Encerrando as reflexões sobre o tema da veneração de Maria e do culto aos Santos na religião Católica, Ferdinand Krenzer¹, por último, no texto abaixo, fala sobre o processo de canonização, e termina falando das relíquias, que no catolicismo, tradicionalmente, são consideradas de grande importância para os fiéis.
Para quem quer entender melhor esses assuntos e, talvez, dissipar as possíveis dúvidas, a leitura atenciosa desse texto será de grande ajuda.
Não deixe de ler.
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[Para aproveitar melhor as explicações, é aconselhável ler desde o início todas as postagens sobre este assunto (começo no dia 17 de maio de 2012: Sobre culto à Nossa Senhora e aos Santos na religião Católica).]
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Canonização.
Falando agora sobre os “Santos”, imediatamente pensamos nessas pessoas que a Igreja claramente reconheceu como santas. Na verdade, santo é todo ser humano que “vive em graça”. São Paulo em suas Cartas frequentemente chama os fiéis de “santos”. No “Credo” rezamos “creio na comunhão dos santos”, e pensamos imediatamente nessa ocasião sobre todas as pessoas ligadas a Deus, não importando se estão vivas ou se já morreram.
No entanto, o privilégio de elevação aos altares é de poucos. A honra e veneração prestada aos santos foi limitada pela canonização, a fim de não permitir que aconteça o culto aos mortos “por conta própria”, o culto aos antepassados, etc.
Quando, numa cerimônia na basílica de São Pedro, proclama-se algum santo, isto não significa logo que o papa determina sobre a “entrada para o Céu” dessa pessoa. Antes, significa que a partir desse momento pode-se honrá-la publicamente, porque ela está com Deus. Uma “inclusão” deste tipo de pessoa entre os Santos é antecipada por um processo que dura muitos anos (o processo de canonização), no qual investiga-se detalhadamente se realmente essa pessoa, apoiando-se na fé, realizou uma vida exemplar. Os novos santos recebem, segundo costume, um dia “fixo” no calendário dos Santos.
O costume de venerar os santos existe desde os primeiros séculos do cristianismo. Naquela época eles eram mártires. A Comunidade dos cristãos honrava os e pedia-lhes a sua intercessão junto a Deus.
No ano 156 os cristãos de Smyrna comunicam numa carta sobre o martírio do seu bispo, São Policarpo. Lemos nela: “Oramos a Cristo, porque Ele é o Filho de Deus. Os mártires , no entanto, amamos, como discípulos e seguidores do Senhor [...].” Ainda hoje existe uma recomendação da Igreja de fixar, durante a construção, dentro do altar sobre o qual serão celebradas Missas, as relíquias dos Santos. Esta tradição apoia-se no antigo costume dos primeiros cristãos, que celebravam a Missa sobre o túmulo do mártir.
Na carta dos cristãos de Smyrna, citada acima, assim diz sobre os restos mortais do seu bispo – mártir: “São eles para nós mais preciosos que as pedras preciosas, e mais amados que o ouro. Conservamo-los no lugar adequado; vamos nos unir nesse lugar para celebrar grandes festas e lembrar os aniversários do seu martírio”.
O primeiro santo que não foi mártir foi São Martinho do Tours. A primeira declaração oficial de um santo pela Igreja aconteceu no ano 993, e referia-se ao bispo Santo Ulrich de Augsburg.
No ano 1969 os jornais trouxeram uma notícia sensacional: “Os Santos foram liquidados!”. Era um desentendimento completo. Isso porque não foram “liquidados” nem Cristóvão, nem Cecília, nem Jorge ou Nicolau. Pode-se continuar a honrá-los e eles continuam no Calendário oficial dos Santos. Foram excluídos apenas do Calendário Litúrgico, quer dizer que naquele determinado dia a Igreja não vai usar o texto da Missa, que era para a festa desses Santos.
Uma mudança do Calendário Litúrgico acontecia de vez enquanto na história da Igreja. Com isso queria-se mais acentuar as festas do Senhor. Além disso, desta vez, era levada em consideração a internacionalização e a modernização do Calendário Litúrgico dos Santos, quer dizer, incluir nele os Santos dos últimos séculos e mais recentes.
