãe de Jesus. É necessário entendermos bem tais questões como: “Imaculada Concepção”, “Maria livre do pecado original”, “Nascido da Virgem Maria”, “Primogênito” e “Assunção”.
Muitas opiniões negativas e até agressivas em relação a Igreja Católica, que criticam a devoção a Nossa Senhora e o aos santos, baseiam-se, sem dúvida, no desconhecimento desses fatos. A ignorância, não poucas vezes, torna-se fonte de preconceito e agressão.
O texto abaixo, de maneira simples e muito eficiente, esclarece dúvidas e traz informações sobre essas importantes questões.
Não deixe de ler.
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[Para aproveitar melhor as explicações, é aconselhável ler desde o início todas as postagens sobre este assunto (começo no dia 17 de maio de 2012: Sobre culto à Nossa Senhora e aos Santos na religião Católica).]
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A Força da Graça
A Força da Graça
O anjo saudou Maria dizendo: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1, 28). A Igreja entendeu esta frase assim: Maria não tem absolutamente pecado, nem mesmo pecado original. Isso transparece na “Festa da escolha de Maria”, que a Igreja celebra no dia 8 de dezembro (antigamente era “Festa da Imaculada Conceição”): Ela, desde o primeiro momento da sua existência (já no momento da concepção) está sem pecado, tem “plenitude de graça”. Mesmo se Ela, de fato, como Mãe do Filho de Deus, experimenta com intensidade o sofrimento do mundo, Ela está livre do pecado e da culpa. Tudo isso Maria, naturalmente, deve – assim como nós – à salvação de Cristo, que n’Ela começou.
Justamente neste exemplo transparece claramente em que consiste a veneração dirigida a Maria na religião católica: é a adoração da graça Divina, que Maria experimentou de maneira singular. Não se considera aqui qualquer merecimento humano: Ela foi eleita não por causa dos méritos humanos, mas porque ainda antes do seu nascimento, Deus a escolheu para ser a Mãe de Jesus, e, em função a este papel, Deus a livrou do pecado original.
Para isso aponta São Hipólito (séc. III) chamando Maria “livre de qualquer mácula e deterioração”. Santo Ambrósio falou sobre Ela no século VI, como: “A Virgem, que foi poupada pela graça Divina de qualquer marca do pecado.”
Esta doutrina de fé não é uma meditação abstrata, mas significa muito para todos nós. No exemplo de Maria fica esclarecido como Deus refere-se ao ser humano. Maria está junto conosco, na mesma fila, só que recebeu o privilégio de ser, nesta fila, a primeira.
“Nascido da Virgem Maria”
Nascido da Virgem Maria – assim reza Credo Apostólico. A Igreja, começando pelos Padres da Igreja, ensinava sobre virgindade perpétua de Maria. Também M. Lutero aceitava essa verdade, igualmente com a Igreja ortodoxa.
Teve momentos, na história, que surgiram acusações, como se atrás desta verdade de fé existissem imagens míticas gregas (no sentido de contato entre um dos deuses e uma mulher), e também alguns pontos de vista e correntes de opinião, caracterizados pela aversão ao corpo humano ou abnegação dos aspectos sexuais (maniqueísmo).
Porém, ambos os relatos bíblicos, que temos, sobre a concepção virginal de Maria são independentes entre si, como também são oriundos do circuito judaico, em que nunca antes existiam quadros mitológicos desse tipo, e nem conceitos contrários ao corpo humano.Deixemos de lado aqui o fato que os relatos bíblicos sobre a concepção virginal em caso nenhum pretendem sugerir “divino processo de gerar” (fecundação divina).
No Evangelho segundo São Mateus (1, 18 ...) lemos que Maria concebeu pelo poder do “Espírito Santo” e por isso José queria abandoná-la. É para ele, pelo intermédio do anjo, foi dito: “José, filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa. Pois o que nela foi gerado, é do Espírito Santo. Dará à luz um filho, a quem darás o nome de Jesus” (Mt 1, 20-21).
No Evangelho segundo São Lucas Maria se opõe até ao mensageiro Divino, que lhe anunciou o filho: “Como poderá ser, pois não conheço homem?”. Recebe a resposta: “O Espírito Santo virá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá de sua sombra e é por isso que o Santo gerado será chamado Filho de Deus” (Lc 1, 34-35).
