Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O drama do pecado (Gên cap. 3). É bom entender!


 Esta é a última reflexão do bloco de postagens sobre os três primeiros capítulos do Livro de Gêneses. Terminando as reflexões, o texto de Ferdinand Krenzer¹  traz, por fim, algumas valiosas explicações sobre a forma e o peso da expressão dramática do Relato bíblico sobre a queda do ser humano no pecado. Muita coisa torna-se mais compreensível.

Não deixe de ler.
WCejnog

[Para acompanhar com mais facilidade o raciocínio do autor e aproveitar melhor as explicações, é aconselhável  ler desde o início todas as postagens sobre este assunto (começo no dia 01 de maio de 2012: Relato Bíblico da Criação. Indagações para compreender).]

(7)
O drama da queda pecaminosa

A narração sobre como a serpente testou o homem, do ponto de vista psicológico, é uma obra de mestre.  A serpente faz o papel de tolo. Permite a ser instruída  pela mulher, perguntando: “É verdade que Deus vos disse 'não comais de nenhuma das árvores do jardim'?" (Gen 3,1). Exagerando imensamente a serpente provoca a mulher para protestar. Responde ela: “Do fruto das árvores do jardim podemos comer. Mas o fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos  disse 'não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário morrereis'." (Gen 3, 2-3). Nesta resposta já é perceptível uma leve dúvida a respeito da bondade divina.

Então a serpente seduz a Eva: “De modo algum morrereis” (Gen 3.4). Comam os frutos desta árvore! Deus não deseja que vocês sejam felizes! Quer manter vocês humilhados. Deus sabe: “(...) que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gen. 3,5). A serpente deforma a imagem de Deus que o homem possui: que Deus é este cuja posição pode ser ameaçada pelo homem? Os homens não querem mais depender de um Deus assim, tomam o seu destino nas suas mãos. Desta maneira, para cometer um ato – pecado – basta só um passo.
“O conhecimento do bem e do mal” no versículo 5 significa:  O homem sozinho, ele próprio, quer decidir o que é bom e o que é mal. Com isso coloca-se no lugar de Deus. O veneno da serpente atua dentro da alma de Eva: Deus parece para ela um ser distante, pouco simpático. Ao mesmo tempo os frutos da árvore proibida tornam-se mais desejados ainda. São eles de repente “gostosos, dóceis, desejados”. O estado de dúvida dentro da alma de Eva acabou. Vem o ato.  Sob aspecto psicológico, todas as partes desse ato foram muito bem elaboradas:  Eva viu, tomou, comeu, deu. Eva deu. Em seu ato ela não quer ficar solitária. Por isso uma parte do fruto também deu ao Adão. Também  ele comeu. Eva, que ia ser a auxiliar e companheira dele, torna-se  tentadora.  Aconteceu então o cisma entre Deus e homem. Veio a catástrofe!   O homem saiu da comunhão com Deus. Estava-se escondendo dele. Deus, no entanto, chamou o homem para a responsabilidade.

O primeiro homem e a primeira mulher perceberam que estavam nus. Isto é um símbolo ilustrativo. Não fala ele do estado físico nem de estrutura sexual do homem. Na base desse símbolo existe um jogo de palavras. A serpente prometeu: sereis “arum” = sábios, possuidores de conhecimento e do poder (Gen 3,5). Depois de cometer o ato, o pecado, Adão e Eva perceberam que se tornaram “arom” = nus, pobres, medrosos, sem força e poder (Gen  3,10).

A palavra  “nu” pretende expressar a perda da proteção e a fragilidade do pecador, que – sem nenhuma proteção – ficará submetido a ação de todas as forças perversas. O pecado nunca poderá trazer o bem ("arum”) ao homem; o pecado sempre fará do homem um  miserável (“arom”), e o  levará à perdição.

O pecado leva a distanciar-se de Deus. Também leva ao desentendimento  entre os homens. O homem culpa a mulher, a mulher joga a culpa para a serpente, que a seduziu com a sua fascinante força de influência. Culpa-se o próprio milagre da natureza, e com isso o próprio Deus (Gen 3,12-13). O castigo também é  adequado ao pecado. A serpente,  como símbolo de fecundidade, sendo apresentada no Oriente na posição vertical, vai ter que  de agora adiante rastejar-se sobre seu ventre, e comer pó todos os dias da sua vida. Assim acabou mesmo todo o esplendor da sua força.

A mulher é castigada pelo homem. Deseja ela o homem e o amor verdadeiro. Vai ser, no entanto, por ele explorada, escravizada e abaixada a nível de objeto.  O castigo também alcança a mulher na sua vocação materna: com  os sofrimentos da gravidez, em meio de dores dará à luz filhos  (Gen 3,16).

O homem será castigado pela terra. A terra  será maldita por causa dele. Tudo que ele fizer cumprindo a sua tarefa de dominar o mundo, vai trazer para ele, invés a felicidade,  ao mesmo tempo sofrimento, dificuldades e dor. Contra ele se colocarão as forças da natureza. Tudo o que consegue com trabalho e suor, se despedaçará em suas mãos. Sua vida difícil terá um fim – a morte (Gen 3,17-19).

A pena mais pesada para os homens aguentarem consistirá, no entanto,  em expulsão do paraíso.  Se o paraíso significa uma intensa comunhão vital do homem com Deus, a expulsão do paraíso significa a sua perda.

Chegamos então a conclusão, que o “Relato da criação e da queda do homem no pecado”  é uma exposição de verdades teológicas com a ajuda dos contos épicos.

Temos aqui, sobretudo, três grandes abordagens temáticas:  a criação de tudo que existe por Deus; o início do mal no mundo, em consequência do mau uso pelo homem da sua liberdade, e, por fim, a questão quem é o homem.     

O homem, criado à imagem de Deus, já no início da sua existência rebela-se contra a vontade de Deus, e deste jeito arruína a harmonia da criação.  Deus ‘vira as costas’ para ele, mas não para sempre. Não deixa o homem ao esmo de sua fraqueza e de sua dolorosa e ardente solidão.

No Proto-Evangelho, a primeira Boa Nova, Deus promete ao homem caído e expulso um Salvador:  "Porei  inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu Descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gên 3.15).

Assim fica evidente aqui a direção da futura história: é uma história de salvação. Deus conduz o seu povo para a salvação, que está chegando na pessoa de Jesus Cristo.

(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 214-216)²
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¹Ferdinand Krenzer  é um teólogo católico alemão, pastor, aposentado e escritor.
²Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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