Relíquias
É uma atitude muito humana valorizar e dar muita importância à tudo aquilo, que uma pessoa querida deixa ao partir. Deixa-se, então, preservados e intactos os lugares dos homens famosos, do jeito que foram deixados quando essas pessoas morreram.
Semelhantemente, alguém que ama carrega consigo, muitas vezes, alguma lembrança da pessoa amada, por exemplo, uma foto, um lenço, etc.
Porque, então, todas essas maneiras, tão profundamente humanas, que expressam a ligação, não poderiam servir também para ajudar a elevar os nossos pensamentos a Deus? É por isso que se cuida e protege tudo aquilo que ficou dos Santos. As mais preciosas relíquias (assim chamamos esses restos mortais e lembranças), são, certamente, aquelas, que tem alguma ligação com a pessoa do próprio Jesus Cristo – pensemos no santo sudário de Trewir, ou nos fragmentos da cruz de Jesus. Se todas essas coisas nos ajudam na oração, nos lembram de Deus e da Sua graça, que se revelou tão poderosamente nos santos que honramos, então, talvez, não seja tão essencial saber se diante dessa ou daquela relíquia temos a certeza absoluta da sua autenticidade. Em relação às relíquias antigas está muito difícil confirmar esse fato.
Em tudo isso, na verdade, não importa esse pedaço de tecido ou fragmento de osso, mas a pessoa que se honra e o exemplo da sua fé, e, em consequência, o próprio Deus.
Além disso, já a Bíblia diz que os fiéis tentavam tocar pelo menos a túnica de Jesus ou, depois, tocar na sombra do Pedro. E ninguém falou nada contra eles por causa disso. Mas já no tempo do imperador romano Carlos Magno (Séc. VIII), o monge beneditino Alkuino² disse: “É melhor no coração imitar os exemplos dos santos do que carregar no saquinho os seus ossos.”
Muitos não-católicos , quando se fala de relíquias, ficam preocupados e argumentam, que, talvez por causa disso, entre Deus e nós pode instalar-se algo humano demais. Mas, será que toda a Revelação e toda a Obra da Salvação não se apoiam na intermediação humana? A mensagem do Evangelho chega até nós unicamente através de outras pessoas numa Comunidade visível da Igreja; o próprio Cristo nos mostra este caminho. Pois, Ele se tornou homem e toda a salvação realiza-se graças a esse fato; através da Comunidade visível da Igreja, através dos sinais visíveis dos sacramentos. Deus conhece os seres humanos melhor do que nós conhecemos a nós mesmos. Ele sabe que nós não somos apenas espírito, mas que estamos ligados com todas as células da nossa corporeidade. Por isso encontra-nos através das coisas, que podemos experimentar. Será que não seria permitido para nós, humanos, com muita confiança continuar a andar nesse caminho, que o próprio Deus nos mostra? A Bíblia toda confirma isso.
Os Santos não ofuscam nem escurecem a imagem de Deus, ao contrário – mostram Deus melhor do que qualquer outra maneira. Cada santo é reflexo e brilho de Cristo; em cada um deles, como se Deus se tornasse novamente homem, pois alcança o que todo ser humano deveria ser, isto é “outro Cristo” (compare Cartas de São Paulo). A Santidade existe somente através de Cristo,a própria Maria reza no hino Magnificat (Lc 1, 46-55): “[...] grandes coisas fez em mim Poderoso”. E acrescenta: “Eis chamarão me bem aventurada todas as gerações”.
Por isso é bom acrescentar aqui a prece, que nós, católicos, dirigimos a Maria. A primeira parte desta oração é tomada do Evangelho e não acrescenta nada além da saudação, com a qual o anjo e a Elizabeth honram Maria (Lc 1, 28. 42). A segunda parte foi acrescentada pela Igreja, e nela pede a Maria que interceda por nós junto a Deus.
Ave-Maria, cheia de graça!
O Senhor é convosco.
Bendita sois vós entre as mulheres
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria Mãe de Deus,
rogai por nós pecadores
agora e na hora de nossa morte. Amém
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 340-342)³
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¹ Ferdinand Krenzer é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.
² Santo Alcuíno de York (735-804) foi um monge inglês beneditino, poeta, professor e sacerdote católico.
³ Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português). O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.
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