A frase “nascido da Virgem Maria” contém em primeiro lugar a verdade teológica a respeito de Cristo, e não opinião sobre a Maria. O seu conteúdo essencial é: o próprio Deus intervêm de modo digno do Criador, para que o “Filho de Deus” como homem poder entrar em nossa história.
Jesus não foi gerado, n’Ele realiza-se a “nova criação”. Ele é o “novo Adão”. É dom de Deus. Vem de cima, do Espírito Santo, e não de baixo, do próprio poder humano. Esta interpretação, no entanto, de palavras bíblicas sobre o tema de nascimento de Jesus só tem o sentido, quando se apoia no acontecimento real.
Por isso a Igreja, durante séculos, entendia a virgindade de Maria também no sentido biológico. Mas, não do jeito como se a fé na filiação Divina de Jesus supunha que Jesus não tinha um pai natural. Todavia, o fato é que Ele é Filho de Deus já desde início, e como tal poderia nascer também de um casal normal, humano. O nascimento, portanto, da virgem podemos entender como sinal, como confirmação que Jesus veio do mistério de Deus.
Nem o termo “primogênito” (Lc 2,7) relacionado a Jesus, nem “os irmãos de Jesus” (Mt 13, 55; Mc 6,3) mencionados na Bíblia, não significam que Maria teve ainda outros filhos. “Primogênito” – é termo puramente legal, que sempre pertencia ao primeiro filho, não importando os outros filhos. (Não dizemos do primeiro filho, ainda hoje, que ele é que vai dar a continuidade a família?). Os termos “irmãos e irmãs” usava-se na língua hebraica também para os primos e primas – muitas vezes ligados com um grau muito distante de parentesco. Assim, por exemplo, dois dos mencionados em Mt 13, 55 “irmãos de Jesus” um pouco mais adiante, no Mt 27, 56, são chamados de filhos de outra Maria (compare Lc 24,10).
Mesmo o próprio fato que Jesus, antes da sua morte, confiou a sua mãe ao discípulo João (Jo 19, 27), é um testemunho contra a tese que Ele teria ainda outros irmãos ou irmãs. De acordo com a lei vigente naquela época, um parente esse estaria obrigado a cuidar da sua mãe.
Assunção ao Céu
Alguém agora pode perguntar: como se chegou a afirmar “Assunção de Maria”? Porque, como dogma, este fato foi proclamado somente o ano 1950...
Se a gente falar aqui de “Ascensão de Maria” – seria uma expressão não exata. Na linguagem da Igreja essa solenidade chama-se sempre de assumptio Mariae, quer dizer: Maria foi levada para o Céu.
Apenas no caso de Jesus Cristo dizemos de Ascensão, para dizer que Ele com o próprio poder voltou para lá, do onde veio. Porém, “Assunção de Maria” expressa que ela, como primeira dos seres humanos, com corpo e alma foi levada para o Céu, para participar da felicidade Divina.
Também Maria (como Cristo) passou pela morte, mas a morte não podia ter poder sobre ela. Por isso Maria experimentou, já antes, o que todos nós um dia esperamos experimentar: “a ressurreição do corpo e vida eterna”. Então, aqui aconteceu simplesmente a antecipação no tempo. Esta doutrina não se apoia nas lendas, que surgiram logo nos primeiros séculos da Igreja, a respeito da morte de Maria. Ela é consequência do dogma (verdade da fé) da Imaculada Conceição.
Se a Carta aos Romanos (5, 12) fala: “ [...] O pecado entrou no mundo como por um só homem, e pelo pecado, a morte, e assim a morte transmitiu-se a todos os homens naquele em quem todos pecaram”, então, em relação a Maria - livre de qualquer pecado, podemos dizer que essa lei não se aplica a Ela.
Na igreja em Wittenberg, entre o túmulo do Lutero e o púlpito, do qual o Lutero frequentemente fazia sermões, está afixado na parede um grande quadro de elevação ao Céu e coroação de Mãe de Deus. Ninguém, até agora, não se escandalizou com esse quadro. Ao lado da festa da Assumpção de Maria que, conforme as fontes existentes, já se celebrava com certeza desde o século V, esta é uma das importantes provas que elevação de Maria ao Céu (Assumpção de Maria), desde os tempos antigos era uma certeza geral da fé da Igreja.
O dogma não foi, portanto, criado para dar uma nova verdade da fé, mas justamente ao contrário: essa certeza secular foi expressa numa fórmula bem concreta, porque a Igreja sempre acreditava nesse fato.
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 333-334)²
Continua...
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¹ Ferdinand Krenzer é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.
² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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